9 Maio 2024, Quinta-feira

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Está aberta a época: “Assim que vejo sardinha fico com água na boca”

Está aberta a época: “Assim que vejo sardinha fico com água na boca”

Está aberta a época: “Assim que vejo sardinha fico com água na boca”

Cheiro da sardinha assada volta às ruas e esplanadas. “Em Setúbal ainda sabe melhor”, garante um ‘especialista’

 

O melhor da sardinha é “ser de Setúbal”. As palavras são de Ricardo Landeiro que durante a hora de almoço de sexta-feira comia um tesouro gastronómico que encanta paladares há séculos: a sardinha.

Reaberta a época deste pescado, na passada quarta-feira, entre comerciantes da lota e clientes da restauração, a consideração é quase unânime: ainda é pequena mas de grande sabor.

Para os vendedores do Mercado do Livramento, onde as bancas estavam recheadas de sardinhas pescada naquela madrugada, a procura ainda é pouca. “Está muito magra ainda. Vende-se a uma pessoa que tenha saudades de comer, mas de resto, toda a gente sabe que a sardinha ainda está muito seca”, revela a O SETUBALENSE Francelina Viseu, comerciante daquele mercado há 50 anos.

Opinião idêntica tem também a vendedora Fernanda Viegas que fala mesmo em “desperdício”, tendo em conta o tamanho e gordura do pescado. “A [época da] sardinha abriu agora e já se pode capturar, mas a meu ver não deviam fazer isso, porque está magra. É um desperdício”.

Entre o Mercado do Livramento e a Lota de Setúbal os preços de venda ao público variam entre os 3,5 e os 5 euros. Nos restaurantes, entre a zona ribeirinha e a baixa setubalense, é possível degustar a essência da sardinha já frita em valores que rondam os 12 e os 14 euros.

É mesmo nos restaurantes onde se vê mais resistência dos proprietários dos estabelecimentos, que dizem estar de pé atrás com a compra na lota. “Ainda não trouxe [para o restaurante] porque estão um bocadinho secas e com má aparência”, revela Lutiar Santos, funcionário da Tasca da Fatinha, na Avenida José Mourinho.

Pelo contrário, muitos são os clientes que preferem o sabor da sardinha pequena, valorizando sua delicadeza e textura. “Parecendo que não, criam logo água na boca, assim que as vemos e pequenina ainda é mais apetitosa”, conta João Luís Piteira, cliente do restaurante A Faca, na Rua Arronches Junqueiro.

Mesmo com a redução do tamanho e do preço a sardinha continua a ser uma iguaria emblemática em Setúbal, enraizada na cultura da cidade. Até mesmo para quem vem de fora, como é o caso de Daniel Xavier, imigrante oriundo do Brasil e cliente assíduo do mesmo restaurante, que afirma estar de coração rendido à rainha das águas portuguesas. “Sou um apreciador nato de sardinha, consumo desde Maio até Setembro. Neste momento ela está óptima”.

Condições reunidas vão permitir “um ano bom para os pescadores”

Parece estar tudo a postos para que, em 2024, a época da pesca da sardinha corra bem. Nos primeiros dias de ida ao mar os pescadores estão esperançosos de que seja um ano rentável para o sector e, apesar de as vendas não estarem ainda no auge, as expectativas estão muito altas.

“Os pescadores dizem que a abundância da sardinha tem crescido a olhos vistos e isso é favorável. Já estão a acontecer capturas com alguma significância. Neste momento, a sardinha ainda não tem o teor de gordura muito alto e, o facto de não estarmos ainda com um período estival, não há uma grande procura no mercado de fresco e então grande parte da sardinha que eles capturaram nestes dois primeiros dias acaba por ser absorvida pelo mercado da congelação e da conserva”, refere a O SETUBALENSE Carlos Macedo, administrador da Artesanal Pesca.

Um factor positivo apontado pelo responsável, relativamente ao ano passado, é o aumento da quota de possibilidade de captura do pescado, e o fim das limitações diárias – medida imposta aos pescadores em 2023. “O ano passado não esgotámos a possibilidade de pesca que tínhamos para Portugal porque existiam limitações diárias e isso acabou por ser uma condicionante à possibilidade de conseguir capturar toda a quota que estava disponível. Este ano, a campanha inicia-se com uma possibilidade de pesca maior do que a do ano passado”.

Para Carlos Macedo não são necessárias muitas contas: “Existindo possibilidade de pescar, se as condições de mar permitirem, certamente que vai ser um ano bom para os pescadores”.

Questionado sobre se continuam a compensar as idas ao mar para a apanha da sardinha, o administrador explica que, apesar da inflação que se fez sentir, o bom desempenho faz crescer o sector.

“[A pesca] é um trabalho árduo, mas aquilo que se tem verificado nos últimos anos é que é uma actividade que acaba por ser compensadora, quer para os armadores – os donos das embarcações de pesca –, mas também para os pescadores. No cômputo geral o sector das pescas tem tido um bom desempenho e uma boa performance financeira. Isso é bom porque dinamiza o sector e as empresas estão saudáveis. Obviamente que, com a inflação elevada que nós tínhamos, os custos de produção também aumentam, nomeadamente os custos de combustível, nós sentimos isso nos nossos carros e nas embarcações de pesca”.

 

GOVERNO | Quota do pescado alargada em 2024

Foi pela meia-noite de dia 2 de Maio [quarta-feira] que reabriu oficialmente a pesca da sardinha em Portugal. Em documento publicado em Diário da República, assinado por José Manuel Fernandes, ministro da Agricultura e Pescas, sabe-se que, este ano, o limite de capturas está nas 44 mil 450 toneladas.

Portugal partilha a gestão deste pescado com a vizinha Espanha através de um plano plurianual que vai de 2021 a 2026. Ficou assim determinado que, este ano, o nosso País está encarregue de 66,5% destas (29.560 toneladas), como explica a notícia avançada pela Sic Notícias.

Há também limites para a apanha da sardinha, nomeadamente para embarcações com comprimento igual ou inferior a nove metros, que deverão apenas transportar 2700 quilos (ou 12 cabazes). Para barcos com tamanho superior a nove metros mas não mais que 16 metros, o limite é de 6750 quilos (ou 300 cabazes).

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