2 Maio 2024, Quinta-feira
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D. Manuel Martins não pode ser esquecido

No próximo domingo, dia 24, faz 6 anos que D. Manuel Martins partiu deste mundo. Também era um domingo. Tinha 90 anos de vida, 23 dos quais passados, intensamente, em Setúbal como seu 1.º Bispo. Melhor dizendo, a residir em Setúbal, pois viver Setúbal foi desde a data que chegou, dia 26 de outubro de 1975, até ao dia em que morreu. Das vezes que cá vinha, em algumas o ouvi dizer: «parece que nunca saí daqui». Manuel Martins amou, verdadeiramente, Setúbal, alicerçado nos imperativos que emanam do Evangelho e na Doutrina Social da Igreja e não de qualquer ideologia, com que muitos o quiseram identificar. Pode-se afirmar, sem qualquer exagero, que D. Manuel deu os melhores anos da sua vida a Setúbal, às suas gentes e abriu as “portas da Diocese”, a todos, mesmo a todos, como pediu, insistentemente, o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Os que ainda residem na região sadina, e já ultrapassaram o meio século de idade, pelo menos esses, hão de lembrar-se dele. Os seus diocesanos puderam fazer a experiência de pertencerem a uma Igreja sinodal com a realização, periódica, de Assembleias Diocesanas, entre outras iniciativas demonstrativas de um Bispo aberto ao diálogo. Também, dentro e fora da Igreja, ninguém poderá negar ser esta uma Igreja diocesana próxima dos mais frágeis, porque sabia, como disse o Papa na JMJ, que «São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus!» .
Mas é preciso não deixar cair no esquecimento esta pessoa que marcou, indelevelmente, a nossa terra e o país. E não só! Também, enquanto presidente da Pax Christi, foi à ONU defender a autodeterminação de Timor-Leste e nunca mais deixou de abraçar esta causa. Pouquíssimas semanas após a sua morte, o Conselho Presbiteral da Diocese de Setúbal anunciou a criação da Fundação D. Manuel Martins, com a finalidade, segundo foi anunciado, no contexto de outros objetivos, de fazer com que se mantivesse o legado do primeiro Bispo da Diocese. Seria bom que esta nova instituição começasse a funcionar, pois do que se sabe, apenas foram aprovados os Estatutos e nada mais aconteceu. Até parece, que foi criada apressadamente, antes que outra ideia pudesse surgir. Se foi essa a intenção, desde logo o seu início não parece muito promissor.
Quando escrevi este texto, já alguns meios de comunicação social indicavam um determinado prelado para Bispo de Setúbal. Seja esse ou outro que venha com a vontade firme de configurar a Igreja de Setúbal segundo os critérios do Evangelho e no seguimento das orientações que têm sido sempre emanadas do Papa Francisco, e as que hão-de vir a ser dos seus sucessores, já que a sua nomeação tem como obrigação a fidelidade total àquele que é responsável por assegurar a comunhão de todas as Igrejas diocesanas. Todo os católicos esclarecidos sabem bem que modelo de Igreja ele quer para responder aos desafios dos tempos de hoje. O pior erro que o próximo Bispo de Setúbal poderia cometer seria procurar organizar a sua missão, tendo como modelo os três anteriores bispos da Diocese e não as orientações do Papa. Que possa aproveitar uma ou outra boa prática é salutar e digno de quem sabe fazer memória, mas imitar é bem diferente por ser impossível.
Isto não impede que se conserve o legado de cada Bispo. D. Manuel deixou um muitíssimo relevante. Espero do novo Bispo que não o deixe esquecer. Quanto a mim, tudo farei para que isso não aconteça, até, porque esse legado não é pertença exclusiva dos católicos e deve chegar a todos, sem esquecer, desde já, os mais novos.
Nesta hora, D. Manuel está a dizer o que disse numa homília do Dia da Diocese, no ano de 1981: «Senhora, Mãe de Jesus, Santa Maria da Graça, nas tuas mãos depomos, mais uma vez, e confiadamente, a nossa Igreja de Setúbal. E sabemos que fica bem entregue.»

Eugénio Fonseca
Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado
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