“O desaparecimento de Ennio Morricone irá privar-nos de um artista insigne e genial. Músico simultaneamente refinado e popular, deixou uma marca profunda na história musical, principalmente na segunda metade do século XX. Através da sua música, contribuiu decisivamente a difundir e reforçar o prestígio da Itália no mundo”.
Sergio Mattarella, Presidente da República Italiana
Nascido em Roma em 1928, Ennio Morricone diplomou-se pelo Conservatório de Santa Cecília, em trompete, composição, instrumento, direcção de banda e música coral.
Esteve ligado a inúmeros sucessos de música ligeira com Gianni Morandi e Mina.
O seu primeiro contacto com o cinema ocorreu no filme de Luciano Salce ”Il Federale” (1961), estabelecendo, de seguida, com Sergio Leone uma parceria que se manteria por muitos anos, nomeadamente no género de filme popularmente conhecido como Western Spaghetti; “O Bom, o Mau e o Vilão”, “Por um Punhado de Dólares”,” Era uma vez no Oeste”.
Em 1984, compôs a banda sonora do filme “Era uma vez na América”, uma vez mais com a realização de Sergio Leone. Existem cenas de suspense, do amor impossível entre Noodles e Deborah, com aquele a espreitá-la por um buraco, que são perfeitamente mágicas, e que a música de Morricone contribui para intensificar o seu efeito sublime.
Nessa cena, existe um trecho intitulado Deborah’s Theme. Não consigo ouvi-lo sem me emocionar a sério e sem deixar cair ocasionalmente uma furtiva lágrima.
Este filme e a sua banda sonora constituíram um marco, consagrando definitivamente Morricone como um compositor de excelência. Sergio Leone fazia os actores ouvirem a banda sonora enquanto gravavam as cenas do filme, como forma de inspiração.
Seguiram-se os filmes “A Missão” de Roland Joffe (1986) e “Os Intocáveis” de Brian De Palma (1989).
Com o realizador Giuseppe Tornatore, produziu uma outra extraordinária banda sonora no filme “Nuovo Cinema Paradiso”, hoje em dia um clássico do cinema e que contribuiu decisivamente para que Tornatore vencesse o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1988.
Morricone compôs 500 bandas sonoras para cinema e televisão, para além de 100 peças clássicas.
Em 2007, o Maestro Ennio Morricone recebeu das mãos de Clint Eastwood um Óscar Honorário “pelas magníficas e multifacetadas contribuições musicais que ofereceu ao cinema”.
Em 2016, venceu o Globo de Ouro e o Óscar pela banda sonora de “Os Oito Odiados”, do realizador Quentin Tarantino.
Ennio Morricone venceu três Grammy Award, três Golden Globe, seis Bafta, dez David di Donatello, onze Faixas de Prata, dois European Film Awards, un Leão de Ouro e um Polar Music Prize. Vendeu mais de 70 milhões de discos, entre bandas sonoras para o cinema e obras diversas.
Continuou a compor para o Cinema e a dirigir até pouco tempo antes da sua morte
Ennio Morricone foi distinguido pelo presidente Mattarella, com o título de Cavaleiro da Grande Cruz da Ordem e do Mérito da República Italiana.
Como salienta a actriz Monica Bellucci “Ci sono persone che hanno la capacità di rendere il mondo migliore perché sanno creare la Bellezza. Ennio Morricone con la sua Musica”.
A título meramente pessoal, gostaria de salientar que Ennio Morricone foi um compositor com uma sensibilidade, criatividade e talento notáveis, que me fez emocionar, sonhar, vibrar e comover como poucos.
Gostava de ser tratado como “IL MAESTRO”.
Toda a Itália chora, entristecida e emocionada, a sua perda.
Choramos todos.