A Câmara Municipal de Almada apresentou, para discussão pública, uma primeira proposta de traçado para a expansão do Metro Sul do Tejo até à Costa da Caparica e à Trafaria – um projeto com cerca de 20 anos. Pura coincidência a apresentação ter sido em ano de autárquicas, tal como aconteceu, há 4 anos, com o Innovation District e, antes ainda, com a Cidade da Água.
É já evidente, para qualquer Almadense, que, em ano de autárquicas, é possível que a sua freguesia seja a contemplada com o anúncio do grande projeto do momento, que depois, afinal, não passa de uma ilusão. Este ano, o Monte de Caparica e a Trafaria voltaram a receber o anúncio de um grande projeto (à semelhança do Innovation District), mas, desta vez, também a Costa da Caparica. Só que existe diferença para as ilusões anteriores; a expansão do Metro Sul do Tejo concorre a fundos europeus do Programa Ação Climática e Sustentabilidade, inserido no Portugal 2030, que são necessários captar para não se perderem. Assim, o exposto na sessão de apresentação merece análise e discussão por várias questões que levanta.
Queria, no entanto, realçar que levantar questões sobre o projeto não significa ser contra a ideia da expansão do Metro Sul do Tejo. Pelo contrário, este tipo de mobilidade, quando bem pensada e implementada, é importante e útil para as cidades, nomeadamente as de média dimensão. Não é à toa que a Iniciativa Liberal as defende. Levantar questões significa apenas isso: ter dúvidas. Dúvidas de quem, até por razões familiares, conhece muito bem a zona – a Trafaria (onde meus avós maternos viviam) e a zona de São João, na Costa da Caparica. Dúvidas legítimas de quem viu o centro de Almada, antes uma zona vibrante de comércio de proximidade, definhar após a construção da linha do metro pela dificuldade de circulação que criou para as pessoas que ali vivem, trabalham ou, simplesmente, vão às compras.
O que foi apresentado não explica por que razão a maioria da população da Costa da Caparica, e, talvez, com menores rendimentos – que mais precisa de transportes públicos – não é servida pela linha. Por que razão, quando chega à Costa da Caparica, a linha segue para uma zona de apartamentos e vivendas, muitas delas, de segunda habitação? Qual a expetativa de tráfego? E para a linha avançar pela Avenida Afonso de Albuquerque, como será o traçado, a circulação de peões, bicicletas e automóveis? Além disso, o trajeto Trafaria-FCT, que hoje se faz em poucos minutos de carro, vai demorar 20 minutos de metro? Dez estações para 7 quilómetros (uma estação a cada 700 metros) sustentam-se face à população residente? E, na Trafaria, maioritariamente idosa, qual a previsão de passageiros? O ponto é: quando se apresentam projetos desta dimensão, tendo em conta os seus custos e impactos, seria importante que questões semelhantes fossem, de imediato, respondidas.
A expansão do Metro Sul do Tejo é essencial para a Costa da Caparica, mas também seria para a Charneca da Caparica e Sobreda, a freguesia que mais cresceu no concelho de Almada, que continua sem transportes adequados e sem sequer ser considerada na expansão do Metro; o mesmo acontece na Amora, Arrentela ou Seixal, no concelho vizinho. Dada a importância do tema espero que as próximas sessões sejam mais esclarecedoras e que a 6 de março, na conferência de encerramento, destinada à apresentação das conclusões para a fase seguinte, estas e outras dúvidas estejam esclarecidas.