4 Julho 2024, Quinta-feira

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O Sr. Bispo é que sabe !

O Sr. Bispo é que sabe !

O Sr. Bispo é que sabe !

, Médico
18 Novembro 2021, Quinta-feira
Mário Moura - Médico|

Numa diocese qualquer, em qualquer parte do mundo católico, se quisermos saber algo da vida dessa diocese, é certo que recebemos esta resposta : “o Sr. Bispo é que sabe”. Mas se passarmos para uma qualquer paróquia receberemos certamente uma resposta idêntica “o Sr. Padre é que sabe”. Estamos portanto nos domínios do poder! Não é de admirar – pensemos por exemplo que D. Afonso Henriques só foi considerado Rei de Portugal depois da confirmação do Papa de então. E sem sairmos da nossa História, lembremo-nos que El Rei D. Manuel à frente dum país que tinha já uma dimensão mundial pela nossa saga dos descobrimentos, com as riquezas do Brasil e das Índias, sentiu a necessidade de mostrar a sua grandeza (a nossa grandeza!) enviando uma enorme e rica comitiva a Roma ao Papa de então.

Não nos admiremos desta sujeição do poder político ao Papa. Cúpula duma hierarquia piramidal com o Papa no topo seguido dos cardiais e depois dos bispos e dos padres. Pirâmide hierárquica que tem perdurado séculos. Só com João XXIII, bem próximo de nós, o Papa deixou de vir à Praça de S.Pedro num trono aos ombros de seis homens. Sabemos que os cristãos saíram da sua vida semi oculta nas catacumbas, depois do Imperador Constantino , lá pelo sec. trezentos e tal, se ter convertido e declarado o Cristianismo religião oficial do Império Romano que cobria a área da nossa Europa. E então a Igreja organiza-se à maneira do Império Romano. E assim vai nascendo este tipo de Igreja hierarquizada até na prática, aos nossos dias – daí o Papa, os cardiais, os bispos – todos com Dom – e os presbíteros – uma cadeia de poder. É evidente que com a evolução social, século apos século, a sociedade se foi democratizando, muitos reis, princesa e duques ou condes foram desaparecendo, a própria Igreja se foi preocupando com os problemas sociais construindo uma verdadeira Doutrina Social apontando para uma sociedade da igualdade e da fraternidade, mas a cadeia hierárquica dos cardiais e bispos com Dom tem -se mantido até aos nossos dias resistindo ás mudanças da sociedade em que vivemos – essa cadeia de poder tem-se mantido – daí o “o Sr. Bispo é que sabe!”.    Mas eis que o Papa Francisco quere ser apenas o Bispo de Roma e surge com uma nova maneira de ser cristão que afinal é a maneira como viviam as primeiras comunidades cristãs que APENAS viviam como Jesus ensinou que deveríamos viver. E vem com a novidade (para os leigos) da SINODALIDADE – VIVERMOS E CAMINHARMOS TODOS JUNTOS.. E arranjou inimigos e tem consciência das resistências que tem encontrado numa Igreja clericalizada – pastores e leigos! E ao convocar um Sínodo no Vaticano para 2023, a coroar sínodos de continentes com prévios sínodos de cada país e…de cada diocese. E a sua consciência das resistências que ia (que está) encontrar envia guias, manuais, “vade mecuns”, e tudo o necessário para anular argumentos contra. Não há que fugir “o que diz respeito a todos obriga a que todos possam (e devem!) participar. Aqui por Setúbal o nosso primeiro Bispo quis ouvir todo o seu povo que Deus punha á sua guarda, e aí surgiram Assembleias Diocesanas com delegados das paróquias. Esta experiência durou uns dois ou três anos e teve perder a sua sinodalidade pela força do plenário dos bispos de então e – consta – até do Vaticano.  E deixemo-nos de meias palavras – estamos perante uma questão de poder! A esperança de muitos cristãos (que estão menos clericalizados) é que na nossa Diocese a marcha da sinodalidade se vá fazendo sem grandes resistências e todos possam ser ouvidos, de dentro ou mesmo de fora da Igreja, e em especial os mais pobres e marginalizados a quem é necessário dar voz, pois neles habita igualmente o nosso Deus!!

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Há dias falando com alguém sobre a pandemia com alguém que pouca ou nenhuma cultura sobre saúde dei comigo a dizer-lhe: oh pá não digas isso, és um leigo nessa matéria! E fiquei a pensar que na mossa Igreja havia os sacerdotes e …os outros – nós, afinal – eramos leigos sem direito a palavra!

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