Com 403 anos, instituição trabalha diariamente para “o bem-estar dos utentes e dos mais de 100 funcionários”
A fundação da Santa Casa da Misericórdia de Canha remonta a 16 de Agosto de 1616, dia em que “um pároco da vila decidiu começar a dar resposta às necessidades da comunidade na área da saúde”, conta o actual provedor, José Rodrigues. “As misericórdias surgiram em épocas marcadas por pandemias e a Santa Casa da Misericórdia de Canha não foi excepção. No fundo estas instituições nasceram para socorrer pessoas mais frágeis”, revela.
Com o passar dos anos, as necessidades da comunidade foram mudando e “a instituição foi-se adaptando, criando novas valências e investindo em projectos”. “Numa fase inicial não eram acolhidos cidadãos nos seus espaços, algo que apenas foi implementado mais tarde, altura em que começaram a possuir asilos para os ‘sem terra’”, diz o provedor.
Desde sempre “guiada pelo povo de forma voluntária, os chamados corpos sociais”, a Santa Casa da Misericórdia de Canha foi “detentora de um vasto património, criado através de ofertas”. “Antigamente os corpos sociais eram formados por pessoas importantes na zona. Muitas vezes estas famílias detinham herdades e acabavam por falecer sem terem herdeiros, pelo que as suas heranças ficavam para a misericórdia”, explica. Instalada numa área com cerca de 200 quilómetros quadrados, a instituição foi “dona de quase tudo na freguesia”, mas com “a Implantação da República, com a passagem de Canha a vila e com a Revolução de 25 de Abril de 1974, o seu património foi ‘sugado’, acabando por ficar reduzida a um hospital, a uma capela e a uma farmácia”.
Inaugurada em 1906, a farmácia “continua hoje ao serviço da população”. Já o edifício do hospital, que esteve em funcionamento até 1975, veio dar lugar ao Lar de São Sebastião, estrutura reabilitada num “investimento de mais de três milhões de euros” e inaugurada a 29 de Janeiro de 2005. Neste espaço funcionam, para além da Estrutura Residencial para Idosos, as valências de Centro de Dia e Canh@tiva, com o intuito de “diminuir a institucionalização e melhorar a qualidade de vida dos idosos”, e o serviço de apoio domiciliário.
Com a “necessidade de as famílias deixarem as suas crianças para irem trabalhar”, surgiu o Centro de Actividades de Tempos Livres ‘Gente Graúda’, no qual “alunos dos três ciclos do Ensino Básico da freguesia desenvolvem actividades de tempos livres”. Em 2014, por sua vez, “a irmandade realizou um novo investimento, no valor de um milhão e meio de euros, para a criação de uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados”, afirma José Rodrigues.
Apesar de “funcionar como uma empresa”, o provedor afirma que o “foco pelo qual a instituição se rege actualmente é o bem-estar do ser-humano, dos utentes e dos mais de 100 funcionários”. “Este trabalho é desgastante e isso leva muitas vezes a elevados níveis de stress. Nós precisamos que o cuidador esteja no seu melhor e, para tal, temos de cuidar dele. Estamos a tentar fazê-lo diminuído a sua carga de trabalho”, acrescenta.
Para o futuro “existe um objectivo ambicioso: atingir a modernidade”. “Um passo que temos dado nesse sentido é o de tentarmos manter os jovens na vila, empregando-os na instituição. Para além deste esforço estamos, também, a apostar na criação de uma irmandade tecnologicamente evoluída, com sistemas informáticos e energéticos de excelência. Queremos que a instituição passe a ter energia fornecida naturalmente. Para tal temos em acção projectos inovadores”, refere.
Instituição procura “manter vivos os costumes da terra”
Por manter um “forte elo de ligação com a comunidade e com as suas tradições”, a Santa Casa da Misericórdia de Canha tem, também, o objectivo de “manter vivos os costumes da terra”. Esta ambição começa a 25 de Janeiro de 2014 com a criação do Rancho Folclórico e Etnográfico de São Sebastião Danças e Cantares da Freguesia de Canha, “tradição muito vincada na vila”, afirma José Rodrigues.
No ano seguinte nasce a Confraria Saberes e Sabores, o Grupo Gastronómico e a marca ‘&há mais’, “que produz doces, licores e vinhos, com produtos da terra”. Para “eternizar uma parte destas tradições” é escrito pela Confraria, em 2017, “o livro de receitas ‘Sabores de uma Vida’, com confecções feitas antigamente pela população”.
Ligada ao desporto é organizada a Corrida pela Arte, com o propósito de ser “instalada uma Casa Museu de arte naïf em Canha”. “Neste evento há uma área onde são expostos vários quadros”, afirma o provedor, revelando que estes projectos “mantêm a memória colectiva da comunidade”.
B.I.
Nome: Santa Casa da Misericórdia de Canha
Também conhecido por: SCMC
Localidade: Canha, Montijo
Data de Fundação: 16 de Agosto de 1616
Principais actividades: Lar e Centro de Dia, Cuidados Continuados, Apoio Domiciliário e Centro de Actividades e Tempos Livres
Actual provedor: José Rodrigues