9 Maio 2024, Quinta-feira

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“Estamos a construir novas instalações no Monte Belo mas a junta nunca deixará de estar aqui”

“Estamos a construir novas instalações no Monte Belo mas a junta nunca deixará de estar aqui”

“Estamos a construir novas instalações no Monte Belo mas a junta nunca deixará de estar aqui”

As novas oficinas, nas traseiras da Escola D. João II, ficam prontas já em Março. Depois serão construídos um auditório e a nova sede. As actuais instalações ficam como delegação e salas para a comunidade

 

A cumprir o segundo mandato como presidente eleito na Junta de Freguesia de S. Sebastião, Nuno Costa pode ainda recandidatar-se uma vez. Fala de muito trabalho a desenvolver ainda, defende a Câmara, tanto no investimento na freguesia como na instalação da Avenida Álvaro Cunhal. Mostra empenho em “dar vida” aos jardins e bairros, elogia o programa “bonito” na Bela Vista, e foge às questões mais delicadas, como a utilidade da esquadra. “É prematuro” falar disso, assim como da sucessão na Câmara de Setúbal.

 

 

 

Que balanço faz deste início de mandato?

 

Muito positivo tendo em conta o cumprimento do programa, em que estamos numa fase avançada, e a avaliação coletiva que o executivo faz. Para além do trabalho corrente, que é prioridade, como a requalificação do espaço público e a mobilidade, definimos dois grandes avanços para o início deste mandato. Um era ajustar a capacidade operacional à evolução da delegação de competências e, em 2018, cumprimos esse objetivo com o início da construção de novas instalações para o sector operacional, e com a compra de mais uma carrinha de caixa aberta para tornarmos todas as equipas autónomas. Um investimento volumoso que está feito. Outro objetivo, em fase muito avançada, é a melhoria do serviço administrativo, para servir muito melhor os fregueses. Vamos ter muitos serviços online, como atestados, licenças de cães, e muitos outros, além de novo horário e pagamentos por referências multibanco.

A estratégia passa pela valorização do território; fazer requalificação e dar vida. Temos feito isso nos espaços públicos. O Jardim de Palhais mudou completamente, hoje é um local com muita vida, com o contributo do S. Domingos FC. Vamos levar essa intervenção também ao Jardim do Monte Belo, que vai ser, em breve, requalificado na íntegra, e ao jardim do Bairro Afonso Costa.

 

O PS defende espaços tipo loja do cidadão.

 

A proximidade com os cidadãos não se mede pela presença física em determinados pontos. Podemos ter dois ou três pontos de atendimento e o executivo estar afastado das pessoas. Somos um executivo que se preocupa, que visita, conhece e que está 100% disponível, e vai haver atendimento da junta noutro ponto do território. É o que estamos a fazer, a construir novas instalações, junto à escola D. João II.

 

Com essas novas instalações a junta terá duas delegações?

 

Exactamente. Vamos estar em dois pontos do território para estarmos mais próximos das pessoas. Já a criação do espaço do cidadão é outra conversa, que tem a ver com a transferência de competências. Nós não acompanhamos esse aventureirismo, até algo irresponsável. Quanto vai a junta receber para o exercício dessas competências? Quais são as obrigações? Que meios técnicos e humanos vai disponibilizar? O que vai acontecer aos trabalhadores que estão hoje na Loja do Cidadão (por acaso no território da freguesia)?

 

O polo operacional, no Monte Belo, fica pronto em Março?

 

Tudo indica que sim. Achamos que temos condições para que seja inaugurado a 23 de Março, no aniversário da freguesia.

 

 

A prevista mudança da sede não tem implicações na matriz da autarquia, muito associada ao Bairro 2 de Abril, à Bela Vista?

 

A junta nunca deixará de estar aqui, e nem sempre esteve aqui. Esteve junto ao cemitério e está aqui desde 85. Terá uma nova localização, de facto. A perspetiva que as juntas têm hoje de serviço à população não se coaduna com este espaço.

Antigamente, para fazer apenas o atendimento tínhamos todas as condições, mas agora, para trazer pessoas, fazer iniciativas, desenvolver projectos como a costura criativa, teatro, pintura, ‘Yoga do Riso’ e tantas outras tantas actividades, estas instalações já não têm condições. Mas este espaço não desaparece, vai ganhar nova vida, continuar a servir a comunidade, e passa a ser uma excelente delegação.

 

 

Qual é a visão de novas instalações no Monte Belo?

 

O projeto tem três fases, por questões financeiras, e começámos pelo polo operacional. A delegação de competências cresceu muito nos últimos anos, e nós não tínhamos instalações para essa resposta. Na segunda fase temos o auditório, para cerca de 300 pessoas, para a utilização de associações, escolas. Será muito diferente do que temos hoje que é apenas uma sala para 50 pessoas. Depois a sede, na terceira fase, já não será neste mandato.

