Ganhadores há muitos no futebol. Mais raros são os que podem transformar esse mundo
O treinador setubalense do SL Benfica foi uma das grandes revelações do futebol em Portugal nesta época que agora termina.
As suas qualidades não são, certamente, uma surpresa para o núcleo restrito das suas relações porque os amigos e colegas já conheciam as suas capacidades técnicas e o seu carácter, mas ver que o complicado mundo do futebol pode reconhecer e valorizar tais características é relativamente surpreendente.
Não é fácil vingar neste conturbado meio, de interesses, intrigas e injustiças onde muitas vezes não se consegue sequer a necessária primeira oportunidade. O caso de Bruno Lage é também exemplo dessa dificuldade. Chegou à equipa principal de forma muito provisória, previsto para apenas para um jogo ou dois, enquanto o clube não encontrava um nome à altura.
Felizmente, para o clube mas principalmente para o futebol português, o valor do técnico sadino impôs-se em tempo recorde e permitiu converter em definitivo uma aposta de emergência.
O resultado está à vista. E não falo da conquista do titulo.
Em escassos meses, Bruno Lage revelou-se uma lufada de ar fresco. A postura séria, o respeito, o saber-estar e a inteligência do discurso, mostram uma matriz humana a que o futebol, em Portugal, está pouco habituado. Os resultados desportivos, que conquistou com a ajuda de muitos outros – entre os quais, por exemplo o também sadino preparador físico Alexandre Silva – são a outra face da mesma moeda. Permitem a visibilidade da robustez de carácter, complementam e ampliam, mas não substituem os princípios estruturantes.
Ganhadores, no futebol há muitos. Quem ganhe e possa transformar o mundo há muito menos. Bruno Lage parece destes.