Tenho quase cem anos de idade e uns setenta de jornalista. Tenho por isso muitas décadas de observação das nossas vidas e dos solavancos que as relações entre as pessoas têm tido no processo evolutivo das nossas sociedades e das nossas maneiras de viver e, especialmente, da nossa maneira de, enquanto seres humanos, nos relacionarmos uns com os outros em sociedade e nos diversos povos.
Todos sabemos que há milénios os povos procuravam os melhores espaços para se estabelecerem, acabando por se irem fixando nas margens dos grandes rios onde florescia a agricultura. E passando os séculos nasceram grandes países, com grandes metrópoles. E a vida animada pelas ciências e pela tecnologia foi-se organizando em verdadeiras potencias, umas mais ricas e poderosas, vivendo verdadeiramente à custa da exploração de muitas outras, mais pequenas e especialmente mais pobres. E o mundo foi-se dividindo numa meia-dúzia de ricos (alguns muito ricos) e uma multidão de países mais pequenos, mais pobres e, especialmente, mais explorados. O mundo e a nossa civilização foram-se dividindo com uns explorando muitos outros, o que inevitavelmente resultou em competições e guerras.
E a paz passou a ser um problema!
Já próximo dos nossos tempos surgiram num curto intervalo duas guerras: A de 1914/18, que deu origem à Sociedade das Nações, já com a preocupação da paz, e depois a provocada pelo nazismo (que já é do meu tempo) que envolveu o mundo todo, a Alemanha contra o resto da Europa. O bombardeamento de Pearl Harbor pelo Japão, em que foi afundada a esquadra americana, levou os Estados Unidos a entrarem na guerra, no Oriente com o Japão e no Ocidente, juntando-se à Grã-Bretanha, invadindo a Europa nazi. E após o desembarque da Normandia, caminhando em direção a Berlim atacada também pelo oriente pela URSS. E Hitler suicida-se, os soviéticos entram em Berlim e a Alemanha é dividida pelos países aliados.
Com a Europa toda em ruínas surge de novo o problema da paz!
E surge a Assembleia das Nações Unidas e um Conselho de Segurança! Só que nesta organização os vencedores da guerra têm direito de veto, no chamado Conselho de Segurança, criado para manter a paz resolvendo as contendas surgida em qualquer canto mundo. Não sei se resolveu muitos problemas ou evitou muitas guerrinhas, mas contendas entre os tais grandes (os muito grandes), qualquer solução, mesmo com uma boa resolução, é paralisada pelo tal veto dum dos grandes se estiver envolvido no caso!
Era aos dias de hoje que queria chegar – estão precisamente em disputa os grandes ou protegidos por estes – resultado: o mundo está à beira duma guerra total que coloca frente-a-frente as potencias ou seus protegidos e as declarações da assembleia geral da ONU (centenas de países) ou decisões do Conselho de Segurança são palavras ocas, por causa de um veto.
Os apelos à paz são de todos os lados. Mesmo quando algum dos grandes bate o pé contra algum fazedor de guerra (não a brincar, mas com milhares de mortos por dia), nada se consegue! Um grande – talvez o maior – protege um mais pequeno, mas com grandes ambições que faz orelhas moucas a todas as críticas e faz o que entende, matando (diz que para sua defesa), bombardeando e destruindo cidades e, pasme-se, insultando o Secretário-Geral das Nações Unidas!
E lembremo-nos que as guerras hoje usam armas duma potencia inaudita. Uma delas, a primeira bomba atómica, usada na última guerra, matou trezentas mil pessoas, e dizem que era um brinquedo quando comparada com as atuais!
Então e a paz será coisa possível?
Oh! Deus do Amor, será esta situação sem solução?