26 Abril 2024, Sexta-feira
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Pedro Fernandes: “A identidade do passado agrícola de Setúbal está a perder-se”

Investigação centrada nas antigas quintas e hortas setubalenses revela que espaços agrícolas, que moviam a economia local, têm desaparecido

 

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Os últimos nove anos da vida de Pedro Fernandes foram dedicados a investigar as antigas quintas e hortas setubalenses, no sentido de perceber e documentar como estava, está e estará o património edificado deste tipo de espaço agrícola na cidade de Setúbal.

O investigador integrado do Pólo de História, Territórios e Comunidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa estipulou que a investigação se debruçaria entre 1800 e 1950 e explica ter “188 quintas e hortas em estudo, situadas num espaço curto”.

Apesar de estimar que terá mais dois anos de trabalho até ter uma conclusão “mesmo satisfatória”, adianta que se tem “perdido muito património deste tipo de espaço”, o que considera ser “uma pena” porque se perde “uma parte da identidade da cidade”.

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Quando chegar ao resultado pretendido, ambiciona fazer “uma obra de referência”. Para já tem programada uma conferência, a acontecer amanhã, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), pelas 16 horas, onde vai fazer “um ponto de situação”.

Como começou este processo?

Esta investigação começou há nove anos, antes de começar o programa de doutoramento porque foi um tema pelo qual me interessei a nível pessoal e depois acabei por aproveitar para a tese. Para amanhã está prevista uma conferência, que é um ponto de situação, mas também uma reflexão sobre o estado do património que tínhamos, o que temos e o que teremos, em princípio, no futuro e como temos perdido tanto património edificado deste tipo de espaço agrícola.

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Quantas quintas e hortas estão em estudo e como tem corrido a investigação?

Neste momento tenho 188 quintas em estudo, que se dispõem num espaço muito curto. Tratar cada uma com aquilo que pretendo saber, que é história e a contextualização e a caracterização dos espaços, é um processo demoroso. Tenho feito sozinho. Tenho tentado documentar os espaços, tirar fotografias dos exteriores das residências, tanques, poços e de todo o património de suporte à actividade agrícola. E mesmo assim já é uma proposta muito difícil, em termos de volume de informação e do número de locais onde é possível procurar essa informação.

Estas quintas eram importantes?

Sim, sem dúvida. Eram os espaços agrícolas que moviam a economia local. A exportação de laranja era extremamente importante. Eram espaços onde se desenvolvia uma parte relevante da vida social de Setúbal. Havia todo um ecossistema social, com uma parte relevante passada nestes espaços.

E que conclusões tira até à data?

Posso avançar que temos perdido muito património deste tipo de espaço, o que é uma pena porque também é uma perda de uma parte da identidade da cidade, que, a partir das antigas muralhas, era rodeada de espaços agrícolas. Naturalmente que é hipotético porque sou eu a especular o que é que poderá acontecer. A única coisa que posso fazer é basear-me no histórico que temos tido, que não é animador. Mas há algumas propriedades que ainda se mantêm mais ou menos na mesma configuração que tinham em 1800 ou antes disso até.

Não é animador porquê?

Não é animador porque estamos a perder património e quanto mais património perdemos pior é. Com menos identidade ficamos da cidade e perdemos uma ligação muito importante a um passado relevante de Setúbal, um passado agrícola, pré-industrial e pré-conserveiro.

E em que zonas se tem mantido o património?

Mais na zona das Machadas. É onde há uma conservação mais completa deste tipo de património. Quanto mais próximo do centro da cidade estamos mais o espaço se torna valioso para a expansão urbana e mais em risco fica. Para o futuro há três opções: ou os espaços são urbanizados e o património que existia é demolido, ou se mantêm como um espaço privado ou passa pela reconversão, mas essa opção é mais complicada porque envolve investimentos grandes.

Era importante que se optasse pela reconversão?

Sim, sem dúvida. Reconversão nunca é perfeita. Há sempre elementos que se perdem. No entanto, é preferível à destruição. É muito melhor termos um pouco do património preservado e com uma reconversão para outro tipo de utilização do que ser tudo demolido e urbanizado.

Além de ir aos locais e documentar, de que forma tem decorrido esta investigação?

Esta investigação tem recorrido às fontes secundárias e tenho recorrido a investigadores locais, à imprensa, que é uma fonte excelente de informação, e também a documentação de arquivos. Tudo serve para ir montando o puzzle que é a história destas propriedades.

Além das 188 quintas e hortas, muitas mais haveria?

Não. É possível que haja uma discrepância, mas de cinco a dez propriedades que eu não tenha na listagem para esse espaço curto. Só me quero concentrar aqui. Os outros estou a georreferenciar só para termos uma contextualização, para não aparecerem estas 188 quintas desagregadas do contexto.

Quando terá a investigação concluída?

Espero, na melhor das hipóteses, demorar mais dois anos. Na perspectiva mais optimista, para ter uma conclusão mesmo satisfatória.

E tendo essa conclusão, qual será o próximo passo?

Será fazer uma obra de referência. Um livro que possa ficar na nossa biblioteca e que possa ser vendido. Não quero ficar com o conhecimento que adquiri para mim, quero que seja partilhado e que todos tenham o tipo de ligação emocional que eu já tenho a estes espaços por estar a tratar deles há muito tempo.

Para amanhã, sábado, tem agendada uma conferência. Como surgiu a oportunidade?

A conferência foi um convite muito amável da directora do MAEDS, a doutora Joaquina Soares, que considerou que seria interessante fazer um balanço a esta altura.

O que pretende transmitir nesta conferência?

Dar uma noção às pessoas dos espaços que existiam porque muitas não conhecem. Apresentar uma listagem dos espaços e algumas fotografias de residências e outro património edificado que já não temos.

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