A paz que todos almejamos e que está maisperto do que pensamos

A paz que todos almejamos e que está maisperto do que pensamos

A paz que todos almejamos e que está maisperto do que pensamos

31 Março 2025, Segunda-feira
Psicóloga Clínica

Há 75 anos, Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração nazis, escrevia em O Homem em Busca de um Sentido que, mesmo nas piores circunstâncias, o ser humano pode encontrar propósito – e, com ele, a força para resistir. Hoje, num mundo marcado por guerras visíveis e invisíveis, a sua mensagem ressoa com urgência renovada. Se a violência entre nações é alimentada por interesses económicos e divisões ideológicas, a sua raiz mais profunda está na desconexão humana: connosco, com os outros, com o sentido da vida.
A ciência moderna confirma o que Frankl intuía: a paz exterior começa com a paz interior. A psicologia positiva, por exemplo, demonstra que a autoestima e a autocompaixão são alicerces não só para a felicidade individual, mas também para relações saudáveis. Quando nos aceitamos – com as nossas imperfeições e potencialidades –, deixamos de projetar nos outros as nossas inseguranças. E, assim, abrimos espaço para amizades autênticas, baseadas não na necessidade de aprovação, mas na partilha genuína de experiências e valores.
A história da humanidade, contudo, mostra que esta não é uma jornada fácil. Desde os conflitos tribais até às guerras globais do século XX, a nossa espécie parece oscilar entre a capacidade de criar e a tendência para destruir. Hannah Arendt falava da “banalidade do mal” para descrever como atos atrozes podem surgir da desconexão emocional e da obediência cega. Mas, se o mal pode ser banalizado, o mesmo acontece com o bem. Pequenos gestos de bondade – um sorriso, uma palavra de encorajamento, um momento de escuta atenta – têm um efeito multiplicador, criando redes invisíveis de solidariedade que transcendem fronteiras.
A educação científica tem um papel crucial nesta transformação. Ao ensinar-nos a questionar, a pensar criticamente e a valorizar a evidência, ajuda-nos a distinguir entre verdades e manipulações. Mas, para além do conhecimento, precisamos de sabedoria: a capacidade de usar esse conhecimento para promover o bem comum. Albert Einstein, que fugiu da Alemanha nazi, dizia que “a paz não pode ser mantida à força; só pode ser alcançada através da compreensão”. E essa compreensão começa dentro de cada um de nós.
Como, então, cultivar a amizade connosco mesmos? Primeiro, aceitando que a vida não é linear. Tal como na ciência, onde os erros são parte essencial da descoberta, os nossos fracassos são oportunidades de crescimento. Segundo, encontrando um propósito que nos transcenda. Frankl chamava-lhe “logoterapia”: a ideia de que a vida ganha sentido quando nos dedicamos a algo maior do que nós – seja uma causa, uma paixão ou uma relação.
Finalmente, lembrando que a paz não é um destino, mas um caminho. Cada vez que escolhemos a compaixão em vez do julgamento, a escuta em vez do preconceito, estamos a contribuir para um mundo mais harmonioso. E, como dizia Frankl, “quando já não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”.
Num século marcado por incertezas, talvez a maior revolução seja esta: aprender a ser amigos de nós mesmos, para podermos ser pontes de paz entre os outros. Afinal, como cantam os Coldplay, “nascidos para matar, mas destinados a amar”, a nossa verdadeira natureza não está na destruição, mas na capacidade de criar conexões que nos elevam.
Ana Rita é uma apaixonada por temas que unem ciência, humanismo e transformação pessoal.

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