Nos últimos tempos, todas as conversas em Almada vão dar ao mesmo: está tudo sujo. São torres de lixo, pragas de baratas e de ratos, ruas malcheirosas e ervas do tamanho de gente crescida. A presidente da Câmara Municipal, Inês de Medeiros, admite o problema, mas culpa sobretudo a população. Quem passa pelos labirintos de sacos sabe a verdade: é incompetência do Executivo PS/PSD.
Almada já teve os seus maus momentos, mas nunca vimos o nosso concelho tão mal estimado. E isso é consequência das decisões políticas, das opções orçamentais e da visão sobre o serviço público por parte da maioria PS/PSD na Câmara.
Inês de Medeiros, sempre pronta para culpar a população e não o seu Executivo, exclama que o estado deplorável do concelho se deve à “falta de civismo” das pessoas. Não sabem andar dez metros, abrir o contentor e colocar os seus resíduos lá dentro.
Se quer sensibilizar a população, não bastam intervenções pretensiosas em reunião de Câmara. Haja campanhas a sério para fomentar boas práticas de cuido do espaço público. Mas essa afirmação ignora o simples facto de que quase sempre o contentor está cheio há dias, ou simplesmente as pessoas não aceder ao mesmo tal é a corrida de obstáculos com os sacos nos passeios.
A verdadeira raiz do problema é estrutural: há anos que o município tem desinvestido nos serviços de higiene urbana e recolha de resíduos, com a redução de recursos humanos e a falta de manutenção dos equipamentos. Não esquecemos também a privatização ruinosa da AMARSUL pelo governo da Troika – hoje os munícipes sentem esse peso na fatura e o serviço só piorou.
Não se consegue contratar trabalhadores? Pudera. Quem quer preencher um cargo fisicamente árduo, com horários angustiantes e falta de meios – ficando ainda mais exposto à sujidade e a riscos – sem direito ao subsídio de penosidade e insalubridade, sem perspetivas de carreira e para receber praticamente o salário mínimo? Isto tudo, sendo que a maioria dos novos trabalhadores não está sequer integrada no quadro de pessoal do município.
O Bloco tem uma solução inédita: aumente-se os salários. Valorizem-se as carreiras. Garantam condições dignas de trabalho. Chama-se respeito pelos trabalhadores e é a base para qualquer serviço de qualidade.
Tudo aponta para uma estratégia de degradação intencional dos serviços públicos, preparando o terreno para a privatização. Em 2023, a Câmara iniciou processos para contratar prestações de serviço para a recolha de resíduos urbanos, isto é, externalização.
É o ex-libris de PS e PSD: primeiro degrada-se o serviço público até que todos estejam insatisfeitos, depois entrega-se o serviço ao privado. Lavam as mãos das responsabilidades e pagamos nós. E pagamos por pior. porque o privado, sempre focado no lucro, não se vai preocupar em ir à rua da dona Amélia para apanhar a montanha de sacos de lixo à sua porta.
O Bloco de Esquerda denuncia estas opções. Queremos um serviço municipal capaz e dotado de meios, que respeite e valorize os trabalhadores e que cumpra o seu papel para a população. É simples e é só querer e fazer escolhas políticas e orçamentais para tal.
Os almadenses não têm poupado Executivo PS/PSD de Inês de Medeiros: a sua incompetência constitui um risco à saúde pública, uma desvalorização do nosso território e um mal-estar social inadmissível. Almada está transformada em lixeira e a culpa é da Câmara.