Ao fazer arrumos nas “toneladas” de papel que escrevi e guardei, para manifestar as minhas opiniões nos jornais cá da nossa cidade, dei com um artigo de Maria de Lurdes Pintassilgo, com este título: “Despertou de novo passado anos”. Pois, mais do que nunca tal declaração é atual e urgente.
O mundo e as nossas sociedades têm evoluído e sofrido grandes transformações, nas nossas maneiras de reagir, nas constantes mudanças ao receber noticias na hora e recorrendo em segundos a informações atualizadas (basta pensar na utilização da Inteligência Artificial nos múltiplos campos das nossas vidas). Pintasilgo era uma mente brilhante e com grande capacidade de antecipação.
Poucas pessoas se estarão a aperceber de que nos Estados Unidos da América se está processando uma mudança radical: Vários anteriores Presidentes dos EUA declaravam a América como um polo de atração para todos aqueles que quisessem participar na construção dum País novo, caminhando para um futuro progressista. Para alguns dos ainda recentes Presidentes, a América atraía migrantes para o progresso e, no entender deles, não havia propriamente um conjunto de características de ser americano – a Democracia, o progresso e a Liberdade eram pilares essenciais do ser americano. E hoje temos não só um candidato a Presidente que vocifera contra os migrantes, caminhando numa onda contra estes e tentando definir o americano como uma pessoa bem caracterizada – branca, é essencial – e racista. É preciso notar que não é apenas a maneira de pensar dum dos candidatos, mas que está nascendo uma onda racista e pouco ou nada defensora dos princípios democráticos. Para estes “é preciso mudar a democracia”. Mas Pintasilgo, há mais de duas décadas, falava na necessidade de caminhar na organização das sociedades para o bem, para o trabalho coletivo, da necessidade de nos entreajudarmos, de trabalharmos como um coletivo e não como hoje, em que três quartos do mundo se repelem, se dominam uns aos outros e pior, se agridem uns aos outros. Se Pintasilgo escrevesse hoje sobre a Democracia, daria como título ao artigo, não que é necessário mudar a Democracia mas – e com letras maiúsculas: “A Democracia está a mudar e muita gente já nem sabe o que isso é”. Discute-se muito, vendem-se milhões em bombas e põem-se limites quanto à distância ao seu uso!
Não há dúvidas, é preciso reinventar a Democracia, se ainda tivermos tempo para tal e que ninguém num ato de ira carregue no botão que liberta as armas atómicas. Ainda só foram lançadas duas, que mataram centenas de milhares de pessoas e foi na outra guerra. E os aviadores que lançaram a primeira, ao saberem o resultado, um suicidou-se e outro foi para um convento.
Haverá tempo para mudar a Democracia?
E os homens de hoje têm ainda uma consciência para reagirem como os dois aviadores do “Enola Gay” – era o nome do avião que transportou a primeira bomba atómica, que devia ser um brinquedo ao lado das atuais, após o progresso vertiginoso das ciências!