Na sequência da crónica da semana anterior, realizei uma acção de formação intitulada Coastwatch 2021 “Um Mar de Oportunidades”, organizado pelo GEOTA e pelo MARE.
Na primeira saída estivemos na praia da Albarquel, onde procurámos os nossos roazes corvineiros (Tursiops truncatus), mas não os conseguimos encontrar.
Segundo informação avançada pelo Instituto de Conservação das Naturezas e Florestas (ICNF), e ao contrário do que sucedeu nos últimos anos, neste Verão de 2021 não ocorreram nascimentos de roazes corvineiros no Rio Sado. O nascimento das crias dá-se entre Maio e Setembro, mas a ausência de novas crias este ano, apesar de incomum, pode não ser alarmante.
Tal pode explicar-se pelo reduzido número de fêmeas na população de roazes. Nos últimos anos ocorreram nascimentos e as fêmeas estão ainda a cuidar das crias, mostrando-se eventualmente indisponíveis para procriar.
Ainda de acordo com o ICNF, em 2020 nasceram três crias: Coral, Bolha e Neptuno. Em 2019 nasceram duas crias e em 2018 outras três, mas nem todas sobreviveram.
A população residente de roazes corvineiros no Sado, única na Europa, conta com 27 golfinhos, encontrando-se estabilizada desde os anos 2000.
Têm sido implementadas medidas rigorosas de monitorização e acompanhamento desta comunidade de cetáceos, nomeadamente junto dos operadores marítimo turísticos, o que tem permitido minimizar os impactos sobre esta população.
Na segunda saída, esta já autónoma, escolhi a zona litoral localizada entre a descida do Outão e o Pontão da Figueirinha.
É uma zona constituída essencialmente por pedregulhos de média e sobretudo, de grandes dimensões, de características calcárias, logo algo friáveis, e que se foram progressivamente soltando da Serra da Arrábida, ao longo dos séculos.
Esta é uma zona de difícil acesso, apenas se conseguindo alcançar a pé ou de barco. Com a maré cheia, somente se circula através dos referidos pedregulhos; com a maré baixa, já se consegue circular na areia, mas ainda a custo.
Os pedregulhos ocupam todo o espaço, quer longitudinal, quer transversalmente, desde a zona supralitoral até à zona infralitoral, conjuntamente com a areia que também se encontra presente, mas somente a partir da zona médio/infralitoral.
Encontramos muito poucos calhaus rolados, indicador evidente de pouca ondulação habitual.
Relativamente à flora, encontrei colónias de algas verdes (Chlorophyta), em pequenas bandas, seguras às rochas, mas em número bastante significativo.
No que diz respeito à fauna, encontrei centenas de colónias de mexilhão (Mytilus edulis), de lapas (Patella vulgata), alguns caranguejos (Brachyura) e algumas anémonas (Actiniaria)
Todas estas características conjugadas (difícil acesso, morfologia física, tipologia de fauna e flora, ondulação, características visuais da água do mar), sugerem-nos que esta zona parece ser uma de pouca frequência humana, com água do mar limpa e cristalina e praticamente frequentada por inúmeros pescadores, que me informaram simpaticamente que utilizam toda esta zona para pesca de recreio.
De acordo com os seus testemunhos, o peixe que capturam, distribuem-se pelas seguintes espécies: robalos (Dicentrarchus labrax), alcorrazes (Diplodus annularis), douradas (Sparus aurata), pargos (Pagrus pagrus), sargos (Diplodus sargus), salmonetes (Mullus) e linguados (Solea solea).
Esta foi uma excelente acção de formação, onde mais uma vez se constatou a beleza de toda esta nossa região de Setúbal.
Fica aqui um desafio para a participação na 32ª Campanha Coastwatch 2021-2022 com o tema “Emergência Oceano”. Basta percorrer a pé uma zona costeira e com os materiais do projecto recolher informações ambientais e, sempre que possível, lixo.