26 Junho 2024, Quarta-feira

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Paris quase a arder

Paris quase a arder

Paris quase a arder

, Médico
5 Julho 2023, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

Tenho há muitos anos uma verdadeira paixão pela cidade de Paris. Não têm conta as vezes que lá estive encantado com a variedade dos ambientes de cada bairro daquela magnifica cidade. Passear na zona chique das grandes lojas de moda, subir ao Sacré Coeur e contemplar a cidade fantástica, “pousar” na Place du Tertre e deixar-me retratar por um qualquer artista envolvido por aquele ambiente artístico.
Passar sob o Arco do Triunfo e descer os Chanps Elysees com possível espetáculo no famoso Lido. Passear num bateu mouche olhando os monumentos, as pontes e – claro – olhando a Torre Eiffel E comprar umas lembranças para a família no Printemps e depois beber um café no Café de la Paix. E mais o túmulo de Napoleão, o obelisco e os museus.
Mas não posso continuar a dar asas a esta já longa imaginação ao ver há quase uma semana os tremendos tumultos destes dias com multidões enfurecidas e uma repressão policial musculada, como hoje se diz.
Feridos, centenas de detenções, mais de mil carros incendiados, autocarros idem, montras partidas, lojas saqueadas – tudo num ambiente de quase guerra civil. E vamos nisto quase há uma semana. Mas tão grave agitação estende-se rapidamente a outras grandes cidades francesas.
E tudo se inicia com a morte dum jovem argelino que não parou numa operação stop! A população muçulmana é muito numerosa e unida (muitos são já segunda geração da saída da Argélia que não foi nada pacifica). A estes juntam-se “vagas” de refugiados africanos de países abaixo do equador massacrados pelas secas, pelas guerras de mercenários apossando-se dos minérios necessários aos países ricos da Europa e dos USA.
Este problema dos refugiados procurando na Europa condições mínimas de sobrevivência, mesmo morrendo aos milhares pelo caminho, os que se estabelecem nas cidades vivem nas periferias sem qualidade de vida (lembremos os “bidonvilles” dos portugueses fugidos há anos da pobreza e da guerra colonial). Apoiam-se uns aos outros, mantêm os seus costumes tradicionais, formando comunidades que não conseguem – nem são ajudadas -a integrar-se nos costumes do país anfitrião.
Além de que, sem qualquer formação capaz, é difícil encontrar emprego. E, em boa verdade, aos países anfitriões apenas interessa a “força do trabalho” e as políticas para facilitar a integração são pontuais. Se a par disto pensarmos que os preconceitos rácicos tardam em se atenuarem, que uma mentalidade colonialista nunca se perdeu e que uma hipotética superioridade da raça branca ainda se mantem, e, se estes requisitos resistentes ao tempo, fizerem “ninho” nos agentes da autoridade, temos um choque permanente.
Agora caldeemos tudo isto com as tremendas mudanças que nas sociedades actuais se vem processando – objetivos de vida onde predomina o imediatismo, a posse de bens, a conquista de poder, uma redução da educação aos tablets, aos telemóveis, às noticias sem qualquer garantia de verdade das redes sociais, à ascensão meteórica das tecnologias de informação, teremos uma juventude, seja qual for a raça ou a cor, pronta a exigir tudo e mais alguma coisa, sem trabalho nem esforço.
Tudo isto junto é uma verdadeira bomba pronta a explodir a qualquer pretexto. A França, onde se iniciou a Liberdade, à qual se juntava a Fraternidade, não resistiu a toda uma evolução social, o ter poder consubstanciado em ter dinheiro ou posição para poder saltar todos os obstáculos sem olhar a quem se esmaga e sobre quem se caminha!
As multidões que vão chegando sem dinheiro nem cultura são rapidamente centrifugadas para as periferias. Só que o seu número vai aumentando, o diferencial de nível de vida é cada vez maior, o inconformismo dá agitação, esta dá repressão e tudo junto é uma bomba incendiária!
Já em 1968, em Maio, os estudantes de Nanterre se revoltaram, animados por professores e filósofos – e mesmo assim o exército, com De Gaulle à frente, acabou com o protesto, em que nem os próprios sabiam o que queriam – apenas que o que estava era errado!
Presentemente estamos numa situação idêntica – aquela rapaziada de menos de 18 anos sente ódio a quem lhes não dá “chances” de viver como eles julgam ser o bom! Que esta situação nos faça pensar a todos e não apenas reprimir!

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