Desde dia 10 de Março que todos procuram o que não têm e querem o que não podem. O PS procura no bolso o deputado que lhe dê a vitória. A AD sem o “N” perdeu votos importantes, como quem dá por falta das chaves quando vai abrir o carro. O Chega encontrou o deputado do PS e tem as chaves da AD, mas não tem carta. A IL não quer ser pendura e a esquerda não aceita que AD conduza sob efeito de interjeições.
No Montijo há quem tenha e possa tudo, acham que podem enfiar todos os partidos juntos e baralhados no mesmo saco, sem se distinguirem. Só importa que eles são os donos da Direita e vão ganhar de certeza (o quê? Logo se vê!). Ser dono de um espaço político, é o mesmo que comprar um terreno em avos: não sabemos o que é nosso, nem quanto e não temos nada.
É claro, escrevo sobre a coligação que João Afonso deseja a “ADEGA” (PSD+Chega). O presidente do PSD Montijo adiantou-se aos deputados, à Distrital e aos militantes do Montijo que ainda podem escolher outro PSD antes das autárquicas. E a cereja no topo do bolo foi a ultrapassagem pela “direita” ao Primeiro-Ministro. Um truque clássico de João Afonso, que corre para a imprensa, como a criança que chega primeiro à professora para fazer queixinhas, pois pensa que falar primeiro é estar certo.
Não quero juntar mais uma voz à turba de histéricos, rasgar as vestes no meio do choro e ranger os dentes. O eleitorado do Chega não é radioativo nem tem lepra, é um eleitorado como os outros, mas o PSD não pode seguir a lógica do “não consegues vencê-los junta-te a eles”. Esta tentativa revela apenas desespero e necessidade de recuperar terreno perdido. É com tristeza que, como militante do PSD, vejo a Política transformada em Matemática.
A ligeireza com que se “compra” milhares de votos é reveladora de quem se considera proprietário dos eleitores que nele votaram. Quem é que disse que os dois eleitorados são compatíveis e que é só somá-los? Quem é que disse que os votos em legislativas se transferem para autárquicas?
Ao mostrar publicamente saber fazer contas de somar, esqueceu-se que a Política não é só Matemática. Primeiro, cada eleição é única, e segundo, ninguém fica com os votos no bolso. Não nos esqueçamos que o Chega ficou à frente do PSD nas legislativas no Montijo – assim, na lógica de João Afonso, será que o cabeça de lista deve ser indicado pelo Chega?
Este foi mais um tiro ao PSD, que não surpreende quando se falta a toda a campanha eleitoral e quando se mantém o “Quinta às 10” em dia de debate no Cineteatro Joaquim de Almeida. Salazar é que disse, mas é João Afonso que vive “orgulhosamente só”.
A posição de João Afonso não é consensual no Montijo, a começar por mim. Esta manobra só revela a falta de confiança que tem no PSD: comporta-se como se fosse um privilégio tê-lo como candidato. O Vereador sabe que o tempo está a esgotar-se, esta é a sua última oportunidade, mas começa a pagar os erros do passado – por isso quer os votos do Chega – para não ser recordado como o vereador Danoninho, a quem faltou um bocadinho.
O que retiro desta manobra tática é: João Afonso achou que era o momento ideal para iniciar o leilão dos votos à Direita e fez o primeiro lance. Assim, pensa que poderá compensar os votos que perdeu com anos de purga no PSD, mas não é com tacticismo e coligações baratas que lá chega. Pelo contrário, demonstra que no n.º 23 da Praça da República o bem comum foi substituído pela obsessão pessoal de um homem só.