Mas então afinal de contas existiu ou não um regime de exceção para a Festa do “Avante!”? Vamos lá então aos factos.
A Festa do “Avante!” é o único evento do país para o qual nada menos que o Presidente da República exigiu a divulgação antecipada de um parecer técnico da Direção Geral da Saúde. Vai daí, o parecer técnico da Direção Geral de Saúde (ao contrário do que aconteceu com todos os outros eventos) foi mesmo divulgado, com a concordância dos proponentes. Mas mais do que isso: ao contrário do que aconteceu com os outros eventos, o plano de contingência aprovado foi publicado na íntegra – e pode ser consultado na página da Festa na Internet.
Um concerto realizado a 1 de junho, na sala fechada de 1.250 m2 do Campo Pequeno, foi autorizado para 2.000 pessoas (lá estiveram o Presidente da República e o Primeiro-Ministro). Uma prova de automobilismo no Algarve prevê 46 mil pessoas no mês que vem. Mas o que foi dito e publicado e decretado sobre a Festa do “Avante!” não tem paralelo.
Se houve um regime de exceção para a Festa do “Avante!”, esse regime foi de discriminação negativa. A razão nada tem a ver com saúde pública. A razão é muito simples e está à vista de todos, no ponto mais alto da Quinta da Atalaia: é a bandeira vermelha com a foice e o martelo.
O visitante ao entrar no recinto desta Festa vai ter condições de segurança contra a epidemia que não encontrará em nenhum (repito, nenhum) outro evento, e a própria construção está a incorporar esses cuidados. As medidas sanitárias aplicadas não têm simplesmente comparação.
Pela primeira vez na história da Festa, vamos ter muitos camaradas com uma tarefa que há um ano não imaginávamos: assistente de plateia, presente no terreno apenas e só para assegurar que as regras de segurança, distanciamento, etc., são cumpridas pelos visitantes. Dá para apostar que muitas pessoas ligadas à organização de eventos, concertos, festivais, etc., este ano vão à Festa do “Avante!” tirar muitos apontamentos…
O que está a acontecer não é “uma polémica” – é uma guerra mediática. Para quem se lembra, as únicas situações que podem ser minimamente comparáveis a este fogo cerrado foram – adivinhem: o 25 de Abril e (ainda mais) o Primeiro de Maio. E, no fundo, com as mesmas motivações e as mesmas munições.
Não é possível ignorar as evidências: este ataque sem precedentes à Festa do “Avante!” é um ataque à liberdade e à esperança porque é um ataque à insubmissão e ao inconformismo. É uma tentativa de “safanão em tempo” como dizia o outro, a quem se recusa a comer e calar e a quem não admite que se use o vírus como arma de assalto.
Por isso, mais do que nunca, e de uma forma nunca antes vista, este ano estar na Festa do “Avante!” é um ato de coragem, de resistência, de dignidade. É não pactuar com a chantagem e o discurso do medo e do ódio. É erguer a bandeira da esperança e dizer que isto não há de ser assim. Estaremos lado a lado pela vida e pelo futuro. Não nos vamos poder abraçar na Atalaia este ano. Mas lutamos hoje para que possamos no futuro, em segurança, voltar a ter esse abraço, voltar a dar as mãos, a cantar ombro com ombro. Como diziam os meus camaradas, Coragem hoje, abraços amanhã.
Boa Festa.