27 Abril 2024, Sábado
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500 palavras: Matilde Rosa Araújo entre a verdade e a redenção (1)

Em 1943, surgia “A Garrana”, título de Matilde Rosa Araújo (1921-2010), primeiro prémio do concurso “Procura-se Novelista!”, organizado pelo “Século Ilustrado” e pelo Rádio Club Português, sob patrocínio do Grémio Nacional dos Editores e Livreiros. A história conta a vida solitária e desprezada de Garrana, mulher de um contrabandista, a quem retiraram os filhos depois de ter matado o marido, que, desesperado, quis morrer após ter levado um tiro na acção de contrabando a que se dedicava na zona raiana. Depois de cumprir a pena, voltou à aldeia, vivendo sozinha e ouvindo o insulto da criançada apelidando-a de “bruxa”, justamente a ela, que fora “a moça mais linda da terra”.

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Matilde Rosa Araújo pensava na escrita jornalística, lá onde a narrativa literária e a reportagem se deixam contaminar. Com efeito, em 1946, concluía a tese de licenciatura em Letras sob o título “A reportagem como género – Génese do jornalismo através do constante histórico-literário”, trabalho que rompeu o horizonte de expectativas no meio jornalístico, como denotava o entusiasmo da primeira página do jornal “República”, em 28 de Julho de 1946, no seu longo título: “Caso raro – Pela primeira vez na nossa Faculdade de Letras se defende uma tese sobre reportagem e jornalismo e foi uma senhora que a defendeu, obtendo alta classificação”.

No ano seguinte, em 1947, Matilde publicaria “Estrada sem nome” (Portugália), conjunto de uma dezena de contos, em alguns deles retomando a vida da raia e do contrabando, em todos eles perpassando vidas difíceis resultantes de alterações das vidas das personagens.

O aparecimento de “Estrada sem nome” teve a necessária repercussão na imprensa, com Matilde Rosa Araújo a dizer o que entendia como sendo a missão da literatura. Foi no “Século Ilustrado”, de 19 de Abril de 1947, que o assunto veio à tona, naturalmente com referência ao tempo que se vivia, o pós-guerra, situação que passava por uma reaprendizagem do que era viver e para a qual a literatura deveria contribuir – “Neste rescaldo trágico da guerra, a literatura vai tomar o único rumo possível em arte: o da verdade! Verdade e redenção! E, para dar a verdade, não é preciso dizer: olhai! Basta estremecer com a brisa como a folha cansada.”

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Na entrevista, Matilde avança com a sua (curta) experiência de escritora, assumindo-se como uma contadora de vidas: “O que me interessa é o lado fluido da vida no desejo intenso de a viver.” E, mais adiante: “Às vezes, vou na rua e uma vida toca-me como um chamamento. Passa um dia, depois esqueço. Mas outro dia vem em que a mesma vida fala dentro de mim e me faz contar.”

Logo após a conclusão da licenciatura, Matilde Rosa Araújo trabalhava já na organização de “Estrada sem nome”, que vinha a ser construído havia dois anos. Redacção de novos contos, publicação de alguns em revistas e hesitações na escolha de editor foram ocupando a jovem escritora de 25 anos.

Na Arrábida, Sebastião da Gama lia-a e aconselhava – foi ele um dos primeiros leitores dos contos deste livro, tal como percebemos em carta de 14 de Agosto de 1944 que Matilde escreve para a Arrábida – tinha acabado de publicar o conto “História de um cão”, o texto que abre “Estrada sem nome”, envia-o para Sebastião e pede: “Que acha? Seja sincero pois não há nada para nos ajudar a formar a nossa auto-opinião e formação como o juízo de pessoas literariamente conscientes. (…) Tenho mais novelas para publicar e não me esquecerei de si.”.

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