27 Abril 2024, Sábado
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“A peça do Zeca Afonso não é minha, é das pessoas de Setúbal”

Ricardo Crista tem trabalhos espalhados por todo o mundo. Autor do memorial a Zeca Afonso revela nova peça que vai nascer na cidade

 

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Ricardo Crista cresceu rodeado de amigos ligados à arte, aumentando ainda mais a sua paixão a esta área. O escultor setubalense fez a sua formação em Coimbra, onde conheceu a sua esposa Rita Melo, também artista, com quem tem um atelier “aberto a qualquer pessoa”. Em entrevista a O SETUBALENSE, o autor do memorial a Zeca Afonso fala sobre o seu percurso, os desafios que teve ao longo da sua vida e revela a nova peça que vai nascer no dia 25 de Abril em Setúbal, com a apresentação da ‘Árvore da Liberdade’.

Onde é que nasceu esta paixão pela arte?

O meu grupos de amigos sempre foi muito ligado às artes. Como não tenho nada a nível familiar ligado à arte. Começou por gosto e se calhar por o meu próprio grupo de amigos estar todo ligado à arte. Uns estão no cinema, outros no teatro, em artes circenses, nas artes plásticas e também cerâmica. Tenho este conjunto muito coeso, desde a minha infância. Juntou-se uma série de pessoas que realmente aquilo foi tudo para a base artística.

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Depois comecei a nível de artes, quando fui para a universidade, tirar o curso de pintura. Fiz várias exposições no ramo de pintura, também de Norte a Sul do País e mesmo internacionais também. Actualmente a minha parte artística é mais a nível de projectos de escultura. Além de ser contratado por autarquias, também faço projectos para colecções privadas.

Tem projectos próprios?

Além de todos estes projectos que tenho, sempre gostei muito de ensinar, de dar a conhecer as técnicas a outras pessoas. Criei juntamente com a minha esposa, Rita Melo, o nosso atelier, que está sempre de portas abertas a qualquer pessoa para dar formação nesta área. Para essa formação fomos tirar um mestrado em artes visuais. No nosso espaço desenvolvemos workshops e também algumas aulas privadas.

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Temos algumas formações a desenvolver que nos ocupam uma reduzida parte do nosso tempo diário, trabalhamos mais no nível artístico do que propriamente da parte de formação, mas é uma parte que nos interessa bastante. Gostamos de dar a conhecer, gostamos que as pessoas conheçam, crianças principalmente que temos lá para dar esse conhecimento.

Ainda se lembra da primeira obra que fez enquanto profissional?

Foi no ramo de pintura. Ainda estava a estudar, cheguei a ser convidado para a Bienal de Arte de Cerveira e foi lá que compraram a minha primeira obra.

Prefere fazer retractos ou o facto de já ter feito tantos dá-lhe vontade de fazer outras coisas?

Gosto sempre de desafios, mas eu gosto mesmo muito de fazer os retractos, ainda mais quando são para pessoas que estão vivas. Quando tenho possibilidade de falar com as autarquias digo sempre para aproveitarem para homenagear alguém que ainda esteja vivo. Quando a pessoa homenageada ainda pode apreciar a peça é ainda mais emocionante.

Qual é a maior peça que tem?

A maior é a peça do Zeca Afonso, aqui em Setúbal. Como não existia uma data-limite para homenagear, tinha tempo para criar e desta forma criou-se algo em grande escala.

No meio de tanto trabalho consegue estar sozinho no estúdio e criar algo para si?

Vou tentando gerir isso, tento perceber novas estratégias. Tenho bastante trabalho, mas também não me ocupa todo o tempo. Também há tempos parados, não estou constantemente, mas felizmente tenho tido essa sorte de ter tantas solicitações para fazer essas homenagens tão merecidas.

Sendo de Setúbal, como foi fazer este memorial a Zeca Afonso?

Este memorial foi muito interessante. Quando comecei o projecto disse logo que tinha de ser naquele local. Aquela paisagem, tudo tinha significado para mim.

Além de ser uma escultura de arte pública, é uma optical art e vive dessa relação do enquadramento específico, do mar e terra, poder ver tudo o que se vai passando atrás era importante e as pessoas procurarem não ser uma coisa direita, poderem circular por ali e não ser uma barreira. Tentei criar isso e acho que consegui.

Não criar uma barreira para o mar, a minha intenção não era essa, mas sim ser transparente e que as pessoas não ficassem simplesmente só a olhar para a peça e não verem mais nada. Essa deslocação é muito importante, para que essa peça seja interactiva com as próprias pessoas.

Vai nascer uma nova peça em Setúbal, dedicada ao 25 de Abril, já tem localização?

Existem dois ou três locais, ainda estamos a ponderar. Posso adiantar que será numa zona urbana, será uma ‘Árvore da Liberdade’, é esse o conceito. A escolha do local está relacionada com o próprio peso da peça, por isso ainda estamos a estudar essa parte. A peça tem cerca de seis metros de altura, será ainda maior que a do Zeca Afonso, embora esta também tenha seis metros, só que 70 centímetros estão enterrados no chão.

Sente a pressão por ser uma data tão significativa?

Sinto a pressão se calhar por toda esta situação que se passou, devido às coisas que se falaram aqui do Zeca Afonso, mas um artista nunca é só de uma obra. Felizmente a maior parte da comunidade de Setúbal têm me dado o apoio que preciso. Há quem goste e há quem não goste, na arte pública é muito difícil ser consensual. Quero que as pessoas se identifiquem com a própria peça e que a acarinhem, tal como com Zeca Afonso, porque esta peça não é minha, é da cidade. Nada é meu, já é de Setúbal.

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