O responsável faz uma radiografia aos indicadores económicos do sector na região, que em 2017 voltaram a apontar para um crescimento na ordem dos dois dígitos. Manter aposta nas exportações também é vital
O crescimento do sector vitivinícola da região em 2017 ultrapassou os dois dígitos, mantendo, de acordo com Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), a tendência dos dois anos anteriores. E o próximo passo estratégico passa por aumentar o custo dos néctares da região, porque é possível, fundamental e… justifica-se.
“Em 2017, na senda dos dois anos anteriores, manteve-se a tendência de crescimento do volume de vinho, do aumento das exportações e também das vendas e da quota no mercado nacional. A 31 de Outubro, esse crescimento cifrava-se em 11% relativamente a 2017”, revelou o responsável em jeito de balanço, realçando assim os bons indicadores que o sector continua a registar na região.
“É sinal não só da muito boa aceitação da dinâmica do sector mas também da boa aceitação que os nossos vinhos continuam a recolher no mercado nacional e nos principais mercados de exportação. Só assim é possível manter sucessivamente este crescimento contínuo, que registamos há vários anos”, considera Henrique Soares, antes de se debruçar sobre as estratégias a seguir para manter o crescimento dos vinhos da região no mercado global.
“No mercado nacional, a nossa estratégia vai prosseguir no sentido de tentar melhorar o nosso preço médio, tentar que, com o reconhecimento e a qualidade que a região tem, as pessoas estejam dispostas a pagar um pouco mais pelos nossos vinhos. Achamos que isso não só é possível como é perfeitamente justificado, já que a qualidade que os vinhos apresentam é merecedora”, confessa, passando de seguida para a aposta nas exportações. “No mercado internacional, onde a competição é desenfreada, vamos continuar a fazer o nosso trabalho a par das principais empresas da região: continuar a abrir portas nos principais mercados às empresas que ainda não exportam; para aquelas que já o fazem importa continuar a trabalhar para que continuem a aumentar as suas vendas e a consolidarem a sua posição no mercado, tentando afirmar a Península de Setúbal como mais uma região eminentemente exportadora de vinhos portugueses e valorizá-los.”
Investimento contínuo e turismo são chaves do sucesso
Sobre a evolução dos néctares da região nos últimos anos, o presidente da CVRPS é peremptório, atribuindo a responsabilidade do êxito à aposta dos agentes num permanente investimento.
“O sucesso de uma actividade como a vitivinícola, não se tratando de um bem essencial, só pode ter uma explicação: o investimento contínuo dos agentes económicos, dos viticultores, da produção de uvas de qualidade, nas adegas, na transformação dessas uvas em vinhos de muito boa qualidade e depois na sua venda ao preço justo, que em muitos casos apresenta o melhor preço para aquela qualidade que a região fornece e que é francamente boa”, defende, acrescentando: “Todos eles, privados e cooperativas, têm sido capazes de se adaptarem aos mercados e de continuarem a investir na melhoria e no rejuvenescimento das vinhas, bem como no equipamento das adegas, o que explica este sucesso do sector.”
Mas outra das explicações, aponta em relação ao mercado doméstico, passa pela interligação a um outro sector que também tem vindo a crescer nos últimos tempos na região e no país. “No mercado nacional, o fluxo turístico nestes último anos, o seu crescimento exponencial, tem sido muito amigo do aumento do consumo e dos bons resultados comerciais da região. Ainda para mais, beneficiamos e muito da nossa proximidade à capital, o que tem sido um dos grandes mercados de aumento desse consumo, por via do enorme fluxo turístico”, salienta. E quando desafiado a resumir o papel da CVRPS, Henrique Soares admite: “Os números falam por si e penso que o trabalho da CVRPS, enquanto parceiro que tem procurado dar algum contributo a este crescimento, é de alguma forma reconhecido. Remamos todos para o mesmo lado nesta região e penso que isso é notório.”
Casta fundamental da região sofre quebra de produção
Certa para já é que a produção de 2018 será inferior à de 2017. Todavia, entre produtores há a expectativa de que a qualidade possa até vir a ser melhor. O presidente da CVRPS estima uma quebra superior a 10% mas desdramatiza a situação.
“Essa diminuição de produção não está ainda apurada em definitivo, mas já podemos estimar nesta fase, com algum rigor, que poderá rondar os 12% de quebra em relação a 2017, o que não é preocupante, sobretudo porque vimos de dois anos de vindimas acima da média”, aponta, reforçando: “A quebra de produção não é particularmente preocupante a não ser por ela ter incidido bastante numa casta fundamental para região, que é a Moscatel de Setúbal. Aí podemos vir a registar alguma menor produção dos vinhos que dependem dessa casta, sejam brancos ou licorosos. Mas não é, de forma alguma, preocupante, até porque a qualidade é boa e não estamos cépticos com essa quebra.”
Quanto ao futuro próximo, já a pensar em 2019 que se aproxima a passos largos, Henrique Soares coloca o foco na valorização dos vinhos da região, realçando o potencial de crescimento ainda existente.
“Ano após ano, crescimento após crescimento, a região continua a ter ainda margem de progressão, porque ainda estamos longe de certificar a totalidade dos vinhos produzidos na região, embora já certifiquemos, dependente dos anos, entre 65 e 70% dos vinhos produzidos. Ainda assim, nos próximos anos cada vez mais a nossa preocupação recairá na valorização dos vinhos, em aumentar o preço médio, que não será fácil mas que é fundamental”, remata.