10 Maio 2024, Sexta-feira

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Parqueamento pago e transportes públicos gratuitos

Parqueamento pago e transportes públicos gratuitos

Parqueamento pago e transportes públicos gratuitos

Com a emergência dos problemas ambientais, nomeadamente os relacionados com as alterações climáticas, torna-se hoje absolutamente consensual a urgência da introdução de dinâmicas de descarbonização que pressuponham uma diminuição drástica do uso de energias fósseis, substituindo-as por energias limpas e de maior eficácia energética.
Este é o caminho da neutralidade carbónica que passa também pela necessidade de alterar o paradigma dos transportes, intervindo nas políticas de acessibilidade e mobilidade nas nossas cidades. Para isso já estamos a trabalhar activamente na retirada dos carros dos centros das cidades, melhorando a rede de transportes públicos, privilegiando modos de transporte mais eficazes como o comboio ou mais suaves como as bicicletas.
Em Setúbal, e na gestão autárquica deste problema, seria importante nesta altura afinar melhor a estratégia municipal em curso, de modo a garantir que todas as pessoas, nomeadamente as que vivem nos bairros mais periféricos possam deslocar-se à Baixa ou circular pela cidade em tempo e conforto razoável. Para isso há que melhorar, e em muito a qualidade e a atractibilidade do serviço da actual rede de transportes públicos da Carris Metropolitana em Setúbal.
Sobre isto, muito já foi dito e também há consenso.
Foi este contexto que a Câmara de Setúbal resolveu introduzir na cidade, duma forma exaustiva e avassaladora o parqueamento pago. Se não contestamos o princípio (retirar carros do centro) já a metodologia de aplicação parece-nos bastante exagerada e algo discriminatória.
Tal como na aplicação de portagens nas autoestradas obriga a que haja outras alternativas, também o parqueamento urbano pago deve obrigar a que se criem alternativas para aqueles que não podem ou não querem pagar para estacionar.
Ora a experiência diz-nos que, se os cidadãos não tiverem uma alternativa razoável continuarão a deslocar-se por transporte próprio, e assim o número de carros no centro irá continuar a aumentar. Isto será uma perversão do sistema já que aumenta as receitas do município, mas em nada contribui para as questões ambientais.
É bom acrescentar que, para os utentes casuais, os preços praticados nos transportes públicos em Setúbal também não ajudam em nada esta opção. Por exemplo; um casal de moradores do Viso que precise de ir à Baixa, terá que comprar 4 pré-comprados que lhe custam 5 euros. Por outro lado, mesmo pagando o parqueamento, a opção viatura própria apresenta-se como algo vantajosa e sem precisar de estar um tempo infinito à espera dum autocarro.
E não é essa a intenção. Ou é?
Para tornar os transportes públicos mais atractivos, como a primeira opção e aquela que sempre se nos apresenta natural, única e indiscutível, então os transportes públicos urbanos de passageiros em Setúbal devem ser mais eficazes e gratuitos para os utilizadores, competindo favoravelmente com a opção viatura própria mais estacionamento pago.
Para quem estiver mais atento as estas questões, isto nem será uma grande inovação, já que a gratuitidade dos transportes públicos é hoje uma questão premente em muitas cidades. Como o são as ciclovias, para as quais a autarquia também deverá dar uma atenção especial.
A implementação dos transportes públicos gratuitos em Setúbal é urgente e deve ter data marcada. Claro que deveria ter sido simultâneo e acompanhar o parqueamento pago. Como isso não aconteceu, é agora altura da Câmara Municipal de Setúbal o inscrever e acomodar no seu orçamento para 2024, no sentido de iniciar o processo de tornar os transportes públicos urbanos gratuitos e assim justificar a dimensão ecológica das medidas que tomou, para facilitar aos cidadãos a acessibilidade e mobilidade em toda uma cidade que se quer sem muros nem ameias.

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