9 Maio 2024, Quinta-feira

- PUB -
Henrique Freire: “Nasci e sou de direita, mas reconheço o trabalho que é feito pelo executivo CDU”

Henrique Freire: “Nasci e sou de direita, mas reconheço o trabalho que é feito pelo executivo CDU”

Henrique Freire: “Nasci e sou de direita, mas reconheço o trabalho que é feito pelo executivo CDU”

O autarca eleito pelo Chega, que se desvinculou do partido e passou a independente, diz ter sido desafiado por PS e PSD para uma “coligação negativa” que deixasse a CDU em minoria no executivo. Elogia a capacidade da gestão comunista e defende a sua posição: “Disse sempre que estaria pelo concelho e pela população”

 

Entrou para a vereação da Câmara Municipal eleito pelo Chega em 2021, desvinculou-se do partido e acabou ao lado da gestão CDU com o pelouro da Fiscalização Municipal e a responsabilidade sobre o Gabinete de Contraordenações. Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, Henrique Freire, 52 anos, afirma que a oposição (PS e PSD) não tem capacidade para gerir, presentemente, a “máquina bem oleada e funcional” montada pela CDU.

“A CDU é um executivo que trabalha de forma preocupada e que pensa no futuro, na população, pensa na forma como gere aquilo que propõe. Basta ver que o Seixal é um dos concelhos mais escolhidos, mais procurados, para se viver”, justifica. Diz que não aceitou constituir uma “maioria negativa” com PS e PSD, no arranque do mandato, defende que o hospital é necessário mas, tal como o vereador Bruno Vasconcelos, considera que não existem recursos humanos para fazer funcionar o futuro equipamento e considera o Campo de Tiro de Alcochete como a melhor localização para o aeroporto. E deixa o seu futuro político, que não passa pelo Chega, em aberto.

Bruno Vasconcelos, vereador do PSD, diz que o executivo municipal é sustentado pelo PCP e pelo Chega. Revê-se nesta afirmação?

Não. As coisas não funcionam nem foram dessa forma. Quando eu aceitei o pelouro já estava desvinculado do Chega há um ano. E foi porque achei que estavam reunidas as condições para o fazer, são duas áreas que conheço, sou funcionário da autarquia há 27 anos. O PSD e o PS, na altura, achavam que o Chega poderia acompanhá-los na oposição. Quem sairia beneficiado? O PS e o PSD, que se serviriam do sentido de voto do eleito pelo Chega para conseguirem fazer eles a gestão da Câmara, quando não ganharam as eleições.

O que está a dizer é que houve uma tentativa de coligação de “maioria negativa”, por parte de PS e PSD consigo?

Sim. Aquilo que o vereador Bruno Vasconcelos diz é no sentido de tentar beliscar o partido Chega, com o qual já não tenho nada a ver. O Chega é uma coisa, o Henrique Freire é outra. Não há orçamentos perfeitos, a CDU terá um orçamento maioritariamente bom, que protege e serve as populações. Penso no concelho, sou filho do Seixal, não de nascimento mas por ter vindo muito cedo para o concelho. Conhecendo a gestão da Câmara há muitos anos, dei um voto de confiança ao primeiro orçamento, através de abstenção, que foi contra a decisão do partido [Chega].

Acaba por ser o fiel da balança face à correlação de forças no executivo. Sente-se refém de votar ao lado da CDU por ter recebido responsabilidades governativas?

Não estou refém. O meu sentido de voto foi normalmente a favor ou de abstenção. Tenho conhecimento de como funciona a autarquia. Neste momento, a CDU é um executivo que trabalha de forma preocupada e que pensa no futuro, na população, pensa na forma como gere aquilo que propõe, aquilo com que quer presentear as populações. Basta ver que é um dos concelhos mais escolhidos, mais procurados, para se viver. Faltam poucas coisas ao concelho do Seixal. Os partidos que vão concorrer nas próximas autárquicas vão apresentar propostas pontuais, porque o executivo CDU, que gere o concelho desde o 25 de Abril, tem completado um “puzzle” para que o concelho seja cada vez melhor para se viver. Nasci de direita, sou de direita, mas reconheço o trabalho que é feito.

