27 Abril 2024, Sábado
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Bravo senhor bispo

Ouvi há dias uma longa entrevista do nosso novo bispo, na RTP e – confesso – adorei!
Eu levo mais de setenta anos dedicando alguma habilidade que tenho para escrever as minhas ideias nos jornais da nossa terra proclamando a exigência de – como cristão – a “obrigação” de lutar contra o domínio do capital sobre o trabalho que tanto enobrece e dignifica o ser humano – qualquer ser humano! E, com a chegada do Cónego João Alves para preparar esta região pastoral para ser Diocese, fui, por ele indigitado para dirigir o jornal Notícias de Setúbal, propriedade da Igreja. E foi uma luta permanente com o censor do regime ditatorial em que vivíamos nessa época. João XXIII convoca o Concilio Vaticano II e os seus documentos eram igualmente cortados pelo Capitão Almeida – o censor. Acontecia que mesmo depois da alvorada da Liberdade trazida pelo golpe militar de 25 de Abril, esta intervenção política de alguns cristãos não era bem vista pela maioria dos cristãos – leigos e mesmo a maioria do clero, que entendiam que a participação política não fosse assunto para cristãos.
Com a vinda do nosso primeiro Bispo – Manuel Martins – o jornal foi suspenso por intervenção de alguns sacerdotes. O nosso primeiro Bispo, além das esmolinhas, teve uma imensa preocupação com os problemas sociais desta região, participando até em movimentos reivindicativos dos trabalhadores na mesma linha política de intervenção social. Foi rapidamente apelidado de Bispo Vermelho e a sua tentativa de criar uma Assembleia Diocesana democraticamente constituída, foi abandonada por pressão do clero e até da própria Conferência Episcopal da época.
O nosso primeiro Bispo e um conjunto de cristãos mais ativos que constituíam a Comissão Justiça e Paz, foram sempre mal aceites por considerarem que estas preocupações com a vida real das pessoas independentemente de serem “praticantes” (como era uso dizer-se) ou não, era considerada ação política!
Sucedem-se no Vaticano, S. João Paulo II um dos papados mais longo e mais viajado que agitava especialmente a juventude mas que tinha a seu lado um defensor da ortodoxia da Fé que não admitia uma “teologia da Libertação” e suspendeu vários sacerdotes e teólogos que tentavam “modernizar “a nossa Igreja. Sucede na “Cadeira de Pedro” Bento XVI que resigna, mostrando que ser Papa era um serviço e não uma escolha dos cardeais até à sua morte.
E segue-lhe um cardeal argentino, moldado pela Teologia da Libertação que rapidamente assume uma intenção de provocar uma verdadeira revolução… da ternura, como Ele lhe chama e convoca um Sínodo, não apenas para Bispos, mas para ouvir o “povo de Deus”, os homens e… as mulheres sempre tão mal tratadas pela Igreja. E só fala de Amor, de ouvir os “ gritos “dos pobres e dos centrifugados para as periferias pelo sistema social que se foi desenvolvendo no Mundo, e até os “gritos” da Terra.
E, talvez pela primeira vez, um Papa diz que “a política era uma das melhores formas da caridade”! E a primeira fase do Sínodo é minuciosamente preparada com reuniões das bases (as paróquias), depois das dioceses, dos países, dos continentes, até Roma ao fim de quatro anos. E as conclusões regressam às bases e haverá no fim deste ano de 2024 a conclusão do Sínodo, donde sairá uma Igreja renovada e atualizada a um mundo que evoluiu e se transformou duma maneira extraordinária. E os cristãos não estão fora deste mundo e devem ser colaboradores ativos de tais mudanças… e isto inclui uma atividade política, participativa, onde devem ter um papel preponderante para remediar (será ainda possível?) este mundo à beira duma guerra total, de imensas divisões entre ricos e pobres, com uma obediência ao “Deus Cifrão”, que só os crentes num Deus do Amor poderão combater.
Ora ouvi o nosso atual Bispo, na tal entrevista na RTP ,defender duma maneira brilhante e convicta, a “obrigação” dos cristãos da sua Diocese – Setúbal – participarem no processo eleitoral que se avizinha.
Não posso deixar de gritar: “Bravo, Sr. Bispo!”
Com quase cem anos de idade e mais de setenta de cristão senti uma tremenda alegria que não posso deixar de tornar pública.

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