É uma experiência comum para a maioria de nós que, com o avançar da idade, as comemorações dos aniversários já não tenham o sabor de antigamente.
Quando nos aproximamos do 50.º aniversário do 25 de Abril, já no próximo ano, não podemos deixar que o mesmo aconteça com a comemoração da data fundadora do nosso regime democrático.
Comemorar o 25 de Abril é ainda mais importante hoje do que era há 10, 20 ou 30 anos, porque as novas gerações não viveram em ditadura nem a grande transformação do País a que o 25 de Abril abriu caminho nas décadas de 70, 80 e 90.
Não há nada de inevitável nas conquistas de Abril. Não são dados adquiridos. Elas foram conquistas porque, precisamente, havia quem não partilhasse os valores que as sustentaram.
Por todo o mundo, incluindo na Europa, assiste-se a um certo enamoramento pela simplicidade dos regimes autoritários. As democracias liberais são, pela sua natureza, mais complexas, caóticas, contraditórias.
É mais confortável a paz podre dos homens providenciais. Muito deste deslumbramento acontece porque se esquece, ou nunca se viveu, a experiência do Estado Novo. Quando as eleições eram uma farsa em que só participavam alguns. Quando a censura cortava pela raiz até o desejo da livre expressão.
Quando as mulheres não tinham liberdade nem sequer para viajar sozinhas. Quando só os filhos dos ricos podiam estudar. Quando as autarquias não tinham poderes e eram meros postos avançados do governo. Mas não tenhamos ilusões: há também quem tenha vivido em ditadura e sinta saudades dela exactamente porque era assim.
E há quem renegue esses tempos, mas que diga que o 25 de Abril não serviu de nada porque não vivemos numa sociedade perfeita. Não vivemos, de facto, numa sociedade perfeita, mas a evolução faz-se no sentido do futuro, não do passado.
E o que temos de melhorar – em desenvolvimento económico, em justiça social, em serviço aos cidadãos – nada tem a ver com o que o que foi ganho com o 25 de Abril. O que temos e devemos melhorar é nossa responsabilidade e das novas gerações.
Esquecer ou desmerecer que ganhámos com o 25 de Abril – que são valores de dignidade, humanidade, de civilização – é que nunca podemos deixar que aconteça. Por isso, quase meio século depois, comemorar o 25 de Abril, com alegria e convicção, continua e continuará a fazer sentido. 25 de Abril, Sempre!