9 Maio 2024, Quinta-feira

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Plágio? Não! (II)

Plágio? Não! (II)

Plágio? Não! (II)

Pela relevância da discussão pública gerada em torno do Memorial a José Afonso, da autoria de Ricardo Crista, inaugurado, em 6 de janeiro, na Praia da Saúde, Manuel Augusto Araújo, que teve responsabilidade na escolha de várias obras de arte públicas instaladas na cidade de Setúbal, entendeu pronunciar-se sobre o tema. O que se segue é a segunda parte de uma adaptação do texto original, aqui publicado com a aprovação e concordância do autor, depois de a primeira parte ter sido publicada no passado dia 25 de janeiro.

 

Na segunda parte desta dissertação que agora se publica importa destacar que este texto parece pouco ou nada relacionado com o assunto em discussão. Grave equívoco. São estas as verdadeiras razões, o verdadeiro palco desta polémica. Não é um acaso o facto de ter surgido nas redes sociais, de Marco Cianfanelli ter sido alertado por três mails remetidos de Portugal, de o jornal “Público” ter sido provavelmente prevenido por via semelhante, tendo, no entanto, o cuidado de colocar a notícia na secção Local e não na de Cultura.

O escultor sul-africano manifesta que atualmente, está no “processo de obter aconselhamento através de consultas com as partes relevantes” e que decidirá sobre a resposta ou ação apropriada a partir de então. “Não é a primeira vez que isto acontece comigo, mas nunca o fizeram desta forma”, diz Cianfanelli.

Qual forma? O uso de varas metálicas verticais para realizar um efeito ótico aplicado a uma fotografia? Não se deve estar a referir ao uso dessa técnica que muito antes dele vários artistas escultores da Op-Art utilizaram. A sua novidade, se é que isso se pode considerar novidade, é a de ter recuperado para a aplicar a um retrato, no caso de Mandela, homenageando-o. Foi o que fez Ricardo Crista com José Afonso e antes dele vários outros escultores autores dos exemplos referidos no início deste texto.

Considerar que Ricardo Crista ou outros escultores o plagiaram é um argumento ambíguo. O escultor sul-africano não pode reclamar algum exclusivo na base de ter sido o primeiro a usar um retrato de uma personalidade pública em Op-Art. Qual a diferença entre usar a fotografia de uma pessoa a de uma paisagem natural ou urbana ou mesmo temas abstratos? Nenhuma, sobretudo quando Cianfelli usou uma técnica de artistas alinhados na Op-Art que se iniciou em meados dos anos cinquenta, muito antes da sua escultura a Mandela.

No jogo de espelhos da arte contemporânea e, no caso vertente, a denúncia de plágio é um corpo estranho. Plágio é quando alguém pretende passar por original e seu a obra de outrem sem a referenciar. Há um divertido panfleto de Luiz Pacheco, O Caso do Sonâmbulo Chupista (1980) bem exemplificativo do que é um plágio. Compara mais de uma dezena de parágrafos de um romance de Fernando Namora com os escritos anos antes por Vergílio Ferreira. São praticamente decalcados até na sintaxe, só se diferenciando pelo uso de sinónimos. Se aplicarmos os parâmetros desse texto a esta obra de Ricardo Crista não se poderá considerar um plágio. Assume este autor, em resposta ao “Público”: «admito, com orgulho, influências marcantes de Cianfanelli, incorporadas, inclusive, na placa identificativa em QR code (que remete para https://www.urbanpoliarte.com/about-5). Referenciá-lo como inspiração é uma honra para mim».

Em resumo, não estamos, claramente, perante um plágio. Quem faz tal acusação está, manifestamente, desinformado e age por razões alheias à própria obra de arte em causa.

 

Texto integral no blogue Praça do Bocage

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