Há cerca de dois meses que cinquenta por cento ou mais de todos os telejornais nos falam da revolta dos micróbios. Como julgo que toda a gente sabe há fundamentalmente dois tipos de micróbios – as bactérias e os vírus. Ora a medicina depois de Fleming ter descoberto a Penicilina enveredou por uma intensa pesquisa para descobrir ou criar novos produtos para matar as bactérias – os chamados antibióticos.
E desde essa descoberta os homens desencadearam uma ofensiva exterminadora de imensas bactérias salvando milhões de doentes por esse mundo fora. Mas o uso e abuso dos antibióticos deu também como resultado que começaram a aparecer bactérias que desenvolvem resistência aos antibióticos – um primeiro sinal do que chamo “a revolta dos micróbios”- e morrem pessoa com infeções que ninguém consegue debelar e por ironia do destino, muito em especial nos próprios hospitais.
Ainda recentemente os jornais noticiavam que num grande hospital há duas ou três semanas que se não faziam transplantes de fígado , entre outras razões por ser difícil debelar o perigo de infeção por uma bactéria multirresistente. Mas a verdadeira revolta contra tanto progresso dos homens no campo do extermínio dos microrganismos surge subitamente num dos países que é o símbolo do crescimento em muitos campos – a China. E aí temos um coronovirus a infetar que se farta e a matar bastantes dos infetados e a espalhar-se rapidamente pelo mundo fora.
E aí temos os telejornais, os jornais e as rádios a relatar com um ar de drama que aqui adoeceram mais uma centena, e ali a distância mais umas dezenas e que desses infetados nos iam dando notícia a toda a hora dos que iam morrendo, da China, à Italia, passando por mais uma vintena de países. E o ar dramático aumentava com a noticia de que se estavam esgotando por todo o mundo , nas farmácias, desinfetantes, luvas e máscaras faciais. E falavam os representantes dos serviços de saúde relatando as medidas de exceção que se iam tomando esperando o crescendo da pandemia.
E nunca mais se falou de outras doenças que crescem constantemente como a diabetes, os enfartes do miocárdio ou os chamados avc,s. E todos passaram ao esquecimento que nesta quadra do ano morrem milhares de pessoas com a “banal” gripe (entre nós os números anuais roçam os dois ou três milhares – coisa de somenos) Mas esta revolta dos vírus ataca a nossa sociedade mesmo na sua estrutura pois fecham fábricas, fecham estádios, fecham escolas numa tentativa de travar a expansão do vírus.
E aí está todo o mundo a fazer repetidamente coisas tão banais como lavar frequentemente as mãos, como não tossir ou espirrar para cima do próximo , nem para as mãos para não contaminar corrimões ou fechos de portas. Este relato minuto a minuto do que vai acontecendo pelo mundo vai fazendo crescer uma pandemia de medo, até de pânico, levando as pessoas a acumularem viveres, a desconfiarem dos vizinhos, pois até se aconselha a que não nos aproximemos a menos de um metro da pessoa com quem falamos e muitos fecham-se em casa .
E assim vamos, com esta revolta dos vírus vivendo a nossa quaresma, a nossa preparação para a ressurreição que Jesus Cristo nos trouxe com a sua Páscoa. E é neste ambiente de medo e quase pânico que teremos de celebrar a VIDA considerada um continuo desde o nascimento até à “passagem” para uma outra forma de vida não materializada que será a Felicidade plena e um manancial de Amor.
Em relação o coronovirus olhemo-lo com naturalidade, sem pânicos pois as suas consequências serão profundas, Isso sim, na vida económico-financeira deste mundo globalizado, muito mais do que as suas consequências comparadas com as de outras doenças que não deixam de existir e que temos de continuar a tratar e a prevenir – tenhamos calma, sigamos a meia dúzia de conselhos verdadeiramente úteis para conter o contágio, mas não pensemos que vão morrer milhões! E – por favor – não esqueçamos que nesta quadra temos de matar o vírus do pecado (o não-amor!) e pensar que o afeto, a fraternidade, o amor é que são a verdadeira salvação das nossas vidas – reduzamos o coronovirus à sua verdadeira proporção e deixemos os serviços médicos atuar, e pensemos na VIDA !!