O que levou a desvincular-se do Chega?

A desobediência a uma ordem directa do presidente do partido, André Ventura, que achou que era impensável eu acompanhar ou permitir que o orçamento da CDU passasse. Mas, ao votar contra o orçamento da CDU iria dar armas, instrumentos de oposição ao PS e ao PSD. O Chega seria sempre a muleta da oposição. Tentei ser justo na minha tomada de posição em relação ao que era proposto pela CDU. Este executivo CDU trabalha muito para que não seja beliscado nas reuniões de câmara. Qualquer partido que venha um dia a ganhar a Câmara [à CDU], vai ficar muito complicado, porque [esta] é uma máquina muito complicada de se manter oleada e a funcionar. Há câmaras aqui à volta que andam ainda a trocar os cargos de adjuntos e secretários, porque não conseguem manter alguma da qualidade. Não quer dizer que o PS, o PSD e o Chega não venham a ter um dia a capacidade de gerir, mas neste momento…

Vai votar na CDU nas próximas autárquicas?

Nasci de direita, sou de direita e é por aqui que vou continuar.

Concorda com a não atribuição de um assessor aos partidos da oposição sem pelouro, como critica o vereador do PSD?

O vereador Bruno Vasconcelos e os vereadores do PS terão as suas razões. Na altura tentei também para mim a atribuição de um adjunto (assessor não existe aqui) e não consegui, porque a lei é bem clara. Uma coisa é um vereador com pelouros, que tem direito a um adjunto, secretário, administrativo. Mas em relação a não se ter pelouros a lei não especifica que o executivo possa permitir.

Não obriga, mas também não proíbe.

Há uma proibição relativa. Há casos, em autarquias, de adjuntos que tiveram de devolver o vencimento por essa situação.

Na maioria das autarquias encontramos a “atribuição” de uma pessoa de apoio aos vereadores sem pelouros. Não acha que no Seixal o processo sairia mais reforçado do ponto de vista democrático?

A lei diz que sem pelouro não há direito, será uma opção camarária e um risco para quem permitir que isso aconteça.

Acha que o eleitorado do Seixal compreenderá como um eleito que nasce pela direita, se afirma de direita, aceite estar a governar ao lado da esquerda, neste caso com a CDU?

Uma pergunta complicada e complexa. Aquilo que, na realidade, interessa à população do Seixal é a melhoria das condições de vida. Aquilo que disse sempre é que estaria pelo concelho e pela população do Seixal. […] O programa que o Chega apresentou para a Câmara do Seixal foi através de ideias dos munícipes em relação ao que se poderia melhorar. Muitas delas são iguais às que o PS e o PSD têm e que a CDU tinha. As nossas propostas diluíam-se nas outras [dos outros partidos]. No geral as propostas são muito idênticas e a CDU tem estado a tentar pô-las em prática.

Que nota dá à gestão CDU, de 0 a 10?

Há coisas que poderiam ser melhoradas, mas no geral dou um 7. A CDU com os anos tem melhorado bastante o concelho. Moro no concelho desde os 7 anos, tenho 52, e não me vejo a morar noutro concelho.

Quais são as principais preocupações neste momento?

São as acessibilidades, a mobilidade. Algumas dependem da autarquia, e estão em curso, e outras dependem da Infraestruturas de Portugal. A estrada para Sesimbra está um pouco esquecida pela Infraestruturas de Portugal, a autarquia tem insistido constantemente, mas não há resposta. É um caos ir para Fernão Ferro e voltar todos os dias. Em relação ao resto, não há orçamentos milagrosos nem perfeitos. Todos os partidos têm legitimidade para quererem marcar a diferença, os eleitores é que vão escolher. Têm uma força política [Chega] que vai entrar em grande [nas próximas autárquicas], na minha perspectiva vamos ter uma câmara com muita dificuldade em ser governada. Vai estar muito dividida.

Que avaliação faz à área que está sob a sua alçada?

