Criação transmite magia vivida durante solstício e retrata o pulsar da terra
O Fórum Cultural José Manuel Figueiredo recebe dia 22, pelas 21h30, o espectáculo “Inverno”, pela Companhia de Dança de Almada, numa co-produção com o Teatro Municipal de Bragança.
Criado por Bruno Duarte, o evento, que conta com música de Galandum Galundaina, Roncos do Diabo, Cabra Çega, Urze de Lume e Colin Stetson, retrata a história do criativo que, desde criança, sempre teve muito presentes as imagens que o fascinavam ou assistia na televisão e que davam a conhecer os costumes de Inverno transmontanos.
Caso dos caretos, chocalheiros, diabos e figuras que “sempre exerceram sobre mim um magnetismo especial”, confessa. “Vi na criação deste espectáculo uma oportunidade para explorar cenicamente o cruzamento da sacralidade ritual destas celebrações ancestrais, com uma linguagem de dança contemporânea”, conta.
Situado entre o sagrado e o pagão, ancestral e contemporâneo, humano e ao mesmo tempo sobrenatural, “Inverno” procura também transmitir “a magia que se vive por estes lugares na altura do solstício de inverno, retratando o pulsar da terra, a emancipação dos jovens, as arruadas, a postura de transgressão – mas tão regrada por prácticas fixas –, e o forte misticismo cultural”.
Bruno Duarte explica que este é um trabalho sobre o que está vivo, mas também sobre a memória” e “sobre aquilo e aqueles que já viveram os locais que hoje experimentamos”.
Além do criador deste espectáculo, com duração aproximada de 60 minutos, a apresentação de dança conta ainda com a interpretação de Carlota Sela, Francisco Ferreira, Joana Puntel, Luís Malaquias, Mariana Romão e Raquel Tavares. Com figurinos de Nuno Nogueira e desenho de luz de Filipa Romeu [Stageplot].
De acordo com o escritor Amadeu Ferreira, no livro “O Diabo e as Cinzas”, publicado em 2013, estes são “rituais de juventude cheios de vida e de futuro, por onde perpassam todas as actividades dos povos”, que “renovam a confiança na continuidade da vida, bem simbolizada no fogo e outros pagãos”.
Para o autor, nunca “realçaremos suficientemente o papel que os rituais […] tiveram na evolução das nossas sociedades e lhes transmitiram um carácter de sanidade ética”, que “consegue manter a dignidade no meio da maior pobreza e de dificuldades sem fim”.