 

 

 

Que balanço genérico faz da delegação de competências Disse que as juntas não estavam operacionalmente preparadas. Conseguiram corresponder?

 

Aumentou muito mas de forma progressiva, e vamos dando boa resposta. O facto de termos o município a confiar em nós, cada vez com mais intensidade, mostra isso. Obviamente há aspetos a melhorar aqui ou acolá, mas estamos muito satisfeitos com o nosso trabalho.

No caso da limpeza urbana, por exemplo, estamos satisfeitos, mas esta tarefa tem duas faces; a logística, de quem tem que limpar, e nós varremos todos os dias todo o território com meios mecânicos, humanos, etc., e a contribuição das pessoas. Aí temos um longo caminho a fazer na sensibilização para bons hábitos e estamos a promover acções de sensibilização com as escolas para termos uma freguesia ainda mais limpa.

Temos um parque escolar completamente requalificado. É outra vertente da nossa preocupação de proximidade.

A freguesia é meia-cidade. Não tem razões de queixa do investimento municipal, quando comparada proporcionalmente com a União de Freguesias?

Não. Não há razão de queixa. Aliás nos últimos tempos temos assistido à execução de obras absolutamente históricas. E contaram sempre com a nossa opinião. O Bairro Santos Nicolau está numa intervenção profunda em todas as ruas, numa obra histórica, se calhar pouco visível para o conjunto da cidade. No Moinho do Frade está a decorrer também uma obra importantíssima, nesta zona do 2 de Abril uma grande e profunda requalificação do território. Está a avançar agora a Estrada de Santas, uma estrada importantíssima sobre a qual pendem reclamações. A Avenida Álvaro Cunhal…

 

Essa foi das obras mais polémicas. Reconhece algum fundamento às críticas?

Não. Aquela avenida o que mostra é a dimensão artística de Álvaro Pinhal. São desenhos que fez na prisão. A avenida já tinha o seu nome. É uma homenagem que a cidade presta a um dos melhores filhos do país.

 

Acha que interpreta o pensamento e a vontade dos fregueses?

Vamos lá ver… Às vezes… Qual é a obra de arte em Setúbal, destas mais contemporâneas, em que as pessoas se revêem assim? Setúbal é uma cidade educadora. Nós não podemos esconder estas pessoas que lutaram pela democracia. Álvaro Cunhal lutou, como lutaram outros. E já agora – e as pessoas evitam isto -, a toponímia traduz também quem está no poder. É verdade. Por isso é que quando esteve lá o PSD colocou um busto de Sá Carneiro no Liceu. Isso é normal! Não estão à espera com certeza que seja o executivo municipal da CDU a colocar bustos de Sá Carneiro aqui em S. Sebastião. Claro que não! Se um dia voltarem, tragam os nomes que queiram homenagear.

O que é trazido para a avenida é uma dimensão muito interessante de um lutador antifascista e é oportuno num tempo muito difícil em que vemos movimentos populistas de direita a emergir por todo o lado. A arte é isso mesmo! Tem de ser provocadora. Se descermos mais um pouco, até ao Zéfiro, quantas pessoas sabem o que aquilo é? Nós temos é um problema, uma escola que não nos educa para a arte, não nos forma no sentido crítico.

Já a obra “cartaz” é o trabalho nos bairros da Bela Vista. Tem muito de imaterial feito pela câmara. Que valor acrescentou a junta?

O ‘Nosso Bairro, Nossa Cidade’ é um programa municipal. Isto é a primeira coisa que tem de ser dita. Mas nós estamos como parceiros de alma e coração e é dos programas mas bonitos que temos desenvolvido em conjunto com os moradores. Visa sobretudo a participação dos moradores, organizados, conscientes a trabalhar em conjunto. Tem permitido resolver muitos problemas, não de uma forma caritativa – digamos assim – mas juntos, lado a lado. Esse é o verdadeiro desiderato de um autarca, de uma autarquia, portanto, para mim é uma satisfação muito grande.

 

O envolvimento entra em todos os cantos ou há zonas cinzentas?

Não. Abrange todo o território do programa. Há moradores muito mais envolvidos do que outros, como é evidente, mas temos centenas de moradores muito activos. Nos bairros vivem quase 6000 pessoas, há moradores eleitos pelos seus pares, mas não há zonas cinzentas, nem territorialmente nem por bairros.

 

E a fase mais miúda da organização, a criação dos condomínios, vai concretizar-se?

Está a concretizar-se. Existem muitos condomínios formalmente constituídos, organizações por pátio, por prédio, com eleitos. Isso está a acontecer!

 

Como viu os incidentes recentes, como o ataque à esquadra na Bela Vista?

