Agora que tanto se tem falado em racismo, xenofobia e violência, incluindo a que se pratica sobre animais, está aí um filme em exibição que retrata magistralmente o resultado a que tudo isto pode levar. Trata-se de “Os Miseráveis”. Não, não nos referimos ao que é baseado na obra-prima de Victor Hugo. Mas também lá vai beber. E não só o título! O tema, é o mesmo descrito pelo genial escritor; a miséria, a injustiça, e a violência que elas geram. Portanto, o principal protagonista, não é Jean Valjean, o homem que roubava para comer e para alimentar a família e que por isso foi condenado. Século e meio depois, o principal protagonista, é o adolescente Issa (Issa Perica) que roubou uma cria de leão num circo para brincar com ela.
O cenário é um dos problemáticos bairros periféricos de Paris controlado por gangues. Aliás, num desses bairros, onde viveu Ladj Ly. O maliano filho de imigrantes que idealizou e dirigiu o filme em questão. Vencedor da 25ª edição do Prémio Lumiére e Palma de Ouro no Festival de Cannes 2019.
Issa, rouba o leãozinho e a Brigada Anti-crime da Polícia tenta recuperá-lo. Para isso, tem que enfrentar o já cadastrado jovem e os seus amigos organizados, e os líderes religiosos e criminosos que controlam o bairro. Tarefa ciclópica e muito perigosa.
A história passa-se num bairro de Paris, mas não poderia passar-se em qualquer outro de tantas grandes cidades, incluindo Lisboa, Porto, ou Setúbal?
Portanto, um filme a não perder, assim como a meditar nas sábias palavras do grande Victor Hugo : “Meus amigos, lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: – Há, sim, maus cultivadores”.