Entrámos há cerca duma semana na época das festividades e iluminações em quase todo o mundo ocidental. No decorrer da minha vida – estou a caminho dos cem anos – neste já longo tempo que levo de vida, noto que, ano após ano, este delírio de luz e ornamentações, das ruas, das montras, de armazéns ou de pequenas lojas, tem vindo a aumentar. As cidades por esse mundo abrem competição na intensidade da luz e na altura das suas árvores do Natal.
Estamos, portanto, no Natal, uma das maiores festividades da vida cristã. Outra ideia de inspiração religiosa, e marcante, é a Pascoa. Mas a época natalícia bate tudo nas iluminações e festejos. Todos (?) sabem a razão: comemora-se o nascimento de Jesus, o Deus feito homem, para ensinar os homens a viver no bem e na caridade. Uns centos de anos depois deste facto histórico, S. Francisco de Assis criou o presépio, introduzindo entre os cristãos a ideia do nascimento de Deus feito homem, mas com uma característica fundamental de diferença com os costumes hoje em uso. Nada de luzes nem festejos, pois o Deus-menino nasceu numa gruta na companhia dos seus pais, que não encontraram hospedaria livre, e tendo por companhia os habitantes do curral, uma vaca e um burrico. E acorreram a saúda-lo apenas uma dúzia de pastores que ofertaram apenas os bens que tinham da terra. Acrescentou- se a esta tradição a da chegada dos três Reis Magos, guiados por uma estrela e simbolizando que, alem dos pastores, também a gente rica vinda dos quatro cantos do mundo foi atraída pela chegada do Deus ao meio dos homens. Quem reinava naquela região, ouvindo dizer que nascera o rei dos judeus e, como ninguém lhe dava notícias seguras, mandou os seus soldados matar todas as crianças nascidas naqueles dias – porém, Maria e José pegaram no Menino Jesus e fugiram no seu burrico para o Egipto.
Já se nota nesta descrição muita fantasia e nada justifica o afã e o delírio que se vive com as iluminações e as festividades que duram quase um mês nas nossas cidades. E este ambiente duma festa em grande, sente-se que está impregnado da euforia comercial, da sedução para comprar a atingir meio-mundo. Tudo para implementar o negócio e movimentar os dinheiros, numa palavra; os negócios.
Após a derrota do nazismo, com a inolvidável ajuda dos Estados Unidos da América (EUA), a nossa Europa passa a ser dominada pela ânsia dos negócios e até o Natal, sofre a grande influência da América. Na propaganda da Coca-Cola surge a figura dum Pai Natal que vinha do oriente com um trenó cheio de prendas para distribuir. Assim, aumenta esta febricitante mania de dar prendas nesta época, imitando certamente umas cenouras, couves ou batatas que os pastores levaram ao Menino Jesus que nascera numa gruta – aqui reina a pobreza e a simplicidade. Sabemos como o presépio surge muitos anos depois do verdadeiro Natal. Percebemos como a euforia das prendas e do comércio e como a dominação do nundo moderno pelo consumismo e desejo das intensas decorações, nada têm a ver com o nascimento de Jesus.
Todo este delírio das festividades, das decorações e dos presentes a oferecer às crianças e aos adultos é um aproveitamento chocante da fé e da religiosidade das pessoas.
Será que, nesta época louca, toda a gente saiba o que é verdadeiramente o Natal?
Não seria útil e educativo que as crianças saibam quem foi Jesus? Não teríamos um mundo diferente, sem estar à beira duma guerra total e não estaríamos rodeados de pessoas de bem em vez de troca e venda de armas? Não estaríamos melhor, sem um mundo ecologicamente, igualmente, à beira dum descalabro?
Seria tão simples se há umas décadas se ensinasse verdadeiramente o Natal às crianças de então, que são os governantes de hoje.
De que nos serve uma Notre Dame cheia de bispos só da diocese de Paris? Quem responde a estas interrogações? E quem em casa se preocupa em não pensar só em prendas?