O tema do racismo voltou a encher páginas de jornais e a inundar os noticiários das televisões. O que é negativo merece sempre muita atenção da comunicação social, o que é positivo, geralmente, é ignorado. O racismo deve prevenir-se de modo a que não seja necessário combatê-lo. A casa e a escola são espaços privilegiados para se promover o respeito pelo outro.
Vem a propósito falar sobre um projeto desenvolvido recentemente pelos professores e alunos dos 8º anos da escola de Vale de Milhaços. A partir de uma proposta de intercâmbio da Escola Secundária da Baixa da Banheira, e no âmbito do Projeto da Autonomia e Flexibilidade Curricular, promoveu-se a cooperação e o respeito entre alunos de diferentes culturas.
A exploração das ideias prévias dos alunos sobre o significado de multiculturalidade foi o ponto de partida. De seguida fez-se o levantamento de exemplos de multiculturalidade conhecidos ou vivenciados pelos alunos, tendo-se abordado a problemática das migrações e as suas consequências positivas e negativas. Do lado positivo, refira-se, a título de exemplo, o contributo de diversas culturas para o enriquecimento cultural de todos; já no que respeita aos aspetos negativos, destaca-se o racismo. Passou-se, então, à planificação das atividades a desenvolver e à definição de como seria divulgado o produto final.
Os alunos portugueses realizaram inquéritos e entrevistas junto dos seus ascendentes que tivessem origem estrangeira ou sobre as suas regiões de origem, enquanto os alunos estrangeiros pesquisaram e trataram informação sobre os países de onde são oriundos, nomeadamente localização geográfica, religião, gastronomia, música e festas tradicionais.
O produto final consistiu na elaboração de gráficos com a informação recolhida nos inquéritos e entrevistas, na realização de um vídeo sobre multiculturalidade, na apresentação de peças de teatro- escritas pelos alunos com a ajuda da professora de Cidadania e Desenvolvimento-, e na organização de uma festa convívio em que participaram alunos e seus familiares e professores das duas escolas envolvidas. Os intervenientes deliciaram-se com a exposição organizada por países, as músicas e os pratos gastronómicos tradicionais dos vários países. E assim se previne o racismo na escola de Vale de Milhaços, sem qualquer apoio autárquico, apesar dos esforços dos diretores de turma envolvidos, e sem que qualquer órgão de comunicação social tivesse dedicado um minuto, apenas um minuto, da sua atenção. No dia da atividade final, os professores que lecionam as turmas dos 8º anos estiveram na escola das 8h às 22 h.
Certamente, os alunos terão concluído que não existem várias raças humanas, mas sim a raça humana. Se fosse possível viajar na máquina do tempo até ao aparecimento dos nossos mais antigos antepassados, chegaríamos ao continente africano; foi de lá que os seres humanos migraram para os outros continentes; logo, somos todos africanos!