9 Maio 2024, Quinta-feira

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Benedita Formosinho: A designer de moda setubalense que já vestiu Cristina Ferreira

Benedita Formosinho: A designer de moda setubalense que já vestiu Cristina Ferreira

Benedita Formosinho: A designer de moda setubalense que já vestiu Cristina Ferreira

Aos 28 anos, Benedita Formosinho tem uma marca de moda própria, com atelier na Baixa de Setúbal e ambição para chegar aos quatro cantos do mundo. Sempre com a cidade no coração e a natureza em pano de fundo

 

Benedita Formosinho chega ao seu atelier, vizinho da Casa da Cultura, uns minutos antes de o relógio marcar as dez da manhã. À hora certa abre a porta de vidro, ajusta os estores e nesse momento a luz natural inunda o pequeno espaço onde passa muitas horas do seu tempo. É assim todas as manhãs desde que a jovem setubalense inaugurou o espaço em nome próprio, na Baixa de Setúbal, fez em Maio quatro anos.

As janelas do chão ao tecto funcionam como montra, permitindo a quem passa na rua aproximar-se e ver as peças de roupa expostas, mas também o trabalho que a designer de moda realiza, ali mesmo, sentada num banco alto, numa mesa com tampo de vidro. Sendo a zona central do atelier o epicentro do processo criativo, é possível parecer desarrumada, com folhas, papéis e bocados de tecidos sobrepostos.

“É aqui que tudo acontece e quando o sol bate, para criar, é perfeito”, conta a jovem, preparando-se para dedicar uns minutos de conversa à reportagem d’ O SETUBALENSE. Presença discreta é a do Pantufa, um beagle dócil que gosta de roer objectos e de se deitar debaixo de outra mesa de trabalho. “De vez em quando trago-o para o atelier”, justifica. A cadela Vicky completa a família canina.

Benedita Formosinho tem 28 anos e é a mais velha de três irmãos. Fala com orgulho e desenvoltura do trabalho que desenvolve e revela-se bastante humilde, por um lado, e lisonjeada por outro, ao perceber que, nesta fase da carreira, é já uma inspiração para outros tantos jovens e “pessoas formadas na área da Moda”, que até já lhe pediram oportunidades para estagiar no atelier. Mas, afinal, qual foi o início deste percurso?

“A minha mãe é bióloga, doutorada em Microbiologia e sempre trabalhou na área; e o meu pai é chefe de vendas de automóveis há muitos anos. Talvez o meu gosto pelas artes tenha vindo da minha mãe, pois ela sempre gostou de restaurar móveis, pintar e conjugar peças de roupa”, conta. Por outro lado, o facto de as avós materna e paterna serem costureiras também pode ter tido “influência” nos gostos em criança.

Afinal, brincava enquanto via a avó materna a costurar. “Os meus pais dizem que pode estar nos genes”. “Não tenho aquela história de ser pequenina e fazer roupa para as bonecas. Simplesmente gostava muito da parte artística, de desenhar objectos e fazer artes manuais, mas não necessariamente roupa. Nunca pensei, propriamente, em ser designer de moda. Foi uma coisa que foi acontecendo aos poucos, de forma natural”.

Entre desenhar roupas e paisagens à vista – passatempo que lhe permitia “relaxar” e “treinar a técnica” – e perceber que gostava de desenhar as próprias roupas, foi um passo curto. A escolha da área de Artes para seguir os estudos no 10.º ano “foi pacífica”, lembra. “Os meus pais sempre me apoiaram, apesar de ser uma área incerta e instável, e nessa altura eu ainda não tinha noção de que queria seguir Design de Moda”.

Quando se candidatou ao ensino superior, Benedita Formosinho escolheu o curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. “Arrisquei um bocado, mas nas primeiras semanas na faculdade senti que estava a fazer o que gostava. Estudei Desenho, Artes, Geometria Descritiva, História de Arte e percebi que quando estudamos e trabalhamos naquilo que gostamos estamos no sítio certo”.

