Ao escrever este título provocante (para alguns mesmo “obsceno”), tinha em mente umas declarações do atual Bispo de Roma, de nome Francisco, lembrando o outro Francisco, o de Assis, em que declarou numa recente entrevista que “o Vaticano era a última corte europeia de uma monarquia absoluta”. E referia-se, ao classificar assim o Vaticano aos – como ele disse -mexericos que lhe atribuíam a intenção de abdicar, como fez Bento XVI que assim colocou um ponto final ao absolutismo dos Papas, tornando o Papado numa função que decorre da sua nomeação á sua resignação. Assim, na prática se retirou aos Papas a aura do sagrado.
E esta opinião expressa duma maneira ligeira tem em pano de fundo todo este movimento – toda esta verdadeira revolução (não belicosa, mas “da ternura”) – que representa este avassalador movimento para a realização do sínodo dos bispos em 2023. A “sinodalidade” que é já de o senso comum traduzir-se como “caminhar juntos”, num apelo à fraternidade universal bem desenhada numa “Encíclica” de Francisco “Fratelli tutti”. E este movimento de dessacralização se estendesse a todo o edifício da Igreja como ela existe há séculos e acabando numa organização extremamente rígida, hierarquizada, cheia de regras e dogmas intransponíveis e ignorando século após século os avanços da ciência, a organização das sociedades laicas, , fazendo “finca pé” na sua organização “empedernida” e cada vez mais afastada, não só da realidade, mas ainda mais grave, afastando-se totalmente da verdadeira maneira de viver que Jesus na sua curta vida nos ensinou e nos pediu para vivermos!!
Como já aqui dissemos só passados 70 anos após a publicação do Manifesto de Marx e Engels, o Papa Leão XIII iniciou toda uma análise dos problemas sociais, seguida da publicação pelos papas seguintes duma serie de cartas encíclicas que constituem o que é uso chamar “a doutrina social da Igreja”, culminando nos valiosíssimos documentos saídos do Concilio Vaticano II que durou três anos e construiu os verdadeiros alicerces duma Igreja no seu devido caminho. Só que o Edifício estava (e ainda está!) tão “empedernido” que pouco mudou afugentando ano após ano muitos fiéis para fora dela.
E aí estamos na sinodal idade, no “governo” de Francisco, e próximos do sínodo de 2023! Estaremos a ver a estrutura de poder atingido pela atual hierarquia abraçando com entusiasmo esta “revolução”? Estaremos a sentir um generalizado apelo para que este mundo vivendo uma crise profundíssima sob qualquer aspeto em que a analisemos – têm sido chamados os “desertores” que se afastaram? Será que o Estado do Vaticano tem razão de existir como um “corte absolutista “onde abundam os mexericos (Francisco dixid)!?
Será que o Vaticano com o atual modelo tem razão de existir? Não será a hora dos cristãos viverem pensando e ajudando os outros, doentes, pobres, excluídos, etc? Não será a hora de apoiar sem reservas a “revolução da ternura”, isto é, de participar em força na sinodalidade? Não será verdade que hoje o Vaticano é mesmo um “fóssil” digno de museu ou de página de história? E lembro que o Papa João XXIII (ainda meu contemporâneo )é que deixou de vir à Praça de S. Pedro aos ombros de seis homens, e lembro-me – chocado – de ver na TV a posse do Arcebispo de Braga rodeado de trajes dourados, de cauda e outros adornos dignos do Imperador Alexandre de há séculos, e lembro-me da iniciativa do nosso primeiro Bispo que quis formar (e formou) uma Assembleia Diocesana para partilhar com ele o governo desta Diocese acabada de nascer, ter de lhe por termo por pressão do clero e da CEP !
Não será mesmo urgente a revolução da ternura? E o mundo necessita tanto de homens novos!