8 Maio 2024, Quarta-feira

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Um agredido. Um agressor.

Um agredido. Um agressor.

Um agredido. Um agressor.

A defesa dos Direitos Humanos não admite adversativas. Todavia, se o nosso humanismo é feito de uma mescla de razão e coração, a primordial palavra a escrever sobre a agressão de inominável crueldade, perpetrada pela Federação Rússia na invasão à Ucrânia, deve ser destinada às mães que na maternidade de Mariupol, entre escombros de betão e brumas de desespero, continuaram a trazer luz a um mundo cada vez mais tenebroso.

Depois destas, todas as letras devem ser encaminhadas aos familiares dos militares tombados na batalha pela autodeterminação e integridade do seu País;  a todos quantos ignorantes e vítimas das mentiras do seu próprio ditador foram destacados para agredir e morrer; às mulheres que viram o dia internacional em sua homenagem trocar flores por bombas e bilhetes ferroviários de separação para parte incerta; à diáspora ucraniana que desfeita em espanto e medo mergulhou na dor pelo horror em redor das suas raízes e, num gesto de profundo egoísmo deste autor, à pequena Amélia, de não mais de 6 anos que, numa cripta improvisada para abrigar os civis interpretou num russo, paradoxalmente perfeito, o hino da famigerada séria da Disney “Frozen”, cuja minha própria filha interpreta, sob a segurança do meu tecto, na sua tradução portuguesa de “Já passou”. Por fim, mas não menos relevante, há uma palavra para reservar a todos os russos que, não sendo ativa ou negligentemente responsáveis, são hoje vítimas de discriminação internacional por uma guerra à qual, tal como a vastíssima maioria de nós, também se opõem.

Adiante. Com o respeito possível, é embaraçoso testemunhar a perplexidade naïve de tantos quantos se questionam sobre a “improbabilidade do terror se impor em pleno Século XXI?”. Resta-me a dúvida prosaica se desconhecem que Myanmar, o Afeganistão, o Iémen, a Eritreia e o Sudão – para não ir mais longe – coexistem nos mesmo tempo cronológico que Kyiv ou se, ainda mais surpreendentemente, ignoram os milhões de anos de história que nos confirmam, para lá de qualquer dúvida razoável, que a Paz é a exceção politicamente construída à violência primordial que, invariavelmente, nos carateriza com espécie.

Findando por aqui a dimensão emocional, e porque o mundo não é feito de absolutos pretos e brancos, é indispensável impor um pouco de razão geopolítica nesta horrenda invasão. Para tal, socorro-me das posições insuspeitas do Professor de Ciência Política, John Mearsheimer, da Universidade de Chicago que, com 7 anos de antecedência, e apesar amarrado ao seu raciocínio americo-cêntrico, previu com elevadíssimo acerto as consequências da política internacional ocidental no antigo bloco de Leste. Numa aula aberta, disponível no Youtube, que recomendo a todos os leitores.

 

Por fim, para além da emoção e da ciência política, existe nos posicionamentos partidários algo que pela perplexidade merece referência: a incapacidade de testemunhar o óbvio.

Para além de qualquer contexto ou ideologia: Existe um agressor e um agredido. Existe um invasor e um invadido e isto ninguém se atreve a questionar, certo? Errado. O PCP de Jerónimo de Sousa não admite tão pouco o vocábulo invasão. Em rigor, e respeito pela verdade, os comunistas Portugueses não gostam de Putin, mas são incapazes de se desligar da URSS, pela importância que desempenhou no internacionalismo da sua ação, no Século XX.

Não obstante o contexto histórico que justifica a posição do Partido Comunista Português, e algum oportunismo dos Venturas e Salvinis desta vida, que apenas há poucos meses despiram as camisolas e os bolsos do Vladimir Vladimirovich Putin que ostentavam nas redes sociais, o caminho traçado pelo PCP é um embaraço e colossal passo para a irrelevância política.

Sobre Setúbal e o seu Presidente André Martins, é tudo isto e mais a confirmação da máxima de que a primeira vítima da Guerra é a verdade. Face a um PSD que afirma de manhã e se desmente à noite, fez bem o PS em respeitosamente não embarcar em exigências pouco democráticas. As ilações deveria ser o próprio a tomar.

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