8 Maio 2024, Quarta-feira

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Abracem a imprevisibilidade

Abracem a imprevisibilidade

Abracem a imprevisibilidade

Uma coisa que tenho vindo a perceber, nos últimos tempos, é que vivemos numa época de imprevisibilidade. E as pessoas andam loucas e ensandecidas em busca de garantias, ocupadas a tentar construir cenários onde essa imprevisibilidade seja anulada. No entanto, constatam que não é possível; é como se tivéssemos um saco com água, roto, e tapássemos o buraco e, logo após, surgisse outro buraco e, por sua vez, tapássemos esse buraco também, mas surgisse outro e assim sucessivamente…

Seria de esperar que se desistisse. Mas não.
Não, porque para a maioria de nós, não se trata de um saco com água, mas de um bote salva-vidas. E a água não sai, entra, e é salgada; e desistir é impossível, porque desistir é deixar bote afundar e aceitar a morte…

No entanto, ninguém sabe se a água contra a qual lutamos tem pouco mais de meio metro de profundidade; não sabemos, mas concebemos que se trata de uma profundeza abissal.

Olhem para o nosso mundo. Tudo muda. Aquilo que era, já não é. As coisas que se pensavam de uma determinada maneira, afinal são de outra. E não estou a falar só de coisas rotineiras: a ciência, todos os dias, chega a conclusões surpreendentes que põem em causa outras coisas; a economia e a finança espantam-nos, porque desafiam as previsões, os modelos. E que dizer do clima; e da Terra que treme?

Não. Não vou discutir as razões para isso, nem as justificações que a humanidade encontra para explicar a situação, porque isso – na realidade – não interessa. O que interessa é o que se está a passar. E o que se está a passar é que a Era da Imprevisibilidade chegou.

Todavia, a imprevisibilidade sempre existiu; nunca nos deixou de assombrar desde o princípio dos tempos. E, em tudo o que fizemos até agora, sempre existiu uma certa imprevisibilidade; chamámos-lhe azar ou sorte. Então, o que se passa agora?
O que se passa agora, é que com o passar o tempo, a Sorte e o Azar materializaram-se; e até se criaram jogos com base neles. E com isto, criou-se a ilusão de que a Imprevisibilidade era controlável…

Além disso, a nossa evolução tecnológica criou ritmos tão frenéticos, ritmos em que até milésimas de segundo importam, que o controlo da imprevisibilidade ganhou proporções imensas, pois nestes ritmos as imprevisibilidades podem ser catastróficas.

E com tudo isto, a humanidade achou que dominara a Imprevisibilidade. E, como em tudo o que é da Natureza, chegou a hora da verdade: a imprevisibilidade faz parte do universo e do seu equilíbrio. Este é o momento de abraçar a imprevisibilidade e aceitá-la pelo que ela é, porque ela é imprevisível…

Por isso, vocês aí no bote… Sim! Vocês que estão numa azáfama doida a tentar evitar que o bote afunde e não estão a conseguir. Deixem de achar que sabem, só porque água é escura, fria e salgada, que abaixo de vocês está uma profundeza abissal… Talvez não esteja.
Abracem a imprevisibilidade.

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