Voando para casa. É muitas vezes como nos sentimos no final de um dia de trabalho.
E se vivermos entre duas margens, uma boa ponte dá muito jeito.
Eu vivo entre duas margens. Qual delas a mais importante para mim. Uma de nascença. Outra de residência. Ligadas por uma boa ponte. Felizmente agora designada de 25 de abril.
Acontece que quem tem de viver de um lado e trabalhar do outro da ponte, questiona-se inevitavelmente, de tempos a tempos, sobre a sua segurança.
É que a ponte 25 de abril nãoé uma pontezinha. É uma ponte e pêras.
Quando eu vivia em casa dos meus pais e abria a janela da cozinha, era esta ponte a imagem de fundo imponente entre o azul, altas chaminés e telhados. Sem o recente comboio, naturalmente.
Uma ponte cosmopolita. Cada vez mais concorrida. Cada vez mais rentabilizada.
Carente de uma gémea. Uma 25 de abril número 2. Seria o ideal….
Enquanto isso não acontece, teremos que sofrer nós, utentes, pela segurança desta ponte de meia-idade?
Isto não equivale a dizer que não tenha sido sempre preocupação das autoridades competentes. Mas há certas pontes que quando caem, não avisam. Ou se avisam, nem sempre são atendidas a tempo.
A questão não é de medos infundados. A questão é do medo de que nunca haja suficiente medo.
Não bastam as preocupações na gaveta.
A ponte desta quadra comemorativa. Do povinho, digamos. E bem se pode afirmar, porque nem sempre é fácil a sua travessia.
Quantos parafusos lhe saltaram? A ela e a nós? Deixo isso para os especialistas.
Nós, povinho, só queremos chegar com saúde ao destino. Pelo menos com sáude física.
Nem todos somos engenheiros e nós confiamos nos nossos engenheiros. E respeitamos o significado das palavras que o nosso património linguístico nos proporciona.
Por isso fazem-nos pensar que o relatório dos especialistas do Laboratório de Engenharia Civil sobre a urgente manutenção desta ponte. Não é fácil. Implica dinheiro. Tempo. Logística. Sacifícios. Condicionamentos… Já está lançada a empreitada?
Não somos alarmistas. Mas sabemos que quando uma ponte cai, faz muitos estragos.
Somos amantes das boas notícias. E do nosso país que, felizmente, tem vivido uns quantos momentos felizes.
Vamos, com certeza, continuar a acreditar nesse movimento concertado. A crescer. Sempre com o nosso ainda tímido orgulho nacional.
Não queremos tragédias. Andamos a limpar os terrenos. A reclamar contra as agressões climáticas. A defender os direitos humanos. A gerir os trocos no bolso.
Não queremos que a natureza se zangue com a humanidade, nem que a tecnologia fique desamparada.
Cada um faz o que pode ou devia fazer. Mas as prioridades decisivas para o bom rumo das coisas não podem esperar nos lembretes do computador. Há assuntos inadiáveis.
Vem aí o bom tempo. O sol da Caparica.
A nossa ponte é bonita. O Cristo a abençoá-la.
E nós, viajantes da vida, só queremos chegar bem a casa, depois de cada dia atarefado.