19 Maio 2024, Domingo

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É preciso mudar este mundo

É preciso mudar este mundo

É preciso mudar este mundo

E depois mudar este mundo mudado! Disse há umas décadas um famoso filósofo. Nunca uma expressão foi tão oportuna como nos nossos dias. E o nosso povo sente esta necessidade de mudança, duma mudança radical, nas nossas maneiras de viver, de nos organizarmos política e socialmente, nos nossos objetivos de vida e até nos nossos anseios e sonhos!
E digo isto com uma total convicção porque o nosso povo o disse nas comemorações do 25 de Abril. E não foi por declarações de uma qualquer autoridade num discurso ou numa declaração, com a pressão dos persistentes jornalistas com os seus microfones em cima, durante o dia 25 de Abril cujo cinquentenário estamos comemorando.
A sessão da Assembleia da República foi bonita e solene e bem decorada com os tradicionais cravos encarnados. Os convidados foram muitos e bem escolhidos não faltando os representantes dos governos das nossas ex-colónias, os soldados que restam vivos após estes cinquenta anos, e até uma família dum dos mortos à porta da sede da PIDE. E, evidentemente, as autoridades que sempre se convidam nestas reuniões solenes sem esquecer ex-presidentes da República com especial notoriedade para o General Eanes.
E houve as tracionais cerimónias militares de todos os ramos, do nosso Exército e Marinha, enquanto nos céus a nossa Força Aérea fazia as suas exibições. Houve mesmo uma reposição das próprias viaturas, reparadas e brilhando, utilizadas pelos capitães de Abril. E tudo numa reposição fílmica de grande rigor e de muitos fragmentos de documentários de várias origens nos ecrãs das nossas televisões. Penso que continuaremos com as comemorações até ao fim do ano, sempre tendo em fundo as canções da época, proibidas pela PIDE, de Zeca Afonso, Fanhais, Adriano e outros. Comemorações da nossa “revolução dos cravos” que encantou o mundo e principalmente porque nos deu esse bem precioso que é a liberdade. Então porque pusemos a esta crónica o título “é preciso mudar este mundo”?
Meus queridos leitores vivi os quarenta anos de ditadura, sofri o peso da censura e as perseguições da PIDE (pois tenho 96 anos de idade) e vivi a alegria do famoso golpe dos capitães, as perturbações do “verão quente”, o golpe dos paraquedistas e o contra-golpe sob o comando de Eanes, e há cinquenta anos que participo nos festejos, ano após ano, da chegada da liberdade e da Democracia ao nosso País.
Mas, meus queridos leitores, nunca vi a Av. Da Liberdade totalmente apinhada – onde não cabia um alfinete – como este ano. E bem sei que todos os anos uns milhares de pessoas descem a Avenida, é uma verdadeira tradição descer a Av. Da Liberdade! Mas nunca vi uma avenida tão repleta de gente que quase não podiam andar por falta de espaço! Que se passou este ano? O que levou tanta gente a ir este ano á descida da Av. Da Liberdade? E quando as câmaras das televisões faziam aproximações víamos toda a gente sorrindo de alegria até adversários políticos. E naquela “mole de gente”, compacta talvez não houvesse um milhar de pessoas que tivessem vivenciado a ditadura. O que levou tanta gente àquela marcha? Entendo que naquele desfile se juntou – ao lado da alegria do que se festejava – um sentimento de que algo vai mal nas nossas vidas de sociedade e nos objetivos que vêm orientando as pessoas que nos governam.
Sabemos que o mundo está á beira duma guerra total e arrasadora e que (dizem os cientistas) as regras da Natureza estão tão alteradas pela ganância dos homens que poderá ser inabitável daqui a quarenta ou cinquenta anos – mas aquela gente que encheu a Av. da Liberdade este ano não estavam ali por medo! A sua motivação era de alegria evidente. Só há uma razão, mesmo inconsciente – sente-se a necessidade de mudar de paradigma de vida. Aquela concentração de tanta gente – e alegre – significa que ao celebrarem uma revolução, um processo de mudança, sentiam dentro de si precisamente esse desejo duma mudança. “O povo é quem mais ordena”, o povo sabe que vive em democracia, o povo sabe – direi melhor – sente, que é necessário mudar os nossos objetivos, as nossas organizações, as doutrinas pelas quais nos regemos – dá vontade de gritar como faziam os estudantes em Paris em 1968, “a imaginação ao poder!”.
Não foi em vão que aquela multidão afluiu à Av. Da Liberdade no passado dia 25 de Abril!
Dá para pensar! Dá para pensar e sentir essa realidade de que o mundo tem mesmo algo para mudar e seguir novos rumos e objetivos. Como? Sente-se no coração das pessoas, sente-se no coração em especial da nossa juventude.
Aquela multidão, alegre e efusiva é um sinal! Que outra explicação se pode dar?

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