“Parece que sou duas Margaridas”: Como o conflito interno marca a nossa saúde mental

“Parece que sou duas Margaridas”: Como o conflito interno marca a nossa saúde mental

“Parece que sou duas Margaridas”: Como o conflito interno marca a nossa saúde mental

26 Maio 2025, Segunda-feira
Psicóloga clínica e psicoterapeuta psicanalítica

“Parece que tenho dentro de mim 2 Margaridas. Uma que me puxa para a vida e outra que me destrói. Uma que tenta ver o lado bom das coisas e outra que, ao mínimo erro, aparece para me criticar. Sinto-me tão triste e tão cansada desta luta.

Muitos são os pacientes que chegam ao consultório numa autêntica guerra interna. Num conflito entre as forças que puxam para a vida e as que aprisionam na dor. Esse embate pode ser lido como a luta entre o princípio da vida (Eros) e o princípio da morte (Thanatos) e ainda como o embate entre o eu e as vozes tão duras que por vezes são emitidas pela nossa censura interna. Essa mesma censura interna é, frequentemente, herdeira das vozes que nos moldaram, dos olhares que um dia nos fizeram duvidar de quem somos, ao longo da nossa vida. Viver nesta luta trás muito sofrimento. Ao mínimo erro ou falha no alcance de uma imagem idealizada de nós-próprios, a auto-censura pode ser arrasadora. Isto gera tristeza, ansiedade e, muitas vezes, sensação de que nunca somos suficientes… mesmo que na vida possamos ter imensos exemplos de que o fomos. Frases como “Que estúpida que sou.” ou “Nem vale a pena fazer isto, vou falhar” ou ainda “Só fiz porcaria na minha vida” são muito frequentes e extremamente nocivas para a saúde mental.  Aumentam a ferida já tão aberta da imagem e do afeto que temos por nós próprios. Como é connosco não ligamos… mas imaginemos que dizíamos constantemente isso a outra pessoa. Quando as pessoas se dão conta deste diálogo interno (pois muitas vezes é automático e inconsciente) perguntam-me como fazem agora para acabar com este lado tão auto-destrutivo. “Se fosse possível arrancá-lo…” mas não é. A forma de suavizar um conflito tão enraizado é muito mais complexa e menos imediata do que se quer e do que muitas vezes se pensa. Há que tornar mais robusta a parte benigna da mente e proporcionar um “diálogo” entre ambas. A nossa censura interna não precisa ser um carrasco cruel. Ela pode ir aprendendo a suavizar ajudando-nos a amadurecer em vez de nos destruir. Quando o diálogo interno é possível, de uma forma gentil e empática, deixamos de viver em guerra, com constante medo da falha e das críticas, sejam internas ou externas. Porque se estivermos mais robustos internamente, o que vem de fora não magoa tanto. Deste modo as pessoas podem sair de quadros depressivos e ansiogénicos em que se encontram, por vezes, há muitos e muitos anos. De tal forma que nem sabem como é viver de outro modo.

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As duas Margaridas da Margarida não precisam de ser inimigas. Podem aprender a coexistir. A Margarida que se culpa também pode permitir florir e a que sonha pode compreender que a sombra também faz parte do bonito jardim.

Também já se sentiu assim? Talvez esteja na hora de começar a tratar de si.

NOTA: Nomes Fictícios

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