Se existe um momento que eu considero simbolicamente representativo e que conduziu inexoravelmente à progressiva instabilidade do Vitória Futebol Clube, é o que irei relatar a seguir.
Corria o ano de 1995 e o Vitória encontrava-se em época eleitoral, com duas listas lideradas, respectivamente, por Josué Monteiro e Justo Tomás.
Pavilhão Antoine Velge repleto de vitorianos; ambos os candidatos circulavam alegremente por entre as centenas de vitorianos.
Na ocasião, eu votei na lista de Josué Monteiro.
Com os resultados da contagem, verificou-se que Justo Tomás venceu por escassa margem as eleições para os órgãos sociais do Vitória.
Assim que se soube o resultado oficial da votação, Josué Monteiro pegou no microfone e fez um discurso rápido, inspirado e inspirador de união entre os Vitorianos, que mais parecia ter sido ele o vencedor das eleições.
Nessa ocasião, Josué Monteiro deu-nos a todos, um magnífico exemplo de como se perde com desportivismo, com dignidade e com muita, muita elevação.
Esta foi uma lição de vida que nunca esqueço e que me acompanha sempre.
Josué Monteiro era um Senhor, um Cavalheiro, na educação esmerada, na palavra gentil, no trato fino e delicado, na atitude suave e na simplicidade que possuía. E no seu Enorme Vitorianismo.
Josué Monteiro foi um dos principais impulsionadores, com Alcides Gomes, António Cordeiro, Ricardo Santos, Vítor Silva e outros, da nossa outrora magnífica sala de troféus, muito justamente ostentando o seu nome, numa altura em que os muitos nossos troféus se encontravam ainda encaixotados.
Ainda havemos de regressar a este tema noutra crónica.
Mas fechemos o parêntesis e regressemos à eleição. Quando chegou a vez do candidato vencedor, Justo Tomás, efectuar o seu discurso de vitória, este enviou alguém para informar os presentes, que se encontrava indisposto.
Ficámos, portanto, sem saber quais seriam as principais linhas orientadoras do seu mandato.
Justo Tomás efectuou dois mandatos; um completo, de 1995 a 1997 e o outro incompleto, de 1997 a 1998. Foi durante os seus mandatos que foi criada a Vitória FC SAD.
Uma das primeiras medidas que Justo Tomás tomou, foi colocar dois muros, situados entre o Pavilhão Antoine Velge e o lado Este do Estádio, junto à porta principal.
O objectivo era limitar o acesso dos vitorianos, que ainda por cima, serve de local de atravessamento para muitos transeuntes.
Os sócios protestaram energicamente e Justo Tomás viu-se obrigado a retirar os referidos muros.
Começou mal, portanto. Despesas de pouca monta, mas inúteis.
Durante os mandatos de Justo Tomás foram vendidos os terrenos junto à baliza norte do campo de treinos, para se construírem prédios, o que acarretou que este deixasse de ter utilidade como campo de futebol de onze.
O referido campo servia para se efectuarem muitos jogos e para treinos da equipa principal de futebol, poupando, dessa forma, o relvado principal do Estádio do Bonfim.
A partir daí, as camadas jovens tiverem de se deslocar para as Praias do Sado, Faralhão e Pontes, para treinarem e jogarem.
Seguiu-se-lhe Sousa e Silva (1998-1999) e Henrique Cruz, (1999), comissão de gestão.
Contudo, foi nessa eleição, de 1995, que, quanto a mim, marcou o início do caminho de instabilidade do Vitória.
Embora sejam dados naturalmente confidenciais, confesso que teria alguma curiosidade em saber, das centenas de dirigentes que passaram pelo Vitória Futebol Clube, ao longo destes cerca 30 anos, quais são os que continuam a ser, de facto, sócios do clube.
Provavelmente iríamos ter surpresas desagradáveis.