27 Junho 2024, Quinta-feira

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O serviço nacional de saúde… vai “abortar”?

O serviço nacional de saúde… vai “abortar”?

O serviço nacional de saúde… vai “abortar”?

, Médico
20 Julho 2022, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

O SNS tem sido considerado frequentemente como a principal consequência do “25 de Abril” a seguir – é claro! – á Liberdade! E – em nossa opinião é uma afirmação verdadeira. Desde a sua criação, no tempo do Ministro Arnaut, e após os aconselhamentos de dois médicos britânicos do então famoso Sistema inglês, as suas bases foram sendo progressivamente melhoradas e atualizadas. Um sistema de saúde era para o público em geral a cadeia de hospitais com uso das grandes conquistas tecnológica, após o preciosismo dos meios de diagnostico (de imagem e laboratorial) e, especialmente, após o delírio dos transplantes. No entanto um SNS tinha, alem dos chamados “cuidados secundários” – a rede hospitalar – os chamados “cuidados primários” que resolveriam cerca de 80% das queixas duma população. Era a grande novidade dos serviços de saúde, o pôr a tónica numa rede de pequenas unidades de saúde, cobriria o território nacional, dando assim assistência à totalidade duma população. Daí o entusiasmo da criação do nosso SNS. Só que legislar parecia fácil, mas convencer os médicos da carreira hospitalar a considerarem em pé de igualdade os seus colegas dos tais “cuidados primários” (e ainda duma terceira carreira chamada de “saúde pública) não foi fácil. E para consolidar estas três carreiras foi necessário criar uma especialidade nova – a “carreira de clínica Geral” com pós-graduação como a de qualquer outra especialidade.    Porem a carreira de clínica geral também foi sofrendo modificações na sua pós-graduação fora dos hospitais, os estudantes de medicina faziam a sua pós-graduação com os doentes internados e – como era evidente – a maioria dos doentes não necessitavam de hospitalização e assim os médicos “no terreno” eram confrontados com situações que nunca teriam visto nos hospitais.  Alem disso Medicina Geral foi-se transformando em Medicina de Família levando em conta os meios sociais envolventes e os efeitos da psique no adoecer humano. Aí mais uma luta para convencer os médicos em geral, as faculdades e …o poder político. Faço esta descrição para que os nossos pacientes percebam bem que os médicos de família têm uma formação como um cardiologista ou outra qualquer especialidade. Desde a criação do nosso SNS até há cerca duma dezena de anos, os nossos Cuidados Primários de Saúde foram sempre aumentando a sua eficiência, mas dificuldades económicas nos tempos da “troica” e depois da tragédia dos anos da Covid, este crescimento de eficiência e de cobertura territorial com USFs parou, e – oh! Desgraça! – foi totalmente adulterado enquanto os hospitais brilhavam com a sua alta tecnologia e – é evidente – com a sua dedicação.  Ora, fala-se agora nos efeitos deletérios desta destruição dos Cuidados Primários – doentes crónicos praticamente abandonados, rastreios postos em “stand by”, cancros não diagnosticados a tempo, hipertensos e diabéticos abandonados á sua (má) sorte, etc. E as populações agitam-se e os protestos e …acusações acordam o poder político para a gravidade da situação. Vêm dinheiros da União Europeia e um novo governo faz promessas e apresenta planos – ditos estruturais – mas que estão completamente viciados da crónica ignorância do que são “cuidados primários” e- em especial – o que é “medicina de família”. E Senhores importantes sugerem uma formação acelerada para os médicos, há a indicação pelo próprio Ministério do reforço do pessoal médico com médicos de outra especialidade ou (espante-se!) sem qualquer especialidade. Isto é a demonstração cabal duma ignorância total do valor – e da necessidade – da especialidade de Medicina Familiar. E os médicos de família protestam com ruído …e bem!  E é “á pala” desta eterna ignorância que tem proliferado o “negócio da saúde” com hospitais privados, clínicas e seguros de saúde Alem da ignorância estamos perante um problema político: a saúde dos portugueses é (tem de ser) uma das obrigações do Estado! E o problema não é só de dinheiro – são necessárias carreiras com provas intercalares, etc. etc.!! Eis um tema que necessita maior desenvolvimento nas colunas deste jornal!

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