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PENSAR SETÚBAL: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte V): Fernando Salgueiro Maia

A Salgueiro Maia

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Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele, mas também por ele
Pessoa disse” 

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Um dos melhores filmes que foi realizado sobre o 25 de Abril, intitula-se “Capitães de Abril” realizado em 2000, da autoria de Maria de Medeiros, com uma co-produção entre Portugal, Itália, França e Espanha.

A história do filme é baseada no golpe militar que ocorreu em Portugal no dia 25 de Abril de 1974 e presta homenagem aos jovens soldados intervenientes, destacando-se Salgueiro Maia, com uma excelente interpretação do actor italiano Stefano Accorsi.

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Na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, a rádio emitiu o primeiro sinal “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho, seguido do segundo sinal “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso. São os dois sinais programados que viria a desencadear o golpe de estado que iria modificar completamente o país.

Ao início da noite, as tropas tomaram os quartéis e pela madrugada marcharam para Lisboa.

À frente das tropas sublevadas, encontrava-se o capitão Fernando Salgueiro Maia.

Quando chegaram a Lisboa, foi na Avenida da Ribeira das Naus que teve lugar o momento decisivo que virou a maré de vez.

O brigadeiro Junqueira dos Reis, fiel ao regime, avançou pela avenida com as suas tropas e recusou render-se. Salgueiro Maia tentou falar com o brigadeiro, mas este ordenou ao aspirante Sottomayor para que abrisse fogo sobre o capitão.

O aspirante recusou a ordem, permitindo que Salgueiro Maia e os seus homens controlassem o Terreiro do Paço e avançassem em direcção ao Largo do Carmo, local onde se encontrava Marcello Caetano.

Salgueiro Maia representa o lado romântico do 25 de Abril, tendo sido uma das figuras mais determinantes e historicamente representativas desse dia.

A sua coragem, força e determinação foram decisivas para o sucesso de toda a operação.

O seu percurso de vida a seguir ao 25 de Abril foi de uma sobriedade, seriedade e ausência de protagonismo. Esteve presente no 25 de Abril por convicção pessoal.

Em 1983, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, e, a título póstumo, o grau de Grande-Oficial da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito em 1992 e, em 2007, a Medalha de Ouro de Santarém.

Recusou, ao longo dos anos, ser membro do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil do Distrito de Santarém e pertencer à casa Militar da Presidência da República.

Foi promovido a major em 1981 e, posteriormente, a tenente-coronel.

Em 1989, foi-lhe diagnosticada uma doença cancerosa que o viria a vitimar a 3 de Abril de 1992, com apenas 47 anos.

Foi agraciado, a título póstumo, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, a 25 de Abril de 2016, tendo a condecoração sido entregue à viúva a 30 de Junho de 2016, véspera do dia em que completaria 72 anos de vida.

Na vida, quando as situações se complicam, as águas ficam turvas e revoltas, nas horas mais difíceis, adversas, angustiantes, fracturantes e inclusivamente numa situação extrema, correndo risco de vida, seguramente assolado por uma sensação de solidão interior, é que nós percepcionamos a força e a determinação de um indivíduo e intuímos imediatamente sobre verdadeira dimensão do seu carácter.

Essa é a força e o exemplo que Fernando Salgueiro Maia nos legou a todos.

Salgueiro Maia representa um exemplo raro de desapego e distanciamento relativamente ao poder, numa altura em que a política e a ética nem sempre andam sintonizadas.

À medida que os anos vão avançando e ficamos mais conscientes de nós próprios e daquilo que nos rodeia, recordamos a sua figura com um enorme respeito, carinho e admiração.

Gostava de tê-lo conhecido pessoalmente e dar-lhe um enorme abraço. Por mim. Seguramente por todos nós.

Nunca lhe seremos suficientemente gratos.

Fernando Salgueiro Maia continuará sempre a representar, para mim, o 25 de Abril no seu estado mais nobre, puro e desinteressado.

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