9 Maio 2024, Quinta-feira

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Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte IX): Homenagem aos cantautores de Abril

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte IX): Homenagem aos cantautores de Abril

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte IX): Homenagem aos cantautores de Abril

A Arte serve para nos alargar a mente, obrigar a pensar, a reflectir sobre nós próprios, sobre os outros, sobre as sociedades em que vivemos.
Pintura, Escultura, Música, Literatura, Dança, Arquitectura e Cinema são as suas múltiplas formas possíveis de, através da sua fruição, procurarmos ter sociedades mais justas, mais pensantes.
Mais exigentes.
Antes de mais com nós próprios.
Hoje vamos falar de uma das suas vertentes que a mim e a muitos de nós diz intensamente: a Música.
Etimologicamente a música deriva do greco antico mousikḗ, “arte das Musas”, correspondendo a arte de idealizar e produzir, mediante o uso de instrumentos e/ou da voz, sucessões estruturadas de sons simples ou complexos que podem variar através da altura, da intensidade e do timbre, organizadas segundo as dimensões de melodia, harmonia e ritmo.
A Música constitui um dos aspectos culturais universais de todas as sociedades humanas.
A Música serve também para atingir a paz e o estado de relaxamento e de meditação, a render fresca e luminosa a mente e a procurar conectar-se com o transcendente.
A Música atinge o ser humano como um todo.
Todas as ditaduras a temem, sabendo de antemão da sua perigosidade, da capacidade única que possui em penetrar nas mentes, nas consciências, nas emoções, de forma tanto insidiosa, como irreversível.
O regime do Estado Novo não era excepção; temia a Música, motivo pelo qual o seu lápis azul se movia inexoravelmente para procurar acantonar e circunscrever as mentes. E as músicas.
Todavia, a música é como areia que procuramos segurar com as mãos; escapa-se sempre, por muito que a tentemos suster.
A Música de intervenção ajudou a colocar o “asfalto” que permitiu que o 25 de Abril chegasse de rompante.
Nesta ocasião que homenageamos o 25 de Abril, os cantautores de Abril assumem uma importância acrescida.
Adriano Correia de Oliveira, António Portugal, Brigada Vítor Jara, Fausto, Francisco Fanhais, Francisco Naia, Janita Salomé, José Afonso, José Mário Branco, Júlio Pereira, Luís Cília, Manuel Freire, Pedro Barroso, Sérgio Godinho e tantos outros, foram absolutamente determinantes.
A eles devemos a tomada de consciência, sobretudo das gerações de portugueses que nasceram a partir dos anos quarenta.
Para mim, uma das músicas mais emblemáticas e importantes é a “Trova do Vento que Passa”, com letra de Manuel Alegre e música de António Portugal e Adriano Correia de Oliveira, editada em 1963.

“Pergunto ao vento que passa, Notícias do meu país, E o vento cala a desgraça, O vento nada me diz, O vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam, Tanto sonho à flor das águas, E os rios não me sossegam, Levam sonhos deixam mágoas.

Ai rios do meu país, Minha pátria à flor das águas, Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas, Pede notícias e diz, Ao trevo de quatro folhas, Que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa, Por que vai de olhos no chão. Silêncio — é tudo o que tem, Quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos, Direitos e ao céu voltados. E a quem gosta de ter amos, Vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada, Ninguém diz nada de novo. Vi minha pátria pregada, Nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem, Dos rios que vão pró mar, Como quem ama a viagem, Mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir, (Minha pátria à flor das águas), Vi minha pátria florir
(Verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada, E fale pátria em teu nome. Eu vi-te crucificada
Nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada, Só o silêncio persiste. Vi minha pátria parada
à Beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo, Se notícias vou pedindo, Nas mãos vazias do povo, Vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro, Dos homens do meu país. Peço notícias ao vento
E o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo, Liberdade quatro sílabas. Não sabem ler é verdade, Aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia, Dentro da própria desgraça. Há sempre alguém que semeia, Canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste, Em tempo de servidão, Há sempre alguém que resiste, Há sempre alguém que diz não.”

Muito, muito bonito.

Estas e outras músicas foram a antecâmara do 25 de Abril.

Fica aqui uma singela homenagem aos cantautores de Abril.

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