 

O que aconteceu, mesmo que se tenha prolongado por três dias, não tem nada que ver com a vida normal do bairro, que nós vivemos todos os dias. Se formos lá agora temos uma percepção que nada tem a ver com o que aconteceu. A vida normal no bairro são as crianças nas escolas, os adultos a ir aos empregos, a fazerem a sua vida.

 

E no entanto foi neste bairro que aconteceu.

 

São actos de vandalismo condenáveis. Infelizmente aconteceram ali, e até destroem um bocadinho aquilo que é o trabalho desenvolvido nos últimos sete anos pelo programa ‘Nosso Bairro, Nossa Cidade’, em que tivemos uma vida normalíssima, calma e com enormes êxitos por parte dos moradores. Depois há três dias que nada tem a ver com a vida do bairro, queimam uns caixotes, uns molotov na esquadra… Não deita por terra mas no fundo põe em causa esse trabalho. Mas só da imagem, porque os moradores – já estivemos todos reunidos – estão motivadíssimos, empenhados mais do que nunca, em continuar o trabalho. Aí não abalou, é inabalável.

 

Faz falta uma esquadra no Bairro da Bela Vista?

 

Essa é uma reflexão que tem que ser feita, coletiva, com os moradores e todas as entidades. Hoje, dizer sim ou não é muito prematuro. É uma reflexão que a cidade terá que fazer.

 

 

“É uma matéria boa para o Conselho Local de Freguesia, onde está a PSP?

 

É uma matéria boa para todos refletirmos. Nos conselhos locais, nos conselhos municipais, câmaras, autarquias, PSP, moradores de toda a cidade.

 

No Mercado 2 de Abril os comerciantes pedem maior dinâmica.

 

Definimos o ano passado um conjunto de actividades para o Mercado 2 de Abril – não é da nossa gestão mas preocupamos-nos -, e para todos os mercados da freguesia, como o da Conceição e a Xepa. Houve actuações de tunas e de grupos de cantares alentejanos. Há até algumas iniciativas mais institucionais que fazíamos noutros lados e agora pensamos desenvolver nos mercados. Estamos empenhados e a dar o nosso contributo para que os mercados tenham maior dinâmica, que as pessoas os vejam como espaços vivos, e acho essa reivindicação justa. Nós acompanhamos e vamos continuar a desenvolver actividades até ao resto do ano.

 

 

A presidente da Câmara de Setúbal já não se pode recandidatar…

 

O que é uma pena.

 

E o Nuno Costa é dos nomes mais falados para a sucessão. Tem consciência disso?

 

Não sei disso. Está a informar-me agora.

 

Vê-se disponível para esse desafio se o PCP precisar de si?

 

É muito prematuro para dizermos o que quer que seja sobre essa matéria. Muito prematuro. Nós estamos muito empenhados no trabalho que temos que desenvolver, estas coisas também se fazem por ciclos, e nós temos muito trabalho em São Sebastião, que provavelmente passará o limite do mandato. Portanto é muito prematuro, não há reflexão nem individual nem coletiva sobre essa matéria. Isto tudo tem o seu tempo, às vezes não corresponde ao dos jornalistas ou dos cidadãos, mas é muito, muito prematuro, dizer o que quer que seja sobre essa matéria. Muito prematuro.

 

Se Nuno Costa tiver algum impedimento para continuar na junta, há quadros para uma sucessão tranquila?

 

A CDU, na cidade toda, tem excelentes soluções para todos os cargos. Claro que às vezes identificamos determinado cargo com uma determinada pessoa. Por exemplo, a Maria das Dores é uma pessoa com uma presença incontornável é “a presidente da Câmara”. Mas em todo o lado nós teremos gente com capacidade e competência para assegurar a continuidade do projeto autárquico.

 

 

PERFIL

Professor, quase musico, admirador de Cunhal

 

Nuno Costa, 42 anos, nasceu em Lisboa, mas chegou a Setúbal com seis meses de idade porque os pais vieram trabalhar para a região. O Pai como soldador na Siderurgia Nacional e a mãe técnica de Imagiologia no Hospital de Setúbal.

Professor de Física e Química durante 23 anos, em escolas um pouco por todo o país, e até no privado – St. Peter’s School – acabou colocado no Liceu de Setúbal.

Está há sete anos como presidente da Junta de S. Sebastião, onde assumiu o mandato de Carlos Jorge de Almeida. Já ganhou duas eleições depois disso, mas não se sente político.

“Não sou político. Enquanto a sala de aulas não me sair da cabeça sou completamente professor”, afirma. A “nova paixão” é a música, clarinete, que está a aprender na Capricho. Nunos Costa, casado e com um casal de gémeos de 20 meses, tem em Álvaro Cunhal o político de referência, pelo “exemplo, de sacrifício, dimensão intelectual e humildade”.

 

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