26 Junho 2024, Quarta-feira

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Dores de crescimento, desafios para a ferrovia

Dores de crescimento, desafios para a ferrovia

Dores de crescimento, desafios para a ferrovia

, Dirigente Sindical, Militante do Partido Socialista, Concelho de Palmela
4 Junho 2024, Terça-feira
Dirigente Sindical Militante Partido Socialista Concelho Palmela

Palmela registou um crescimento populacional muito acentuado no ano de 2022. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de residentes aumentou para 71.410 no final do referido ano, um incremento de 2.558 pessoas em comparação com os 68.852 registados no Censos de 2021.
Este aumento recente está em linha com a tendência observada ao longo da última década. Entre 2011 e 2021, a população do concelho registou um alargamento na ordem dos 6 mil novos habitantes, alcançando uma taxa de crescimento de 9,58%. Esta foi a subida mais elevada no distrito de Setúbal e a terceira mais alta no país, ficando atrás apenas de Odemira (13,3%) e Mafra (12,8%).
Uma parte muito importante deste aumento populacional concentra-se na vila de Pinhal Novo. Sem desmerecer um conjunto de características que cimentam a atratividade da região para quem pretende estabelecer-se, como sejam a atividade cultural diversa, a qualidade de vida, dada, nomeadamente, pelo perfil semiurbano do concelho e a coesão social, são, objetivamente, duas as principais razões que atraem os novos residentes. A saber, a acessibilidade do transporte ferroviário, que permite aos que trabalham e estudam a norte do Tejo deslocarem-se para Lisboa e arredores de forma rápida e pouco dispendiosa. Recorrendo ao passe Navegante, cuja implementação pelo anterior governo granjeou forte impacto social, tornou-se possível reduzir em centenas de euros os custos de deslocação que impendiam sobre os orçamentos de cada uma das milhares de famílias beneficiadas por essa resolução política. São também determinantes os custos relativamente moderados do imobiliário para compra e arrendamento disponível no concelho, quando considerados no quadro da crise nacional – e europeia – da habitação.
O crescimento da população apresenta-se como potenciador de um largo espectro de oportunidades para o desenvolvimento e rejuvenescimento demográfico do concelho, mas, em simultâneo, impõe um conjunto de desafios ao poder local. Especificamente, no concerne à adequação das infraestruturas de saúde e ensino, de logística rodoviária e de mobilidade concelhia em geral, do planeamento urbano, arquitetónico e paisagístico, sustentável e das respostas sociais e institucionais às necessidades de plena integração dos recém-chegados habitantes.
Atender a estas exigências emergentes não é apenas um imperativo de ordem material. Essa tarefa desempenha um papel político fundamental no combate ao populismo de extrema-direita, que procura alargar influência também na administração local, instrumentalizando potenciais tensões entre as populações autóctones e os novos residentes imigrantes e migrantes domésticos.
Se há temática que, neste âmbito, levanta especiais preocupações, sobretudo para quem, convivendo de perto com o problema, é testemunha das dificuldades e incómodos a que está sujeito quem recorre diariamente ao transporte ferroviário em Pinhal Novo, é a insuficiência da oferta proporcionada pela Fertagus.
Desde a introdução do tarifário Navegante em 2019, que reduziu em mais de 70% a despesa mensal dos passageiros que viajam entre Setúbal e Lisboa, a procura pelos comboios da Fertagus aumentou significativamente. Atualmente, o operador contabiliza cerca de 28 milhões de passageiros por ano, um crescimento substancial em comparação com os pouco mais de 20 milhões de passageiros anuais registados antes da existência dos novos passes a 30/40 euros.
A este aumento da procura não correspondeu um incremento significativo do investimento, por parte da empresa que explora a travessia ferroviária do Tejo, capaz de alargar a oferta. A escassez de material circulante e a frequência insuficiente das viagens dão conta da inadequação do serviço, em face do número atual de passageiros. Entre as principais queixas elenca-se a sobrelotação constante das carruagens, especialmente durante as horas de ponta, o que resulta em viagens insuportavelmente desconfortáveis. Os passageiros relatam com frequência que a lotação das carruagens ultrapassa os 100%, o que os obriga a viajar em pé durante todo o percurso, na maioria dos casos, após um extenuante dia de labor.
A ausência de investimento em novas composições é sintomática da incapacidade, ou limitada vontade, da Fertagus em dar respostas aos anseios dos passageiros. Este paradigma tem merecido veemente crítica por parte da Comissão de Utilizadores de Transportes da Margem Sul, que há muito alerta para a necessidade de medidas imediatas para melhorar o transporte e corresponder às crescentes necessidades dos utentes.
Em suma, dado o significativo aumento da procura impulsionado pelo tarifário Navegante, os passageiros da Fertagus enfrentam constrangimentos significativos relacionados com a sobrelotação, frequência insuficiente e escasso investimento em infraestruturas.
Os habitantes do concelho de Palmela exigem mais e melhor. A exemplo de outras parcerias entre Estado e privados, de má memória, não é admissível que o concessionário beneficie de uma procura altamente subsidiada, furtando-se às suas responsabilidades quando é tempo de garantir a qualidade e plena adequação da oferta. Cabe ao movimento associativo, mas também ao poder e forças políticas, atuantes no plano local e nacional, exigir as mudanças necessárias, ao encontro do interesse das populações.

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