Fui fiscal durante muitos anos e depois passei para as contraordenações. Por conhecer a forma de funcionamento da fiscalização e por ter sido um crítico de alguns procedimentos e forma de trabalhar, assim que pude mudei algumas coisas e tentei tornar o trabalho da Divisão de Fiscalização mais dinâmico, mais próximo da população, ajudando os munícipes antes de poderem vir a ter algum problema contraordenacional. O Gabinete de Contraordenação é um trabalho diferente, que tem muito a ver com os prazos, o facilitar o cumprimento com o despachar de alguns procedimentos. Penso que estou a cumprir com as expectativas e o “feedback” que vou tendo é de que as coisas estão a funcionar.

O Seixal é o terceiro município no País mais adiantado ao nível de financiamento do PRR para a habitação. Como classifica o problema da habitação no concelho e o trabalho desenvolvido pelo executivo?

Nenhuma autarquia deste País conseguiria, sem o PRR, ter um processo de realojamento de um número de famílias, umas centenas largas de famílias, como o dos bairros de Vale Chícharos (Jamaica) e Rio Judeu. Foi um processo bem pensado para evitar guetos, evitar mais bairros sociais, e a integração, colocação, destas famílias no meio das freguesias foi o melhor método para que as coisas funcionem. É um bom exemplo da gestão CDU.

Como vê o processo do hospital do Seixal que teima em não sair do papel?

Partilho daquilo que o vereador Bruno Vasconcelos disse. O hospital do Seixal é importantíssimo, é uma necessidade, mas vai ser equipado, em termos de mão de obra, com quem? Sabemos que há falta de médicos, enfermeiros, técnicos em áreas específicas e para termos um hospital, que é necessário, temos de ter mão de obra e especialistas. Não há! Se os hospitais que existem estão carentes de recursos humanos para um bom funcionamento, como podemos pôr um hospital a funcionar. Terá de ser o Governo a criar formas atractivas para que os jovens médicos, enfermeiros, técnicos, fiquem nos hospitais públicos e não migrem para os privados.

Mas quando se fala na construção de um hospital é óbvio que englobará a afectação de recursos humanos. Não é uma falsa questão para justificar o adiamento?

Mas o adiamento não é baseado na falta de recursos humanos. A complexidade para a construção do hospital já passou por uma panóplia de impedimentos, foram financeiros, foram de arquitectura, foram de localização… Na minha opinião, o hospital do Seixal não existe por falta de vontade governamental.

Com a mudança de Governo, acredita que pode ser construído e acha ou não que deve ser já no imediato, tendo em conta que aludiu à impossibilidade de colocar o hospital a funcionar por falta de profissionais?

Não deixo de ter essa dúvida. Se este Governo decidisse construir já o hospital, que é uma necessidade, isso levaria a que criasse também os instrumentos certos para que o pudesse preencher de mão de obra.

Também acompanha Bruno Vasconcelos quando diz que o que está projectado para o Seixal é um “hospitalzinho”, apenas como suporte ao Garcia de Orta?

Penso que os projectos que existiram acompanhavam as populações [em número] da margem sul. Claro que, com a população a crescer no Seixal, como já cresceu, Sesimbra, Barreiro, terá de se fazer um novo projecto para o hospital. Porque terá de acompanhar o crescimento da população. Não podemos fazer um hospital a pensar no dia de hoje, sem pensar no dia de amanhã.

Quer dizer que não tem grande fé neste projecto que está em cima da mesa?

Quando os governos querem, as coisas fazem-se. Quem é que vai contrariar a construção do hospital, se este Governo decidir: ‘vamos andar para a frente com a construção, temos um prazo para fazer um projecto de arquitectura, acrescentar daqui… mudar completamente’? São coisas que não levam assim tanto tempo, quando se quer fazer.

Que localização defende para o futuro aeroporto: Campo de Tiro de Alcochete ou Vendas Novas?

Campo de Tiro de Alcochete.

Vai voltar a candidatar-se no Seixal, a porta do Chega está fechada de vez ou admite integrar listas de um outro partido, até mesmo avançar com uma candidatura independente?

O Chega é um porta fechada dos dois lados. Por outro partido não tenho qualquer ideia de o fazer. Como independente poderá acontecer ou não, mas neste momento não tenho rigorosamente nada pensado.

Partilhe esta notícia
- PUB -

Notícias Relacionadas

- PUB -
- PUB -