9 Maio 2024, Quinta-feira

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O papel da imprensa local e regional

O papel da imprensa local e regional

O papel da imprensa local e regional

Em Portugal, o discurso grandiloquente das entidades públicas sobre a imprensa local e regional contrasta com um vazio existencial de reconhecimento e consideração por estes órgãos de comunicação social.
Todavia, ainda recentemente, um estudo promovido pela Associação de Imprensa Não Diária referia que os jornais regionais passaram a ser mais lidos do que os diários nacionais em todos os distritos de Portugal, excluindo Lisboa e Porto.
E não se pense que a imprensa regional e local é, apenas, lida por gente pouco letrada. Segundo um relatório de Janeiro de 2017 da OBERCOM (Investigação e Saber em Comunicação) 31,6% dos leitores de jornais regionais impressos possuem bacharelato e 16,5% um grau de mestrado ou doutoramento.
Alguns autarcas e governantes nacionais, em linha com os periódicos catalogados de grande referência, minimizam, apoucam e desvalorizam o papel da imprensa local e regional.
O distrito de Setúbal contar hoje com um diário regional e impresso é um “luxo”, que devia orgulhar todos aqueles que exercem funções públicas regionais e locais. Afinal são muito poucos os distritos com diários regionais no país, o equivalente a menos de 20 títulos em todo o território nacional (2,5% da imprensa regional).
Muitos autarcas desvalorizam a imprensa local e regional e têm vindo a apostar nos boletins municipais, esquecendo que a credibilidade da mensagem é muito mais conseguida em órgãos independentes do que nos veículos oficiais.
Alguns autarcas tentam condicionar a liberdade de expressão, confundindo liberdade e pluralismo com autoritarismo e ditadura democrática, mas os jornalistas e directores tudo devem fazer para estabelecer um equilíbrio entre o exercício livre do jornalismo e a necessidade de garantir a sustentabilidade financeira. Os poderes públicos, se fossem mais informados e inteligentes, seriam os primeiros a tudo fazer para garantir a sustentabilidade financeira destes órgãos de comunicação.
Os jornais intitulados “de província” são fruto de um intenso trabalho e empenho de profissionais ou não apostados em fazer uma informação honesta, isenta e sem recurso à especulação e ao “politicamente correcto”.
Não obstante a aprovação em 1988 (decreto-lei 106/88 de 31 de Março) do Estatuto da Imprensa Regional, os poderes públicos continuam, no geral, a não dar à imprensa local e regional a relevância pública que merecem.
Não podemos esquecer que a asfixia da imprensa local e regional constitui uma ameaça para a democracia e um constrangimento à afirmação dos costumes, da cultura, dos valores e das tradições locais e regionais.
Nesse sentido, a Administração Central, as agências de comunicação, as centrais de compra, os tribunais, as finanças deviam canalizar muito mais os seus anúncios institucionais para a imprensa local e regional: Os jornais nacionais têm sido favorecidos em relação à imprensa regional, quando esta tem uma tiragem largamente superior àquela. Estudos continuados indicam que os índices de leitura da imprensa local e regional têm sido subavaliados, estimando-se que cerca de 50% da população tem por hábito ler este tipo de publicações.
Também as empresas deviam acarinhar muito mais a imprensa local e regional, na verdade é esta que gera emprego regional e local, dinamiza a economia e desempenha um papel relevante em termos sociais e culturais.
A diversificação das fontes de publicidade é determinante para a imprensa local e regional garantir uma maior independência editorial face, principalmente, aos poderes políticos.
Um povo só consegue lutar pelos seus direitos se os conhecer. E, neste momento, de crises, turbulência e mudança em todo o mundo, a necessidade de informação de qualidade nunca foi tão importante, daí a necessidade de um ambiente amigo para a liberdade de imprensa, bem como de sistemas que funcionem bem para garantir o direito de saber das pessoas.
Há 250 anos, a primeira legislação formal sobre o direito à informação foi promulgada, na região onde actualmente estão localizadas a Suécia e a Finlândia. Um avanço histórico naquela época, que serve de inspiração para, hoje, exigirmos uma comunicação livre e plural e uma imprensa local e regional com independência, liberdade e condições para exercer livremente o seu papel de informar.

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