No ano passado, por esta altura, escrevíamos neste espaço, a propósito da apatia comunitária com que se assistia ao eclipse do Vitória, que “110 anos de amor a Setúbal não podem acabar em indiferença”.
Uma preocupação que ilustra bem o estado crítico a que tinha chegado a situação do clube. O Enorme estava, nesse momento, no ponto mais baixo da sua longa história, sem sustentabilidade económica, recursos financeiros, capacidade – e até idoneidade – dirigente, atirado para a terceira divisão e sem qualquer perspectiva séria de futuro.
Hoje, passado um ano, o cenário é bem mais animador. Em apenas 12 meses, o Vitória resgatou o respeito e a dignidade que alguns, ao longo de anos, minaram quase até à lama, e reconquistou a esperança.
Agora, já é possível acreditar, de forma minimamente consciente e racional, que o clube pode, um dia, regressar à glória de outros tempos. E, ainda melhor, talvez essa sobrevivência possa ser plena, sem amputação da SAD ou de outras estruturas do universo vitoriano, como o Estádio do Bonfim.
A recuperação que os actuais órgãos sociais conseguiram operar mede-se pela diferença entre a morte anunciada em que estávamos e a animadora esperança que hoje sentimos.
Por este feito, que certamente ficará gravado a ouro na história do Enorme – assim o tempo confirme o acerto destas opções e a sorte ajude a proteger a sua audácia –, a equipa liderada por Carlos Silva é credora do nosso reconhecimento e gratidão. É preciso, no entanto, perceber que os problemas do Vitória não estão ainda resolvidos.
O passivo continua monstruoso e a actividade corrente não tem, sequer, saldo positivo quanto mais excedentes capazes de pagar o serviço da divida. Mas já há um princípio de reviravolta do plano inclinado em que estávamos.
Finalmente, está a pagar os PER e a saldar dívidas em vez de continuar a fazê-las. Pela primeira vez em várias décadas, nos últimos meses, o Vitória começou a construir em vez de destruir.