Reparem que não escrevi Sistema Nacional de Saúde, mas Serviço! E não foi por engano, foi deliberadamente, pois são coisas bem diferentes!
Quer queiramos ou não a Saúde é uma incumbência numa sociedade democrática dos governantes por nós eleitos para organizar as coisas da nossa vida em comum.
Isto é: a saúde é um problema político (da organização da “polis”–da cidade da sociedade.
E não é, nem pode ser um negócio, como tudo presentemente nas nossas sociedades o é!
As nossas sociedades que se dizem democráticas têm-se transformado “pé ante pé” em sociedades assentes no negócio, na produção intensiva, na propaganda, no engodo, e… nos lucros.
E a saúde não escapou a esse processo avassalador que modelou toda a nossa maneira de viver.
Por isso parece-me legítimo perguntar, em primeiro lugar, a quem me lê, se considera a saúde um bem essencial ou um produto de venda e de negócio.
Quem quiser dá para si a resposta pois eu já dei a minha – a saúde é um encargo daqueles a quem entregamos democraticamente o governo das nossas vidas… e não um negócio.
Daí entendermos que o Serviço Nacional de Saúde é algo de importância fundamental, o que aliás se viu – e sentiu – durante a última pandemia. E presentemente é assunto permanente na TV: ele são as maternidades fechadas, ele são os centros de saúde com filas, ele é a acusação de atrasos em cirurgias, ele são acusações de abandono de doentes crónicos , etc., etc.
E o actual Governo é acusado de mundos e fundos, é posto em cheque por mil e uma coisas pela chamada oposição. E quase sempre com carradas de razão!
Os governantes defendem-se com medidas avulso, remendo aqui, remendo acolá – mas sem medidas verdadeiramente “de fundo” como é uso dizer-se. Mas os atuais governantes parece que terão boa vontade de apoiar o nosso SNS, mas numa total ignorância do que é um SNS, e – especialmente o que são cuidados primários de saúde.
E começam reuniões com sindicatos dando de imediato a ideia de que o problema é essencialmente um problema de pagamentos (sempre o deus cifrão !!).
Ora a questão é muito mais profunda!
Eu sei que sempre, ao falar-se de medicina e tratamentos se pensa de imediato numa sala com aparelhos com gráficos luminosos, com ruídos rítmicos de “apitinhos” , de tubos a correr líquidos nas veias.
Eu sei que depois da pandemia a situação do que é tratar se agravou com a imagem das salas de cuidados intensivos – é a medicina tecnológica a impor-se e a meter-se pelos olhos dentro das populações. Mas meus queridos leitores em cada mil pessoas que se queixem de algo uns 200 curam-se por si sem nenhuma intervenção, umas centenas tomam um qualquer remédio que conhecem ou lhes é indicado pela vizinha ou um amigo, mais uns tantos vão ao médico que os medica com cuidado, uns tantos têm de fazer exames mais especializados em regime ambulatório , destes poucos terão de necessidade de cuidados hospitalares, e apenas um necessita de internamento – dizem muitos estudos estatísticos credíveis.
Quero com isto dizer que a grande preocupação dum SNS deve incidir essencialmente na rede de “cuidados primários de saúde” e nestes é essencial estarem “médicos de família” e não apenas médicos de outras especialidades ou médicos em formação, como é o objetivo do atual ministério que até tem dinheiro da “bazuca” para construir 150 novos centros.
Mas, em primeiro lugar é necessário que se tenha a noção do que é “adoecer”, é necessário que se considere que uma pessoa adoece – isto é: não se sente bem – por muitas razões, muitas das quais têm a ver com os seus problemas familiares, com os seus relacionamentos familiares e até – muitos – com os ambientes durante a sua gestação e a sua infância, períodos em que um ser humano “se constrói”.
E este assunto candente do nosso SNS tem muito que se lhe diga! Por isso “continua no próximo artigo” .” Me aguardem”.
Não é a tecnologia nem …a inteligência artificial que vêm “salvar” o nosso SNS- a grande conquista de Abril!
