Aí está um dia propício para se fazer uma meditação sobre a sociedade em que vivemos, especialmente em Portugal à volta de Luis Vaz de Camões que consagrou em verso o génio e força dos homens portugueses. Deixemos a saga dos descobrimentos, testemunho da nossa capacidade curiosa que nos lançou num desconhecido que eram as águas que nos rodeavam e cujos horizontes se perdiam num infinito desconhecido. Saga que se mantem nos nossos dias com portugueses vivendo nos quatro cantos do mundo, em mais de cem países. Mas saga que se começa a manchar com os problemas inerentes à exploração dos povos longínquos especialmente com o problema da escravatura. No entanto a nossa língua é hoje uma das mais falada no mundo, não só pelos milhões de portugueses que constituem a nossa diáspora mas pelos povos que na sequência dessa nossa ânsia de desvendar mistérios a falam no imenso Brasil , em Angola e nas antigas colónias que connosco viveram até à sua independência. E com a língua muitos outros costumes, sofrendo as adaptações do tempo e dos lugares, se mantêm por esse mundo fora. Ora os Lusiadas que segundo a tradição Luis de Camões até salvou de se perderem num naufrágio, consagram bem esse ímpeto dos portugueses para caminhar para o desconhecido, sendo assim bem escolhido que o dia de Camões seja identificado como o Dia de Portugal. E há festejos, paradas militares, discursos e condecorações a marcarem esse génio nacional que continua nos nossos dias deste seculo XXI. Mas , quando começamos a ouvir os noticiários da televisão ou a ler os destaques da imprensa vemos e ouvimos virem à superfície muitos dos defeitos do povo “desta nação valente” onde reina uma praga de desonestos que nos faz duvidar da descrição de Camões. E apodera-se de nós um sentimento de tristeza com tanta trafulhice que vem desde os altos cargos até ao simples cidadão das bases. E são banqueiros, e são políticos, e são autarcas, que fazem companhia a carteiristas ou vigaristas e ladrões de assaltos. É apenas uma questão de dimensão – uns roubam cêntimos outros roubam milhões de euros. E a nossa polícia judiciária tanto entra nos casebres dos bairros de lata que rodeiam as grandes cidades como entram nos escritórios ou habitações de gente da alta sociedade, dando-nos uma imagem da extensão dos crimes económicos e outros que diariamente caracterizam a nossa atual sociedade – não sei como Camões retrataria tal situação, se teria versos suficientes para descrever o Portugal de agora! Estamos numa sociedade “podre” , sem valores éticos, onde a desonestidade, parece ser a regra que orienta a maioria das pessoas, atrevendo-me a dizer que são em especial os cidadãos que assumem o poder que mais se aproveitam desse poder para satisfazerem os seus anseios de mais dinheiro, de mais poder, sem pensarem que isso se reflete nas periferias da nossa sociedade. E se pensarmos, por exemplo no Brasil, parece que também exportamos para lá esta tendência para enganar o próximo – e em superlativo, pois até presidentes da república vão para a cadeia. É triste sentirmo-nos integrados numa sociedade assim podre que nem as vitórias da nossa seleção de futebol apagam! É evidente que tal situação não é exclusiva do nosso país – os exemplos vindos de outros países são idênticos pois o mal vem da maneira como as sociedades se organizam, são devidos a um individualismo reinante e a uma organização social “que mata” como diz o Papa Francisco. Uma sociedade que tem urgentemente de ser modificada vencendo a inércia em que quase todos vivemos – e essa inercia também Camões sentiu e retratou no “velho do Restelo”. Quando acordaremos para esta mudança quando tivemos mais de 60% de abstenções nas últimas eleições? Será que só vibramos com as taças do futebol? Reflitamos neste dia de Camões, neste Dia de Portugal, no País que queremos ser como “nação valente” que cantamos no nosso Hino!