Muito se tem falado sobre a segurança em Portugal, ou melhor dizendo, sobre a falta de segurança. Muitos dizem que são apenas perceções, que resultam de uma estratégia de desinformação, mas a verdade é que as pessoas que andam nas ruas e não estão fechadas num qualquer condomínio com acesso reservado, têm medo de andar livremente na rua.
E têm medo porque sabem que há poucos polícias para fazer patrulhas, o que transforma as ruas numa espécie de via verde para a bandidagem geral.
A reflexão que temos de fazer, enquanto sociedade, é sobre a razão pela qual não há elementos das forças de segurança em número suficiente para fazer face às necessidades da população. A resposta mais óbvia é, claro e como não poderia deixar de ser, os salários e os parcos suplementos a que têm direito pelos riscos a que a profissão obriga.
Mas a falta de candidatos em número suficiente para preencher as vagas abertas por concursos de admissão não é a única justificação. Existe outro lado negro na vida das forças de segurança que não pode, nem deve, ser desconsiderado. Refiro-me às esquadras e aos postos onde os agentes da PSP e os militares da GNR trabalham.
Já visitei umas quantas instalações e, na larga maioria, estão degradadas a um nível que, não só é preocupante, como envergonha uma Nação inteira.
A título de exemplo, a esquadra do Seixal está num estado tão lastimável que me faltam as palavras para descrever o que lá vi. O edifício, que pertence à Câmara Municipal do Seixal, tem cerca de 50 anos e as obras que lá foram sendo feitas, se o foram, não colmataram as fragilidades de um edifício que remonta aos anos 70.
Os agentes da PSP que lá trabalham passam frio no inverno e calor no verão. E no verão não podem abrir as janelas devido aos mosquitos que ali se aglomeram dada a proximidade com a Baía do Seixal. O edifício tem dois andares, sendo que é no segundo onde estão os balneários. O problema é que para lá chegar é necessário passar por uma zona não coberta, ou seja, se estiver a chover, os polícias não têm como chegar aos balneários sem se molharem.
As paredes têm humidade, a cozinha não tem condições, há janelas partidas… Enfim! E o pior é que esta não é situação única no distrito. A esquadra da PSP no Pragal, em Almada, não está em tão mau estado, mas, ainda assim, não tem condições dignas para um ser humano lá poder trabalhar.
O piso superior está encerrado devido às infiltrações. No inverno chove lá dentro e numa das salas que visitei há baldes espalhados pelo espaço para conter a água da chuva, numa tentativa de evitar infiltrações para o piso abaixo.
Ora, com esquadras e postos onde os elementos das forças de segurança passam frio ou estão expostos a calor sem o necessário sistema de climatização, onde são obrigados a trocar de roupa em balneários com bolor e humidade nas paredes, como é que se pode esperar que alguém queira pertencer às forças de segurança? Afinal, quem é que quer trabalhar nestas condições, ganhar uma miséria e ser agredido?