Há um péssimo hábito em política (ou na vida) – prometer respostas simples a problemas complexos. Cria-se frustração com os problemas não terem ficado resolvidos antes e expetativas que fiquem resolvidos rápido. Quando os problemas persistem, a expetativa torna-se em frustração, duplamente amarga, e ganha ainda mais terreno o populismo anti-sistema.
É o caso da gestão do serviço nacional de saúde, da falta de professores ou da prevenção e combate aos incêndios florestais. As forças de segurança foram rápidas a desmentir as teorias de conspiração justicialistas de Luís Montenegro sobre a origem dos incêndios, distrações úteis para quem pôs na gaveta o banco de terras e a reforma da propriedade rústica que prometiam acabar com o desordenamento e abandono da nossa floresta. Já no caso do SNS e da escola pública, ficou claro para toda gente como as expetativas criadas na campanha eleitoral e por famigerados planos de emergência foram completamente rebentadas.
O verão tornou-se um período de sofrimento para as grávidas e as suas famílias, dado o encerramento de serviços que o período de férias tende a criar. O governo lançou um plano de emergência – pensado e concebido até ao início de junho e com 15 medidas prioritárias a serem executadas até ao final de agosto. Executaram metade. Pior, alteraram as regras de colocação de médicos especialistas recém-formados no SNS, causando várias semanas de atraso que condicionaram fortemente a capacidade de montar escalas de serviço.
A península de Setúbal teve no epicentro dessa crise. Dos 3 centros hospitalares (Garcia de Orta, Setúbal e Barreiro-Montijo), devíamos ter passado de um deles em fecho rotativo, como funcionou no ano anterior, para um deles aberto de forma rotativa. Devíamos, mas a meio do verão, o Garcia de Orta não conseguiu assegurar a sua semana de abertura, resultando na Península inteira sem qualquer urgência obstétrica.
Esta foi, infelizmente, a tendência em todo o país, com o Expresso a apontar para um agravamento de 40% do número de urgências fechadas. Depois de terem tirado do site do SNS a informação sobre quais urgências estão fechadas e mandado aos hospitais ocultar essa informação, ainda tiveram a lata de dizer que as grávidas estavam mais informadas porque, em vez de ligarem ao SNS24, passaram a poder ligar a uma linha específica para grávidas. Não adianta tapar o sol com a peneira. O populismo da AD sobre o SNS fracassou.
O mesmo se deve dizer em relação à escola pública. Não obstante o concurso de vinculação que o PS tinha já lançado quando era Governo, e que retirou milhares de professores da precariedade, o Governo da AD lançou um programa “mais aulas, mais sucesso” com 15 medidas de emergência para o setor. Como na saúde, a emergência agravou-se. Desmentindo o Governo esteve o Expresso, a FENPROF e a Missão Escola Pública, apontando todos para um agravamento do número de alunos sem professor. O Ministro da Educação teve de vir explicar-se – afinal, tinha criado uma estatística enganadora para se proteger. Menos se tivesse ocupado disso e teria tido tempo de preparar o ano letivo, com um portal de matrículas a funcionar e não pedidos de última hora às direções escolares.
Da saúde à educação, este Governo é muita parra e pouca uva. A diferença é que, antigamente, os políticos seriam sérios o suficiente para dizer que não haviam soluções milagrosas. Afinal, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Já não. A pressa em tudo prometer vai desaguar na pressa com que eleitores frustrados vão perder a esperança – nos serviços públicos e nos partidos democráticos. É caso para dizer – qual era a necessidade?