Após a licenciatura, estagiou no atelier de Ricardo Preto, um dos seus “designers portugueses favoritos”. Foi uma época de aprendizagem em contexto real de trabalho e em que pôde preparar desfiles, entrar no universo da ModaLisboa, fazer desenhos técnicos e styling de peças (conjugação de peças para um look). A jovem passou ainda pelo atelier de uma figurinista, onde descobriu que não se identificava com essa área.

A criação da marca

A ideia de criar uma marca própria e de arranjar um espaço começou, então, a ganhar força, ainda que Benedita considerasse que não era o momento certo. “Nessa altura eu já desenhava as minhas peças, comprava tecidos, punha-me a costurar e conseguia vender as peças numa loja em Lisboa, mas tinha receio. Queria estruturar melhor as coisas”, conta a O SETUBALENSE. A mãe foi quem a encorajou a dar o passo.

“O meu quarto era o meu atelier, tinha uma cama, um chariot e uma secretária”, descreve a jovem, entre sorrisos, sentada no atelier que acabou por encontrar na Baixa. Foi ali que apresentou uma primeira colecção “com muita cor e muito poucas quantidades”, confeccionada com a ajuda de algumas costureiras de Setúbal. Com o tempo e a experiência, a palete colorida foi dando espaço natural aos tons claros e crus.

“Gosto de me inspirar em criações artísticas como quadros, em formas da natureza e de explorar formas geométricas, e acho que isso acaba por se reflectir nas peças, muito rectas, com assimetrias e contrastes de materiais. Tudo com um estilo muito minimalista. Não ando propriamente à procura da inspiração, até porque há dias em que não surge nada e outros dias em que acordo cheio de ideias para apontar”, confessa.

São peças “minimalistas e intemporais” pela escolha dos materiais, do design e dos tons, explica. No fundo, peças que se conseguem conjugar bem com outras que as pessoas já têm no guarda-roupa. “Os tons crus já fazem parte da marca”, acredita Benedita, e de facto basta dar uma vista de olhos pela loja para perceber que quase nenhumas divergem dessa paleta, à excepção das da colecção-cápsula que lançou.

“São peças em preto obtido com tingimento natural, que fiz com um atelier de Lisboa. Não dá para fazer em grande escala, porque é um processo manual muito demorado”, explica. Isto porque produzir roupas escuras é “muito pouco amigo do ambiente”. Adoptando políticas de diminuição do impacto ambiental da indústria da Moda, Benedita Formosinho começou a privilegiar o uso de fibras naturais como linho, algodão e burel.

A noção de sustentabilidade acompanha-a em tudo o que faz, sobretudo quando se desloca às fábricas no Norte do país para escolher os tecidos para as suas peças – muitas vezes, acaba por comprar tecidos excedentes de outras grandes produções. Gerir as redes sociais, responder a emails, embalar encomendas, gerir stocks e dar seguimento à produção são outras das tarefas que ocupam o seu dia-a-dia de empresária, com a mãe a ajudá-la a tempo inteiro.

O trabalho dedicado e talentoso tem dado frutos. Em 2020, foi um dos 10 jovens criadores seleccionados para integrar o desfile Sangue Novo da ModaLisboa, que destaca anualmente os criadores emergentes nesta área. Outro dos motivos de satisfação é poder dizer que a Cristina Ferreira já vestiu peças por si desenhadas, na televisão e nas redes sociais. A par disso, são já muitas as actrizes e influencers que a procuram.

O próximo passo é apostar na internacionalização da marca, que já tem peças à venda no Canadá, Áustria, Alemanha e França. “É um caminho que leva tempo”, reconhece Benedita, mas que já tem como estratégia “participar em mais feiras internacionais, para chegar a novos públicos, aumentar a produção e as vendas”. E, aos poucos, representar Setúbal além-fronteiras, na área da moda, como uma jovem designer bem-sucedida.

Benedita Formosinho à queima-roupa

Idade: 28 anos
Naturalidade: Setúbal
Residência: Setúbal
Área: Design de Moda

“Nunca pensei em ser designer de moda. Foi acontecendo aos poucos, de
forma natural”

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