Falámos aqui há umas semanas que o Papa Francisco queria abrir a janela da nossa Igreja para que se fizesse um grande arejamento da nossa vida como crente em Jesus e congratulamo-nos por o nosso Bispo parecer dar seguimento entre nós desse desejo de Francisco.
E eis que de Roma vem mais um “vento forte” ao convocar um “Encontro Mundial de Famílias”, mas indicando directivas excepcionais pois pede que em todas as dioceses católicas se realizem assembleias preparatórias, isto é, pede que se realizem assembleias diocesanas… que incluam toda a comunidade, todas as famílias.
E certamente sabendo bem que os leigos por essas dioceses fora nem sempre são ouvidos na equação dos problemas das sociedades e muito menos em soluções tomadas democraticamente por todos. O nosso Papa afirma que se os problemas são de todos, todos neles se devem ouvir e comprometer-se.
Há muito tempo que teólogos mais “abertos” se empenhavam em conduzir a vida da nossa Igreja para uma verdadeira comunhão de todo o povo de Deus. Estou recordando um livro dum desses teólogos que tinha como título “Crer é Comprometer-se”. E estou recordando como D. Manuel Martins logo no início da sua vida como Bispo de Setúbal quis implementar uma Assembleia Diocesana com representantes eleitos (não apenas indicados pelos Párocos) de cada paróquia. Estava-se nessa altura no caminho certo, mas não viveu muito tempo pois a Igreja em geral estava muito anquilosada por séculos duma organização hierarquizada que nascera à sombra do Imperio romano. E por aqui até o nosso regime político censurava todo e qualquer texto que tentasse dar voz aos documentos do Concílio Vaticano II. Era impossível “abrir a janela “como desejou o Papa João XXIII!
Ora Francisco pretende, mais que “abrir uma Janela” quer fazer uma verdadeira revolução. E para tal é necessário que o clero dominante e os fiéis – os que se dizem cristãos – sejam permeáveis a essa mudança, melhor ainda, desejem tal mudança. O Papa até nos pede que sejamos dinâmicos, ativos e criativos – as palavras são d,Ele.
Os católicos alemães que enveredaram em primeiro lugar pela organização sinodal propõem mais poder para todos, mais participação para homens e mulheres – sempre na vanguarda das reformas da Igreja.
Ora o nosso Bispo D. José Ornelas entreabriu a janela, em dia de Pentecostes, declarando que a nossa Diocese iria entrar no caminho da sinodalidade no aniversário da nossa Diocese, mas o “Encontro Mundial das Famílias” agora anunciado pelo nosso Papa está marcado para 2022, para o ano que vem. Não será que se devia “abrir a janela” mais cedo? Não seria muito importante que entre nós se acelerasse o processo transformador e inovador?
Eis um verdadeiro apelo aos nossos cristãos, à nossa fração diocesana do Povo Universal de Deus. Os nossos jovens estão mobilizados para o grande encontro da juventude universal que se realiza em Portugal. Mas todos assistimos às grandes mobilizações em redor das múltiplas viagens do Papa João Paulo II seguidas dum regresso à quietude morna das tradições. Necessita-se duma reforma mais funda, não só de folclore, mas do coração de cada um!