19 Maio 2024, Domingo

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Vivemos em Democracia, mas façamos por merecê-la

Vivemos em Democracia, mas façamos por merecê-la

Vivemos em Democracia, mas façamos por merecê-la

Começo com a poesia de Maria Teresa Horta, jornalista, escritora e poeta: «Deixo que a palavra / tão incerta / teça / a liberdade a meio / deste Abril / para que a memória em Portugal não esqueça / tomando da flor / o cravo na matriz / teimando que a paixão / a tudo vença / dizendo não àquilo / que não quis»

Hoje comemoramos os 50 anos do 25 de Abril de 1974. Por isso, é com muito orgulho que presido a esta sessão solene.

50 anos passados após a Revolução que nos restituiu o bem mais precioso que as sociedades e os cidadãos têm  ̶  a Liberdade ̶ e ainda há tanto por fazer, projectar e construir. Se é verdade que o nosso concelho em pouco se assemelha ao que existia em 1974, muito falta ainda fazer. Se é verdade que nunca estará tudo feito, no concelho e no país, mas é preciso saber se o que ainda está por fazer é aceitável, se é o que sempre faltará fazer em todo o tempo ou se nos deixámos ficar demasiado para trás. Acho que nos deixámos ficar demasiado para trás em muitos aspectos, precisamente nos aparentemente mais fáceis de fazer, mas que mais impactos têm no viver diário dos munícipes.

Até agora, a comemoração do 25 de Abril, quer na data em si, quer nas referências avulsas que se lhe fez em diversas ocasiões, tem variado entre o tom laudatório e grandiloquente das tiradas retóricas de congratulação da data e o anúncio de muitas promessas e obras que têm demorado demasiado tempo ou não se têm concretizado.

Nem a importância que os Portugueses têm, reiteradamente, dado ao 25 de Abril, confirmada nas três últimas sondagens do ICS/ISCTE, «Os portugueses e o 25 de Abril», têm mudado a forma de o comemorar e dele falar. Na divulgada na passada 6.ª feira, 65% dos inquiridos elegem a data como a mais importante da História de Portugal, havendo um aumento desta opinião face às duas anteriores. Em 2004 eram 52% e na de 2014 foram 59%. Por aqui pareceria que estávamos no bom caminho.

Nestas sondagens, têm sido as mulheres, os inquiridos com mais de 44 anos e os que vivem com maiores dificuldades que revelaram maior propensão para escolher a data como a mais importante.

Sobre a questão «Como devia passar à história o 25 de Abril?», mais de metade diz que teve consequências mais positivas do que negativas, mas observa-se «um aumento gradual» da proporção de inquiridos que considera que teve consequências tão positivas como negativas, ideia partilhada, atualmente, por cerca de um terço dos inquiridos.

Estes resultados devem fazer-nos refletir sobre o que temos feito do 25 de Abril. E haverá eleições autárquicas em 2015.

Vivemos em Democracia, digamo-lo de viva voz e sem receios, mas façamos por merecê-la. Não podemos ficar à espera de que algo aconteça de nefasto, de tal forma que, quando quisermos impedir que novas tiranias nos oprimam, nos lembremos de que é em Democracia que se luta por ela.

Nos 50 anos de Abril, uma palavra de apreço, merecida, mas fundamentalmente uma palavra de Liberdade para as mulheres. Hoje, em liberdade, discursam, aderem a causas, correm riscos, sofrem incompreensões e injúrias, por vezes agressões, mas lutam, sempre, pela sua emancipação, pela educação e pela liberdade. Aqui recordo, também, todas as mulheres com vidas de luta e de resistência pela Liberdade, tantas vezes esquecidas pela história, mas que sempre estiveram presentes em momentos únicos e decisivos.

E como está este Portugal 50 anos depois de 1974? Nuno Palma, professor da Universidade de Manchester, no seu livro «As causas do atraso português», diz-nos que «quase todas as análises ao estado do país feitas na praça pública pecam por miopia…» acrescentando, contudo, que «a falta de consciência critica de grande parte [das pessoas] é também uma consequência do nosso atraso», o que nos conduz à falta de sentido critico com que, muitas vezes, nos confrontamos no dia a dia. O contraditório tem de fazer parte das nossas vidas. Não um contraditório apenas para contrariar, mas que crie capacidade de comparar, refletir, pensar e tomar decisões.

No final de 2023 tínhamos as contas certas, a população empregada em máximos históricos, o salário mínimo, comparado com 2015, aumentado em mais de 50%, o menor abandono escolar de que há registo, os processos judiciais pendentes em metade, mais portugueses acima do limiar da pobreza, menos emigrantes e o dobro da imigração, mas tínhamos, também, mais portugueses sem médico de família e um investimento publico que tardava em arrancar definitivamente.

Aos jovens, sempre aos jovens, os já hoje netos de Abril que aqui intervieram, precisamos de os deixar participar, de os chamar a fruir, e acima de tudo, de os envolver em decisões que contribuam para a sua vida e para o seu bem-estar.

Uma Assembleia Municipal de Jovens em Palmela poderia ser o mote para que algo diferente acontecesse. Hoje, 50 anos depois de 1974, quando quase não nos lembramos de que havia livros, filmes e canções proibidos ou censurados, e que a liberdade de expressão não existia, isto dito desta forma aos jovens, muitos não conseguem abarcar a real dimensão da situação e a natureza do regime.

A Liberdade deve ter como limite a nossa imaginação, e é com ela que poderemos navegar numa nuvem de idealismo que, embora moderada, combata a resignação e tenha a pluralidade e a diversidade como motes.

A Liberdade não existe para enfadar, mas para transformar. Há que a deixá-la fruir. As políticas concelhias têm também de integrar a vida dos munícipes, não se podem afastar dela.

A Liberdade, associada à responsabilidade e integridade onde cidadania e participação estão presentes e onde a exigência e a excelência marcam pontos, reflectem, em cada um de nós, um pendor onde curiosidade, reflexão e inovação que deverão estar presentes.

Viver antes e depois de Abril de 1974 faz toda a diferença.

A Liberdade exige de nós reflexão, mas, principalmente, ação. Agir para transformar e melhorar a vida de todos e de todas. Esse deverá ser o contributo que cada um de nós, eleitos, mas também dos representantes de grupos, associações, diferentes instituições e coletividades aqui presentes, a quem reitero o meu agradecimento.

A imagem dos carros de combate e das espingardas que há 50 anos dispararam cravos e vontade de mudança, impelem-nos a que estejamos conscientes de que o caminho tem de ser percorrido, eventualmente com sobressaltos, mas sem cair na letargia que a ocupação dos diversos poderes acaba por instalar e instituir.

25 de Abril, sempre! Viva a democracia autárquica! Viva o concelho de Palmela!

 

Adaptação, pelo próprio, do discurso proferido pelo presidente da Assembleia Municipal de Palmela na sessão solene dos 50 anos do 25 de Abril

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